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Entrevista: FRED POMPERMAYER


Fred persegue grandes swells há mais de dez anos e já acumulou muitos prêmios, como três no XXL, e diversas capas de revistas.

Por Kevin Assunção

Fred viveu seus primeiros anos longe do mar, na cidade de Piracicaba, no interior de SP. Antes de pegar sua primeira onda, já era fascinado pelo surf, que acompanhava em revistas e reportagens de TV. Depois de se formar em Arquitetura, decidiu ir atrás do sonho de trabalhar com fotografia de surf e se mudou para a Califórnia. Hoje, aos 38 anos, Pompermayer é o fotógrafo de surf brasileiro com maior reconhecimento no exterior, com capas de revistas estrangeiras e três prêmios no XXL.

Por que resolveu se mudar para Los Angeles?

Depois de me formar em arquitetura e trabalhar quase um ano na área, decidi ir atrás do sonho de ser fotógrafo de surf e me mudei para Florianópolis, onde fiquei seis meses. Foi quando percebi que, se realmente quisesse fazer um bom trabalho, teria que ficar mais próximo das melhores ondas. Antes, já tinha passado um ano e meio lá, viajando e fotografando. Então, retornei à Califórnia, decidido a investir na fotografia de surf. Foi uma época de muito aprendizado e descobertas, tanto na área pessoal quanto na profissional. Além de Los Angeles ser uma cidade muito desenvolvida e multicultural, eu me sinto privilegiado por morar aqui. É uma localização estratégica, onde você consegue voos para qualquer parte do mundo com grande facilidade. Isso ajuda bastante quando tenho que sair para viagens de última hora.

Que dificuldades você enfrentou no início da carreira na Califórnia?

O primeiro desafio foi me adaptar a outra cultura e aos obstáculos da profissão. Embarquei em uma jornada rumo ao desconhecido. As barreiras foram inúmeras, como a língua, os costumes, a rotina e as questões econômicas. Mas, apesar de todas as dificuldades, sempre acreditei que poderia atingir meus objetivos. Nos primeiros anos, investi no meu aprendizado e na integração ao meio profissional, até adquirir reconhecimento como fotógrafo de surf e desenvolver um estilo próprio, o que me abriu portas.

Quando começou a desenvolver as próprias caixas estanques?

Iniciei na fotografia na era da película, dos filmes e dos cromos. Quando comprei minha primeira câmera digital, a caixa estanque que usava já não servia mais. Então, por ser um equipamento muito caro, pesquisei materiais e realizei experimentos, até construir minha primeira caixa para uma Canon 1D Mark II. Funcionou muito bem. Depois disso, as possibilidades profissionais ligadas à fotografia aquática para meu trabalho se ampliaram bastante.


De onde surgiu a ideia de criar o flash dentro d’água?

Eu já tinha um bom conhecimento do uso do flash separado da câmera, da forma que se usa no skate, com um ou mais flashes acionados por um sistema de rádio. Construir minhas próprias caixas estanques facilitou muito em desenvolver outros projetos inéditos, como o flash slave na água. Essa técnica consiste em fotografar com ajuda de um auxiliar, que fica com o flash. Na época, esse procedimento era raro e não se encontrava equipamento para vender. Logo no início, percebi que poderia me destacar pela originalidade e obter bons resultados no mercado.

De que forma conquistou seu espaço no mercado americano?

No início, foi muito difícil criar um estilo próprio e alcançar o reconhecimento. Busquei me especializar em algumas áreas da fotografia desse meio, como as ondas grandes. Hoje, depois de inúmeras conquistas – premiação, livros, capas de revistas conceituadas e bons relacionamentos no meio –, já me considero inserido no cenário do surf mundial.

Qual foi sua melhor foto?

É difícil escolher. São tantos momentos inesquecíveis. Mas a foto do Derek Dunfee em Mavericks, Califórnia, marcou minha carreira. Com ela venci a categoria Paddle do XXL 2009 e recebi o prêmio das mãos do legendário Jeff Clark, uma pessoa que sempre admirei mesmo antes de iniciar minha carreira, por ser um dos surfistas de ondas grandes mais respeitados. Naquela noite, senti que estava no topo do mundo. Foi incrível. O XXL é muito importante tanto para o surfista como para o fotógrafo, e é uma grande satisfação ser finalista desse prêmio desde 2006 e ter vencido três vezes.


Foto ganhadora do XXL de 2009. 

Como foi esse swell em Mavericks em 2008?

Foi no dia 29 de novembro. O swell mais perfeito que já presenciei lá. Registrou 17 pés e 25 segundos de período. Em Mavericks, geralmente amanhece nublado e às vezes chove. Mas esse dia foi muito raro, porque o tempo estava limpo e o vento terral soprava logo cedo. Um visual incrível! Bem antes de amanhecer, já tínhamos colocado o jet ski na água. Assim que chegamos ao lineup, as ondas estavam gigantes. Mas o vento terral forte impossibilitava o surf na remada. A sessão de tow-in durou até 8h30. As condições estavam perfeitas e havia muitos surfistas no lineup. Por volta das 11h, uma série gigante escureceu o horizonte. Derek Dunfee estava posicionado. Ao lado, o português João de Macedo não conseguiu entrar na onda. O Derek dropou e pegou a maior onda do ano na remada.

Que método você utiliza para perseguir os grandes swells?

É um processo complexo. Há mais de dez anos venho acompanhando grandes swells e tenho muitos registros e informações técnicas de cada lugar. Mavericks é um exemplo. Já estive presente em inúmeras ondulações, tanto em dias históricos como em condições ruins, impossíveis de surfar. Então já tenho uma boa experiência com as previsões e sei quando vai valer a pena viajar até o local para registrar, apesar de sempre ser arriscado, pois há muitas variáveis para as condições ficarem épicas. Para perseguir as ondas grandes, geralmente é necessário monitorar o swell por uma semana. Então, somente nos últimos dias é possível tomar alguma decisão, o que dificulta uma parceria ou vínculo de exclusividade. Por isso trabalho de forma independente e depois negocio com mídias especializadas do mundo todo.

Qual foi sua viagem mais memorável?

Uma que me marcou muito aconteceu em novembro de 2001. Nessa época, eu ainda não tinha decidido fazer da fotografia a minha profissão. Estava em Los Angeles, monitorando a previsão, porque queria ver de perto uma ondulação grande em Mavericks. Até que surgiu no mapa um mega swell. Dirigi oito horas para chegar a Half Moon Bay pela primeira vez e presenciar um dia inesquecível, considerado o maior da história. No famoso “Big Wednesday”, a bola marcou 42 pés com 22 segundos de período. Dizem que uma série de ondas de 100 pés quebrou nesse dia. Carlos Burle, rebocado pelo Eraldo Gueiros, pegou a maior onda do ano – avaliada em 68 pés – e ganhou o Billabong XXL. Também tive o privilégio de conhecer Jeff Clark pessoalmente e conseguir um livro autografado. Isso ficou na memória e foi um dos fatores que contribuíram muito para minha escolha de ser fotógrafo profissional de surf.

Para você, quais são os maiores avanços na fotografia de surf nos últimos anos e o que precisa melhorar?

A era digital facilitou muito a questão financeira e o acesso a bons equipamentos. Consequentemente, surgem novos fotógrafos de surf todos os dias. Por isso que, para se destacar nessa massa de profissionais, você precisa sempre buscar inovações, novos ângulos e viagens inéditas. O que me fascina são as vantagens da era digital. A rapidez e os avanços tecnológicos podem trazer resultados incríveis! Anos atrás, as fotos necessitavam de algum tempo para ser processadas. Hoje em dia são feitas de forma instantânea. Vemos imagens espalhadas pela internet poucos minutos após a sessão. No entanto, considero que a questão financeira ainda precisa se ajustar. Pela quantidade de fotógrafos no mercado, os profissionais da área encontram cada vez mais dificuldades em ter seu trabalho valorizado financeiramente. Por outro lado, estão cada vez mais criativos e buscando imagens marcantes.

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