Mineiro alcança sua quarta vitórias na elite do surf mundial e iguala a marca do Fabinho Gouveia. Foto: ASP/Kirstin
Por Fábio Gouveia
A vitória de Adriano de Souza em Bells, em abril, foi a primeira de um brasileiro no evento mais tradicional do Circuito Mundial. Foi também a quarta vitória de Mineirinho na 1º divisão, igualando assim o recorde de Fabio Gouveia, até então o competidor brasileiro de mais sucesso no Tour. A HARDCORE organizou uma entrevista entre nossos maiores recordistas e o resultado você confere a seguir.
Fabio Gouveia: Adriano, pensou um dia que venceria em Bells? Estava na lista de seus sonhos?
Adriano de Souza: Com certeza. Esse troféu tem um sabor a mais. Em 2011, quando eu competi e fiquei em 3º lugar, um escritor chamado Michael Gordon fez um livro dos 50 anos de Bells, com toda história e tudo mais. Eu fiquei todo entusiasmado em ter o livro e em saber que Bells já teve 4 campeões que são ídolos meus e fontes de inspiração até hoje: Mick Fanning, Trent Munro, Andy Irons e Silvana Lima. Quando ganhei o livro, a primeira coisa que pensei foi que tinha que pegar a assinatura de todos os campeões que eu tivesse alcance. O Kelly assinou, Mick, Occy, Tom Curren, Carrol, Joel, Barton, Richie, Silvana e outros mais. Achei o máximo ter conseguido as assinaturas dos campeões e quando eu cheguei em casa a primeira coisa que fiz foi colocar o livro ao lado do troféu e pensar comigo mesmo: um dia minha foto vai estar nesse livro.
FG: Qual o adversário mais difícil de se bater alí e porque?
AS: Eu acho que os surfistas mais “perigosos” em Bells são geralmente os que alcançam bons resultados em ondas parecidas. O Mick já foi duas vezes campeão lá, o Jordy surfa bem em J-Bay. Nat Young surfa muito em Santa Cruz. Esses caras que eu citei estiveram no meu caminho e eu sabia da importância de cada um deles. Hoje eu me tornei um cara perigoso em Bells e fico muito honrado por ter atingido esse titulo e respeito.
FG: Quais foram seus trunfos até a vitória?
AS: Olha, no livro eu li um comentário do Joel Parkinson e me fez lembrar a rodada que tive contra o Kohole Andino. Ele disse que se caso o atleta consiga se sentir em casa em Bells, iria ser um grande passo ao sucesso. Após a minha vitória em cima do Andino com duas notas 9, eu me senti em casa, surfando Bells como deveria ser! Aquelas notas elevaram minha confiança e auto estima e tenho certeza que foi um grande passo para erguer o sino.
FG: Alguma estratégia a ser mudada a partir deste resultado?
AS: Não, continua o mesmo, o planejamento para os primeiros 6 meses serão seguidos. Depois irei rever o que realmente daria pra modificar e melhorar os meus resultados.
FG: Acha que já está maduro o suficiente este ano para poder chegar ainda mais na frente? Da pra pensar no título?
AS: Eu acho que o título é uma conseqüência de vários fatores. Eu já havia dito antes de Bells que esse pico era um lugar onde eu precisava mudar algo pra ser campeão. Eu fui lá e fiz! Agora existem dezenas de outros fatores que eu preciso melhorar, não vou negar. Porém estou buscando essa evolução sempre e assim que eu conseguir, daí sim pensarei em um tão sonhando título mundial. Mas vamos passo a passo.
FG: Aproveitando o embalo, o que significou a entrada de Medina no Tour, chegando do jeito que chegou, tendo os resultados que teve? Foi um combustível pra você?
AS: A entrada do Medina no Tour mudou todo o conceito que eu tinha desde quando comecei, em 2006. Eu tinha naquela época o pensamento de respeitar os ídolos, que primeiro teria que me adaptar, depois aprender a surfar as ondas do Tour, depois ganhar respeito e por ai vai… Esse era, a meu ver, o jeito como as coisas funcionavam. Porem após a entrada do Medina, eu revi todos os meus conceitos. Ele me fez ver que todo estreante pode fazer aquilo. Para você ver hoje, mesmo com tão pouca idade, o Medina já entra na etapa como um dos favoritos, e isso é bacana! Mostra que o Brasil ganhou mais um atleta de ponta! Eu fico orgulhoso e torço por ele também. Pra mim foi mais um atleta sinistro que entrou no jogo.
FG: Sente alguma pressão ou compromisso por estar encabeçando a fila tupiniquim?
AS: Não. Eu sei que tive influencia de mostrar o caminho certo, sou amigo deles e torço por eles, mas hoje eles querem me vencer (risos)! Eu sei da importância da minha história no Tour, mas preciso sempre buscar algo novo pra não fica pra trás. Eu espero ser um espelho para todos os jovens como o Kelly é para mim. Esse sim é um espelho para qualquer um. Com a idade que ele tem, não deixar o ritmo cair nunca é o maior incentivo para a minha longevidade.
FG: Qual outro lugar ou evento em especial você gostaria de vencer e porque?
AS: Como já venci um evento de altos tubos em Portugal e considerado o melhor evento de 2011, acredito que se tivesse que escolher um, seria conquistar um título no Pipeline Masters. É uma onda que eu tenho extrema dificuldade, sei o que eu preciso melhorar lá e vou correr atrás desse objetivo.
FG: Por acaso Bells foi o evento mais significativo que já venceu ou Brasil foi mais especial?
AS: São emoções diferentes. As duas vitorias foram muito importantes. Acho que colocaria os dois troféus lado a lado. Bells é Bells, o evento mais antigo do mundo, era um sonho desde pequeno. O evento do Brasil foi um desabafo, sempre fui considerado o melhor surfista do Brasil e nunca havia ganho na minha própria casa. Então a vitória do Rio foi exatamente isso, após 8 anos sofrendo com essa dor, tive a oportunidade de erguer aquele troféu para milhões de brasileiros que estavam assistindo aquele campeonato. Foram emoções únicas.
FG: Existe uma competição sadia entre os brasileiros no Tour?
AS: Existe uma competição super sadia no Tour, são garotos que estão com fome de vitória, querem balançar o circuito de cabeça pra baixo – e estão conseguindo. Eu peguei o fim de uma geração muito boa, você, Neco, Peterson, Renan, etc. Naquela época vocês conquistaram o mundo na marra, sem estrutura nenhuma, vocês foram realmente guerreiros. Hoje as coisas mudaram, as coisas se tornaram muito mais fáceis, devido a tudo que vocês passaram. Eu considero sua geração como os verdadeiros heróis do surf nacional e tenho muito orgulho e respeito por vocês terem conseguido mesmo sem infra. Vocês foram lá e ganharam dos caras! Você é o maior ídolo do Brasil, juntamente com Victor Ribas, um cara que alcançou o lugar mais alto entre os brasileiros. Vocês nunca serão esquecidos (pelo menos por mim), sei cada conquista de cada um de vocês, por isso vocês foram o grande exemplo para essa nova safra tupiniquim.
Valeu Fabinho, foi ótimo falar contigo e vou te dizer: você elevou o surf brasileiro a um nível que sempre sonhei poder atingir! Hoje com certeza sou muito feliz de poder ter alcançado a sua marca. Você fez história no mundo do surf e com certeza me inspirou.