Por Julio Adler
Dois fatos são marcantes nesse domingo tão pleno de emoções.
O primeiro, mais óbvio, é a volta do Mineiro para a liderança do ranking depois de dois anos.
Outro, que pode ter passado despercebido, é que finalmente Jordy venceu fora de casa.
Relembremos os momentos decisivos do último dia do Billabong Rio Pro.
Ondas menores, sol tímido pela manhã, terralzinho e um clássico da ASP: Mineiro x Slater.
Slater parecia estranhamente fora de sintonia com o mar, oposto de ontem na sua bateria da terceira fase.
Uma coisa que talvez o incomode é o fato do Mineiro ter ganho todos últimos quatro confrontos, desde 2011. Slater é o tipo de cara que se apega a esses detalhes.
Mineiro tambem se apega aos detalhes e aproveitou a calorosa torcida para enfiar Slater no bolso ainda mais uma vez – não percam as contas, são cinco vitórias nos últimos cinco encontros.
Medina em seguida fez o que tem sido sua grande marca no circuito. Fez um 10 perfeito, espetacular, e, em seguida, se meteu numa confusão boba com Ace Buchan.
Verdade que a ASP (aqui representada por quem opera a placa de prioridade) tem a responsabilidade, e o dever, de orientar os surfistas sobre a prioridade, mas tudo indica que houve um erro crasso e ninguém admite.
Eis o que aconteceu: Medina tinha acabado de fazer seu 10 e Ace remava numa onda sem tanto potencial. Gabriel, ao perceber que tem a prioridade, rema no que julga ser a sua onda (ele está certo) e entra na onda do Buchan, criando um clima de incerteza na disputa que parecia praticamente resolvida.
Nesse exato momento, a locução sempre tão alerta e serelepe, se cala.
O público fica confuso e mesmo os dois competidores não tem certeza de nada.
Na transmissão em inglês, Luke Egan (que acumula funções no evento de locutor e co-diretor de prova) parece profundamente indignado com a atitude de Medina e se pergunta: por que um cara que tem uma nota 10 iria se meter numa situação dessas?
Eu e a torcida do Medina (que poderia, sem exagero, ser a mesma do Corinthians) fazemos a mesma pergunta.
Fanning bate Sebass.
Jordy derrota minha aposta para vencer o campeonato, Filipe Toledo, e o derrota de forma arrasadora, nos mesmos termos, jogo aéreo – acham que isso seria uma boa tradução para air game?
A torcida enlouquece!
Chega a hora da disputa mais importante de todo o evento.
Uma disputa que mexe com muito mais coisas do que simplesmente pontos no ranking. Envolve supremacia, liderança e a ilusão da predestinação.
Mineiro versus Medina é a bateria do campeonato e a torcida colabora com uma vibração digna de estádio de futebol.
A cada troca de ondas, a cada manobra completada, os gritos são de deixar o mais blasé dos espectadores arrepiado.
Na sala de imprensa, acotovelam-se jornalistas para acompanhar o pingar das notas.
Medina coloca pressão e Mineiro responde com a garra de sempre.
Recebo uma mensagem dum amigo que acompanha a bateria de casa.
"Mineiro é mais raçudo surfista que já existiu!"
Respondo, sem pensar muito: "Sem dúvida!"
Me esforço pra lembrar de alguém que ocupe essa vaga de mais raçudo. Penso em Roberto Valério, Cauli, Rabbit, PT, Damien Hardman, Peterson…
Achei curiosa a reação de quase toda praia ao sair o resultado da última onda do Medina.
Percebam que Mineiro tinha uma pequena vantagem faltando menos de 3 minutos pro fim da bateria. Medina precisava de 7.9 e conseguiu, com muita luta, espremer uma manobra sensacional no último minuto.
Aquilo tinha potencial para um 8… ou não.
O padrasto do Medina deu um pulo da zona reservada aos competidores e saiu em disparada para celebrar a vitória.
Anunciada a nota, 7.8, Mineiro na final e a praia explode.
Grandes expectativas geram ainda maiores decepções.
O papel do pai (ou padrasto) é esse mesmo, de vibrar e se emocionar com o calor do jogo, mas o papel de um técnico, na maioria da vezes, é de analisar com frieza e equilibrar a torcida e o bom senso.
Como deve ser difícil cumprir os dois papéis…
Jordy (Jorge) aniquilou Fanning.
Final
Adriano tem um retrospecto absurdo contra Jorge Smith, 7 x 1 pro brasileiro.
E tem mais: em Bells, Mineiro foi o único que parou Jorge.
Os dois tem algo que assemelha-se a uma rixa, ou admiração, que vem dos tempos que os dois ainda disputavam o Pro Junior – e não foram poucas as vezes que se encontraram.
Jordy achou seu ritmo no Tour e venceu pela primeira vez fora de casa.
Se conseguir continuar relaxado e eficiente nas esquerdas de Fiji e Teahupoo, pode se tornar um candidato fortíssimo ao título.
Nesse exato momento, ninguem é mais perigoso do que Adriano.