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com vocês, ian gouveia

 

Por Fernando Maluf

Ian Gouveia não sabia que sua foto estamparia capas de revista nas bancas do país inteiro quando nos concedeu essa entrevista em Salvador. De bem com a vida, Ian tinha acabado de se garantir entre os três melhores da última etapa Pro Junior da ASP South America.

O pernambucano radicado em Floripa tinha chegado sem muitas esperanças em Salvador, mas algumas vitórias com autoridade durante o campeonato o qualificaram como sério candidato ao título da etapa e a surpresa na lista dos cinco representantes brazucas no World Juniors de Bali.

Depois de assitir vidrado a bateria de sua namorada, Alana Pacelli, Ian trocou uma ideia com a gente.

HC: Já é o terceiro ano seguido você vem correr o QS e o Pro Junior de Salvador. O que te traz sempre pra cá?
Ian: Aqui sempre foi a última etapa do circuito Pro Junior, todos os anos, e é a etapa que vale mais pontos, então é um evento decisivo pra ver quem vai pro mundial e também decide quem vai ser o campeão sul americano.

O título de campeão sul americano é uma coisa pouco comentada no Brasil. Como é a briga por ele entre os surfistas? Qual a importância que vocês dão a esse título?
Com certeza é um título importante! É difícil pra caramba, principalmente na categoria pro junior, você tem todos os melhores do continente disputando. Ano passado eu cheguei muito perto, mas acabou escapando na última etapa, o Filipe (Toledo) venceu o campeonato aqui e virou no ranking no final. Esse ano eu to muito atrás, não tenho mais chances, mas tenho certeza que quem está na frente tá faminto pelo título.

Você tá atrás no ranking mas ainda tem chances de ir pro mundial. Como estão suas expectativas?
Eu perdi a primeira etapa em Imbituba, porque optei por competir no WQS que ia ter em Jeffreys Bay (Billabong Pro, etapa 6 Estrelas), depois eu fui mal nas duas outras etapas, em São Francisco do Sul e Rio de Janeiro, passei só uma bateria no sul e no Rio perdi de cara… ai eu já fiquei sem expectativa nenhuma. Falaram que eu tenho chances mesmo, mas eu prefiro não criar expectativa, se tiver que acontecer, vai acontecer. Eu não ficar pensando em ranking, em vaga, que eu acho que é assim que acontecem as coisas.

Você já compete em várias etapas do WQS também. Como faz pra conciliar as duas carreiras, a de junior e a de pro no WQS? Como você decide o seu calendário?
Esse é meu último ano de pro junior, então eu tenho que correr algumas etapas do QS pra somar uns pontos já e ter seeding pra correr todos os Primes no ano que vem. Por isso que eu escolhi ir pra J-Bay em vez de competir em Imbituba. Eu acabei um pouco prejudicado nessa porque o campeonato lá era 1 Estrela e virou 2 Estrelas na última semana, quando eu já tava na África do Sul. Agora, acabando aqui na Bahia, eu vou direto pra Europa, correr mais três etapas do WQS, Ilhas Canarias, Açores e Pantin, lutar por esses pontos.


Voando durante o Surf Eco Festival 2011, em Salvador. Foto: Fabriciano Junior

Voltando aqui pro Brasil, você lembra quais foram os campeonatos que você participou aqui esse ano?
Esse ano não teve muita competição no Brasil… lógico, teve alguns, mas em outros ano steve muito mais, muito mesmo. O primeiro foi o Prime de Noronha, depois eu competi o trials do 6 Estrelas de Saquarema e agora to competindo esses pro junior. Realmente, foi um ano que cancelaram muitas etapas que iam acontecer aqui no Brasil, foi uma coisa bem ruim pra nós brasileiros. Eram várias etapas em casa, onde a gente tinha muita chance de se dar bem, prejudicou um pouco os surfistas brasileiros em geral.

Tirando as etapas da ASP, o surf brasileiro não teve um circuito nacional esse ano. Qual a importância de um campeonato nacional para os surfistas brasileiros? Como você vê essa situação?
É uma situação triste, com tantos talentos que tem ai, da nova geração e de gerações passadas também… O Brasil tem muitos surfistas bom, e esse circuito brasileiro tinha um nível muito forte. Nessa época que tinha o SuperSurf, que o meu pai foi campeão, que o Renato Galvão foi campeão, era uma época muito boa, o circuito era muito famoso, todo mundo que tava ali queria demais ganhar o título. É uma pena não termos mais isso de ter um título brasileiro, era uma coisa que valia muito mais do que hoje em dia… eu nem sei como vai ser definido o campeão brasileiro desse ano, não to muito por dentro, acho que vai ser pelos rankings estaduais.

E sobre esse campeonato aqui na Bahia, o que você acha? Não só a questão dos pontos e da premiação, mas falando do clima, da galera na praia. É algo diferente dos outros?
É um campeonato muito bom. Vou te falar que nos últimos anos aqui foi o lugar que deu as melhores ondas, no Brasil. A gente sabe que em todos os outros lugares podem rolar altas ondas, mas a gente não deu muita sorte de pegar um mar bom mesmo. Aqui na Bahia o campeonato todos anos proporciona onda muito boa, a gente sempre vê vários high scores nas baterias. Fora isso têm a água quente, a galera local que é muito gente boa… é um campeonato bem legal.

Você é junior ainda, mas tá competindo com vários caras muito mais novos que você, como o Victor Bernardo, o Deivid Silva. Como você vê essa novíssima geração? De quem podemos esperar mais estrago vindo ai?
Além do Vitinho e do Deivid, tem o Yago Dora, que se destacou esse ano. Tem muita gente que não conhece ainda, mas em breve vai conhecer bem. Também tem o Gabriel André, que eu conheci nesse campeonato. Ele caiu numa bateria comigo e quebrou, tem muito talento. O Brasil tá sinistro, tem muitos talentos ai pra serem descobertos.

E qual você acha que é o caminho pra esses novos talentos ganharem destaque, ganharem espaço no surf?
A palavra chave é dedicação. Qualquer pessoa que quiser chegar em qualquer lugar precisa ter muita dedicação. Tem muito surfista brasileiro que o pai não sabe nem nadar, de família simples, mas tem um talento enorme, muita garra e dedicação e no final consegue chegar lá.


Passando por cima do expresso gelado de J-Bay durante o Billabong Pro. Foto: ASP/Cestari

Você acha que o modo como é organizado o esporte poderia ser feito de um jeito que favorece mais os novos talentos, que pudesse dar mais destaque? Você acha possível o surf ser mais reconhecido ainda?
Eu acho que o surf tá ficando cada vez mais reconhecido… eu não penso muito nisso pra falar a verdade, surf na grande mídia e tal. Mas acho que o surf ta crescendo e ganhando cada vez mais reconhecimento. Não vai chegar a ser um futebol, mas quando tivermos o primeiro campeão mundial brasileiro acho que a coisa vai mudar muito. Essa geração da Brazilian Storm já tá mudando isso, eles tão fazendo muito barulho lá fora e logo logo vai estourar na mídia aqui também.

Houve uma profissionalização do esporte nas últimas décadas, o surfista profissional hoje em dia é um atleta. Você sente essa diferença quando compara a sua geração com os surfistas mais velhos?
Hoje em dia o esporte tá uma coisa muito mais competitiva, muito mais séria que antes. A galera tá tendo muito mais foco, muito mais preparo e dedicação. E a galera tá com muita vontade, muita fome de vitória. Hoje em dia, para se dar bem, tem que ter muito foco. Se você quer ganhar mesmo, não dá pra brincar muito, porque quem tá ali competindo com você não vai estar brincando.

 

* Ian Gouveia terminou a etapa Pro Junior do Surf Eco Festival na segunda colocação, após levar uma combinação de 19.23 pontos de Deivid Silva que também tirou sua vaga no mundial junior. A reação dele ao sair da água? Massacrar uma marolinha até a beira no seu estilo mais divertido possível, como nesse vídeo, e um sorrisão no rosto.

Pô, o Deivid surfou demais, vocês viram?
– Vi sim Ian. Irado. Mas e ai, tudo certo? Pena que não deu hein.
– Ah, mas não tem problema… O Deivid mereceu!

 

 

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