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Rainbow de Janeiro

 

Gold Coast tomada. Brasileiras torcendo para Adriano de Souza na final do Quiksilver Pro.
Gold Coast tomada! Brasileiras torcendo para Adriano de Souza na final do Quiksilver Pro. 
 

Por Fernando Gueiros

A final disputada por Adriano de Souza, o Mineirinho, em Snapper Rocks, na Austrália, contra o local Taj Burrow, durante a primeira etapa do Circuito Mundial de surf, foi marcante não apenas por seu resultado, mas também pela massa de brasileiros que estava torcendo nas areias da praia de Rainbow Bay.

A região, que é parte da Gold Coast australiana, atrai brasileiros por causa de oportunidades de trabalho, intercâmbio para aprender inglês, qualidade de vida e, obviamente, surf. Nas areias durante a final do evento, diversas bandeiras brasileiras eram vistas e virou assunto entre os locutores. A cada manobra que Mineirinho acertava, uma avalanche de gritos era ouvida: “Será que temos mais brasileiros que australianos na areia?”, perguntava Sean Doherty, editor da revista australiana Tracks e colaborador da HARDCORE.

A reação australiana só veio depois que Taj Burrow virou o placar com uma nota 9,43. Com a praia em polvorosa, o repórter que estava na areia encheu a boca: “Agora vimos quem realmente está mandando na praia”.

O excesso de brasileiros em Rainbow Bay não é novidade, tanto que a região é chamada pelos locais de “Rainbow de Janeiro”, em “homenagem” à comunidade criada por cariocas na baía. O site Surfline também notou a “invasão”: “Em um dia com muitas carnes latinas, a multidão brasileira na areia não foi suficiente para a vitória de Adriano de Souza”.

Fica a pergunta: o surf não pode ter torcida de “time visitante”? Por que para os australianos foi tão problemático aturar o barulho dos brasileiros na areia? É um problema relacionado a políticas governamentais (de ambos os países) ou ao pequeno espaço para disputar ondas?

Picos como Snapper podem ser surfados por brasileiros no Peru ou no Chile, mas nem todos “invadem” esses lugares por problemas que extrapolam a qualidade das ondas. Invasões de brasileiros aconteceram em cidades que possibilitavam o intercâmbio e um crescimento profissional ou pessoal no mercado de trabalho, como em San Diego, nos EUA, nos anos 1990, e, desde 2000, na Gold Coast. Estudar inglês, se divertir e surfar é o lema de muitos jovens que buscam intercâmbio na faixa dos 20 anos.

E nada impede que, com um Brasil potencialmente mais rico, o inverso aconteça nas próximas décadas. O Brasil pode receber festas de peruanos, chilenos ou mesmo australianos em plena areia carioca, por exemplo. Se eles tiverem para quem torcer, terão todo direito de fazer seu barulho. A praia é um espaço público e jamais devemos condenar qualquer manifestação pacífica realizada nela.

Para o surf de competição, o barulho do adversário precisa existir. Ter uma torcida que pressiona juízes ou desconsidera a credibilidade do campeonato ao ver atletas locais caírem atrasa (e muito) o sistema de disputas da ASP. Se o visitante torcer e não se meter a “dono do pico”, não existe problema. Agora, fazer um campeonato pensando que só locais vão torcer é um erro assustador e preocupante para o mercado do surf.

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