Por Julio Adler
Se no último diário a pergunta que fazíamos no final do texto era quando sairia a bendita nota 10, nessa quinta feira, terceiro dia do Hang Loose Pro 2012, o 10 perdeu o pudor.
Curioso é notar que tivemos três notas 10 e dois deles foram para dois surfistas que não tem patrocínio, Raoni e Bernardo Pigmeu.
E as histórias que cercam essas notas espetaculares são tão interessantes quanto as ondas surfadas.
Vejam Bernardo, que depois de 17 anos surfando pelo Hang Loose foi dispensado e parece determinado a vencer aqui em Noronha.
Pigmeu trouxe um quiver de pranchas dum shaper local da praia do Francês, já quebrou duas pranchas competindo e tem dominado suas baterias com maestria.
Alfio, observando atentamente tudo lá de cima do palanque, já percebeu que Pigmeu tem sangue nos olhos pra ganhar esse evento e comentou mais de uma vez, esse sacana surfa muito, vai acabar ganhando esse campeonato, disse Alfio.
Inevitável não lembrar do que aconteceu em 2005, quando um recém dispensado Neco Padaratz venceu aqui em Noronha começando sua alucinada volta ao WCT.
Bernardo não surfou apenas a primeira nota 10 do Hang Loose Pro, ele ainda fez um 9.30 pra acompanhar e detem agora a maior pontuação combinada de todo evento. Em segundo lugar nessa mesma bateria, o havaiano Sebastian Zietz completamente tomado e fazendo uma bateria melhor do que a outra. Zietz tá com pinta de que vai causar um estrago no circuito de acesso desse ano.
Raoni Monteiro é um homem feliz, ninguém passou tantas baterias aqui no Hang Loose Pro de Noronha quanto ele. Nos últimos 4 anos, Raoni fez três finais e provavelmente só não chegou na final do ano passado porque escolheu ir para Australia mais cedo e não competiu em Noronha.
Sem patrocínio, Raoni trouxe a família e passa o dia na praia brincando com sua filha, assitindo as baterias ao lado da esposa e tem feito, como sempre, disputas impecáveis nas condições mais difíceis do dia – foi até responsável pela decisão da direção da prova de terminar a segunda fase em plena maré vazia, depois de surfar seguidamente três excelentes tubos.
Surfando com uma prancha que parece grudada nos pés, Raoni despencou numa bomba impossível, ajeitou sua linha e deixou a placa cair sem dó nem piedade uns 20 metros na sua frente, aparecendo triunfal quando todos apostavam que ele jamais sairia do tubo – mais um 10 perfeito.
A Cacimba é uma onda manhosa, difícil, muda muito em questão de minutos e pouca gente consegue manter o mesmo ritmo em todas as disputas. Nesse ano, Bruno Rodrigues, Gabriel Medina, Ricardo Santos, Pig, Zietz, Raoni e Mason Ho tem chamado a onda de querida, tamanha intimidade.
Mason Ho foi outro que fez ontem uma bateria espetacular na maré vazia pela manhã e à tarde foi responsável por talvez a mais incrível das três notas 10.
Numa das maiores séries do dia, Ho escolheu uma linha absurda pra tentar varar uma esquerda que aparentava impossível de passar.
Mason não apenas passou a onda inteira por dentro como ainda deu um floater no final, a cereja no bolo.
De tão feliz que estava, Mason comparou Noronha ao Havaí, declarou seu amor pelo lugar, destacou as cores inacreditáveis da ilha e avançou direto pras oitavas.
Mason Ho buscou as profundezas de cada tubo surfado e ganhou um 10 como recompensa. Foto: Daniel Smorigo.
Ninguém perde, o público ganha
Depois da tradicional paradinha do evento na maré vazia, o Hang Loose Pro voltou um pouco antes das duas da tarde em condições simplesmente formidáveis.
Possivelmente o melhor dia dos 12 anos de história do evento em Noronha.
Não me recordo de outro dia aqui com três notas 10. Era o momento perfeito para as baterias de três onde ninguém perdia. As séries já passavam dos 6 pés e as cores, como Mason Ho percebeu, estavam absolutamente lindas. Foi uma tarde memorável. Que o digam Pigmeu, Raoni e Mason.
Que venha agora o Homem a Homem e mais uma penca de 10.
Épico. Jeronimo Vargas, Cacimba do Padre. Foto: Daniel Smorigo.
Medina, surfando com intimidade na Cacimba. Foto: Daniel Smorigo.