Ibelli, surfando como um campeão. Foto: ASP/Kirstin
Por Julio Adler
Desde suas primeiras ondas surfadas no evento de Burleigh, já dava pra perceber a confiança do Caio Ibelli no título.
O ataque brutal na junção duma onda na sua bateria contra o campeão do evento na terceira fase foi ridiculamente mal julgada – e não sou eu quem diz, são os próprios números.
Senão, vejamos, a nota final foi um mero 7.23, mas os juízes variaram de 7 até 8 – e um ponto é coisa pacas quando falamos de baterias que são resolvidas por décimos, quando não centésimos.
O Billabong Pro Junior é dos campeonatos mais empolgantes e interessantes de todo calendário da ASP.
Ali estão os futuros Fannings (Parkes e Freestone), Tajs (Filipinho, Creed), Parkos (Conner, Doheny, Staples, Carmichael), Mineiros (Ibelli, Banting), Sacas (Vasquinho, nem só por ser conterrâneo, mas pela postura), Wilkos e Owens (Medi, Ian, Bowen) e ainda outros possíveis Slaters como Jack Robinson, menino de 14 anos que já foi responsável por uma das disputas mais selvagens da história da indústria do surfe australiano, antes mesmo de completar 13 anos!
Burleigh Heads, onda fetiche dos anos 70/80 chega aos anos 10 do século 21 no mesmo lugar que estava na aurora do surfe profissional, exatamente no centro.
A antecipação dos duelos era muito semelhante ao que se especulava há 30 ou 40 anos atrás, conseguirá MP bater MR, Curren vence Carroll?
Com a fantástica máquina de propaganda empurrando essa turminha da pesada que mal saiu da adolescência, entusiastas do surfe profissional já preparam pipoca e café para passar a noite em claro assistindo Ibelli x Parkes, Gouveia x Coffin, Toledo x Freestone.
Felipe Toledo foi o nome do evento até perder numa bateria que poderia ter sido sua, caso a sorte estivesse ao seu lado contra o havaiano Nathan Carvalho. A diferença da velocidade, improviso e verticalidade do Felipe para quase todo resto é gritante.
Wade Carmichael foi o típico batalhador australiano, classificou-se nas triagens locais, fez baterias descomplicadas, com a calma de quem não tinha muito a perder e foi indo…indo…e arrastou uma final resolvida nos minutos finais – assim como as outras duas.
A Negra
Se a memória não me falha, é a primeira vez que um título é resolvido numa bateria ao estilo play off, ou como resolveram chamar, surf off.
Até dias antes de começar o campeonato, Dave Cathels liderava o ranking, Ibeli em segundo (na verdade empatado) e Garret Parkes em terceiro.
Cathels se machucou e nem pode competir pra defender-se, Ibelli imediatamente tornou-se o centro das atenções, principal favorito ao título.
Quando Ibelli surpreendentemente perdeu, uma centena de possibilidades se abriram. Qualquer um nos Top 10 poderia ganhar o título, caso as estrelas conspirassem a favor, diziam os animadíssimos locutores – tenho cá minhas dúvidas…
Não podemos reclamar desta vez do julgamento tendencioso, Garret Pakes perdeu na frente da sua torcida, nos últimos segundos, para Filipe Toledo, numa das inúmeras viradas espetaculares do evento.
Na negra pra decidir finalmente o campeão do ranking, Ibelli também contou com um julgamento justo e honesto quando, também nos últimos minutos, Garret Parkes surfou uma onda e celebrou como se tivesse definitivamente levado o caneco.
Estando em casa, era natural que os juízes dessem logo o título pro loirinho e tudo acabasse em festa.
A verdade é que Parkes nunca foi o surfista letal que pode ser, talvez por nervosismo (exatamente pelo fato de estar na frente da sua torcida) e Ibelli foi desde o início um surfista disposto a tudo para honrar seu título.
Caio Ibelli é mais um surfista que sai da escola Oakley de competir, muito determinado, bem preparado, versátil, focado.
Pinga deve ter comemorado muito, silenciosamente, ao seu jeito.
Reza a lenda que Caio nem sabia que ainda tinha chances de ganhar o título e foi o chefe de equipe da Oakley australiana que foi lá no quarto dele chama-lo para a bateria que lhe daria o título final.
Não podia ser melhor.
Pensando bem, podia sim: a namorada do Caio, a havaiana Alessa Quizon ganhou o evento feminino e ainda deu de bandeja o titulo do ranking final para a amiga Leila Hurst.
A festa foi completa.
Leila Hurst e Caio Ibelli, os melhores juniores de 2011. Foto: ASP/Kirstin.
O melhor do Pro Junior
O domínio brasileiro liderado por Ibelli e Toledo. Gouveia chegando junto. Crisanto brilhante na primeira fase. Lucas Silveira, a versão brasileira do Jack Robinson, sem a devida atenção que a imprensa deveria dar a ele.
A desmistificação dos ícones estrangeiros.
Retorno de Burleigh ao palco principal do surfe profissional, mesmo que tenha sido apenas para a categoria Junior. Dean Bowen mostrou que não é somente um bombeiro capaz de dropar qualquer coisa que se mova no oceano como também sabe surfar, e bem, nas marolas.
Freestone cresce a cada aparição que faz em público, descontando a constrangedora atuação no Pipe Masters de 2011 (quando a vaga deveria ter sido do Ricardinho), a nova sensação aussie não deve encontrar dificuldades para entrar no WT em 2013.
O que vem aí…
Próxima parada, Fernando de Noronha para o primeiro Prime de 2012, Hang Loose Pro Contest. Estou curioso pra ver se a nova geração vai continuar dominando, como fez Alejo em 2011.