Por Julio Adler / Foto Bruno Lemos
Hora do lanche, hora tão feliz
Estamos de partida, foram 25 dias numa casa de sonho.
As despedidas sempre são dolorosas, sentar para escrever nunca mais será a mesma coisa, a não ser que voltemos no próximo ano.
A casa da Hardcore é vizinha a da Surfline, pertíssimo da casa onde a cúpula da ASP se hospeda e perigosamente próxima ao QG do Fast Eddie.
Recebemos visitas ilustres e de absolutos desconhecidos.
Noites foram gastas com filmes de surfe antigos copiados ilegalmente e assistindo repetidamente Ridiculousness (http://www.mtv.com/shows/ridiculousness/series.jhtml).
Provavelmente consumidas mais de 12 caixas de Coronas, de 8 a 10 vidros de salsa mexicana, Nachos, o soberbo Sun Chips de cebola chovia sem parar, poke em baldes do Kahuku Superette, latinhas de sucos de laranja com maracujá e goiaba, copos e mais copos de caramel macchiato do Starbucks e, para meu mais supremo deleite, sorvete Chunky Monkey do Ben & Jerry’s.
Uma verdadeira viagem da baixa gastronomia havaiana.
Não fará falta.
Varanda
Duro mesmo é não ter mais ondas na varanda. Nem a churrasqueira sem carvão.
Sentirei imensa falta dos ouriços aqui da nossa praiazinha particular.
Não teremos mais ninguém vindo aqui para nos alertar que se filmarmos ou tirar fotos da onda secreta, o pau vai comer.
Nessa mesma varanda, admiramos uma quantidade de crepúsculos (a expressão tá na moda, né?) impressionante pela plasticidade.
A cada fim do dia, Corona na mão, refletimos sobre as coisas mais simples da vida, uma topada na pedra ao entrar no mar, o preço da parafina (US$ 1.00 na Surf’n Sea!), Santos ou Barcelona e os cambitinhos da Allanah.
Pipeline
Olha, tem gente na grande rede apelando e afirmando que este foi o maior Pipe Masters da história.
Desconfio demais dessas manifestações desmemoriadas e imediatistas.
Lembro, com deslumbre, do Pipe Masters (1984?) que quase destruiu o crânio do Steve Massfeler e levou o Chris Lundy desta pra melhor.
Tom Carroll reinou em Pipe e, em 1991, mostrou ao mundo que não havia ninguém em condições de desafiá-lo.
Na onda mais espetacular da história do Pipe Master, Carroll e Derek Ho disputavam pra ver quem ficava mais pra dentro do pico quando uma série de mais de 10 pés subiu quase em Off The Wall.
A imprensa, tão ciosa em idolatrar os havaianos, insistia em apontar Ho como eterno favorito na sua onda predileta.
Carroll ignorava os fatos.
Na onda que subiu quase em OTW, remavam os dois enlouquecidos para passar a bomba que já se apresentava vertical, quando subitamente Carroll virou sua prancha e arremessou-se de cima da besta.
Firme como uma estaca fincada no chão, Carroll completou o drope e virou para um glorioso tubo.
Em menos de um minuto, Derek Ho passou de rei a súdito diante dum Carroll disposto a dar a vida pelo terceiro titulo em Pipe.
Em 2011, John Florence foi vítima de mais um dos truques de cartola do maior surfista de sempre.
Como em 1985 com Ronnie Burns e Occy.
Ronnie Burns era em 85 o que John Florence é hoje, o príncipe do North Shore.
Ninguém surfava condições pesadas como ele, backside ou frontside.
Burns fazia finais seguidas quando as ondas passavam de 10 pés, fosse Sunset ou Pipe.
Num mar gigante que lembrava demais o primeiro dia do Masters desse ano, Burns avançou até a final quando encontrou um menino assustado com as morras que explodiam na bancada de coral.
Occy, 19 anos, nem se arriscou nas maiores e ficou a bateria inteira tentando sobreviver nas menores, enquanto Ronnie Burns esperava pela rainha no segundo reef.
A rainha nunca veio e Occy venceu seu primeiro Pipe Masters.
Ou que tal a fabulosa história da final com 7 homens no Pipe Masters de 1981?
Encurtando, Buttons ainda era fera braba e perdeu na semifinal, quando houve um certo, digamos, desconforto entre a comissão técnica e os locais.
O conselho dos black trunks decidiu que o resultado não foi justo e exigiram a presença do Buttons na final – daí 7 malandros na final, ao invés de 6.
Mais curioso ainda é constatar que Buttons ficou em quinto na semi. Simon Anderson venceu aquela final com uma bizarra triquilha. Coisas da vida, minha nêga.
Adeus
Hora de nos despedir desse pedaço de lava no meio do Pacífico e jurar de pés juntos que para o ano que vem teremos mais.
Havaí é lindo, mas nossos corações ficam estacionados em casa entre os familiares e as pessoas que realmente importam.
Vivemos uma breve fantasia, duma casa a beira do mar, uma vida sem tantos compromissos e todo tempo do mundo para surfar. Não vejo a hora de chegar em casa.
Opa! Vejo agora uma série em Sunset quebrando sozinha…
Será que temos mais uma hora…?