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Diário Habaiano 9

 


Carregado pelos compatriotas, Kieren Perrow leva a bandeira australiana ao topo de Pipeline.

Por Julio Adler / Fotos Rafael Calsinski

Kieren Perrow era ontem apenas um homem tentando sobreviver nos Top 32 e hoje sagrou-se um Pipe Master, o título mais cobiçado do surfe profissional.

Ainda no segundo dia do evento, Perrow surfou a onda mais tecnicamente bem surfada de todo Billabong Pipeline Master em Homenagem ao Andy Irons.
Para salvar sua pele, KP fez uma das ondas mais impressionantes da história do Pipe Masters, um drope despencando, acompanhado duma cavada ridiculamente arriscada e precisa para um tubo que só não foi nota 10 porque John Florence tinha elevado demais o parâmetro.  


Perrow, entubando a caminho da consagração.

Esperamos com ansiedade o último dia do Pipe Masters porque o último dia sempre guarda os momentos mais emocionantes desde sempre.
A manobra da década de 90 foi executada no último dia, quando Carroll precisava mostrar que era infinitamente superior a Derek Ho.
Slater tambem sempre guardou seus desempenhos inesquecíveis para as quartas, semis e finais.
Foi no útimo dia que Michael Ho venceu com braço quebrado um Pipe Masters e foi também da mesma forma que Simon Anderson ganhou o seu – sem o braço quebrado, mas com uma prancha de três quilhas, o que soava ainda mais estranho em 1981.  

Depois de dois dias que fizeram os historiadores resgatarem os eventos de 1981, 1986 e 1995 para usar como referência de ondas grandes e perigosas em Pipe, na manhã de sábado o mar amanheceu triste e mal humorado.
Triste, porque as ondas já não tinham mais a ferocidade dos dois dias anteriores e mal humorado pelo vento que soprava furioso de outra direção – de lado.
Não era o tipo de conclusão que esperávamos para esse Pipe Masters, mas era isso que a previsão acusava.

A primeira vítima do mar foi Jamie O’Brien.
Jamie sempre teve certeza que seria uma vez mais o homem a desafiar Slater, esqueceu-se apenas de derrotar Parko no caminho para glória.
Parko passa pela sua melhor fase física de sempre, seco, bem preparado, forte, focado…
Um homem com a missão de se provar a cada disputa.
Jamie passa por fase parecida, bem mais magro e determinado a vencer uma vez mais na frente da sua casa.
O problema é que Pipe não é a besta que acompanhamos nos últimos dois dias.
Pipe hoje é quase um beach break como Peniche ou Duranbah, com mais força e ainda mais imprevisível.
Parko bate Jamie com duas ondas pequenas surfadas debaixo da prioridade do oponente.
Um 6.5 e um 5.5 foram suficientes para dobrar O’Brien, uma lição de humildade ao fanfarrão dos fanfarrões.  


Joel Parkinson, surfando com determinação para desbancar Jamie O’Brien.


Jamie O’Brien mais um vez mostrou profundo conhecimento do pico – insuficiente para bater Parko, no entanto.

Logo após foi a vez de John Florence destruir de vez com a reputação do Slater.
Era a hora dos locais mostrarem quem manda na rainha das ondas do Havaí, Florence não seria capaz de perder para ser vivo nesse planeta – se não fosse pelo eterno extraordinário, Kelly Slater.  

Slater estava derrotado, humilhado, precisando duma combinação de duas ondas para virar o resultado, poucos minutos para terminar a bateria, como contra Timmy Reyes em 2008.
Peter Wilson, fotógrafo veterano que acompanha o tour desde os anos 80, está ao meu lado e diz, ninguém tem mais tempo em Pipe nessas difíceis condições do que John Florence.
Faltam três minutos e vinte segundos quando Slater reage – um 9.7.
O maior competidor de todos tempos precisa agora de um 7.01 e John Florence tem a prioridade…
Tudo que JF precisa fazer é segurar a prioridade e deixar o tempo passar.
Faltando menos de um minuto, Florence dropa uma onda que não fará a menor diferença na sua pontuação.
Alguém tinha que ter avisado ao rapaz que nunca se deixa o campeão sozinho lá fora com a prioridade.
Antes da contagem regressiva, Slater mete pra dentro dum tubo e faz o que vem fazendo nos últimos 20 anos, vence a bateria.


Dominar Pipeline é há alguns anos o passatempo favorito de John Florence…


… enquanto o de Kelly Slater continua sendo vencer baterias. Em qualquer pico do mundo, incluindo Pipe.

Viro para o Peter e digo, Florence pode ter mais tempo na água que Slater mas ninguém tem mais tempo em baterias decisivas em Pipe do que o Careca.
Deu no que deu.
Em alguns minutos, Slater conseguiu reverter toda atenção de volta para si mesmo, mostrando que, talvez, ainda não seja a hora de parar.  

Com Florence fora da briga, era hora de Michel Bourez tentar arrancar o título da Tríplice Coroa do John F.
Tudo que Borez precisava era chegar na final.
Passar por Evan Valiere não foi muito dificil numa bateria sem uma única onda acima de 5.
O problema era bater Kieren Perrow na semi, vice campeão de 2010 e ávido pelo caneco em 2011.  

KP tinha acabado de tirar Medina do evento numa bateria eletrizante.
Chegar até as quartas de final já era o feito mais impressionante de toda nova geração, tirando Florence, nascido e criado ali.
Medina caiu de pé, trocando golpes com Kieren e mostrando não apenas competitividade, como somos conhecidos, mas alguma classe e determinação digna dos grandes campeões.  

Nas semis, a mágica do Slater acabou diante da insistência do Parko e KP deu o título da Tríplice Coroa ao John Florence quando derrotou Bourez com uma nota 10 e uma nota 2.
De repente, tínhamos dois australianos na final pela segunda vez na temporada, dois sujeitos que já chegaram antes na final de Pipe e nunca venceram.
Parko chegou acidentalmente até a final, enquanto Kieren foi contundente desde sua primeira apresentação.
Em todas baterias Kieren fez notas excelentes, ao contrário do Parko, que chegou até a final passando com scores baixos e inexpressivos.
A final foi toda de Kieren, um surfista que passa todo ano quieto apanhando, esperando pela chance de mostrar ao meninos quem manda em ondas de verdade.

O ano termina com o Brasil pela primeira vez na história do surfe profissional com mais vitórias do que americanos e australianos.
Uma nova era inicia-se e a ultima fronteira é Pipeline.
2012 será um ano de afirmação.

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