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sexta-feira, 26 julho, 2024
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Diário de Trestles

Alejo Muniz. Foto ASP.


Por Julio Adler

Escondido num canto duma casa de festas, acompanhei as quatro primeiras baterias do Hurley Pro em Trestles.
Como dizia a propaganda, não basta ser Pai, tem que participar.
A duvida ainda incluía o jogo do Flamengo e Botafogo, exatamente no mesmo horário.
Não foi preciso muito esforço pra escolher o pula-pula e a rodada do Brasileirão, enquanto a primeira fase entrava na água em Trestles num mar de meio metro, sem graça e, pra piorar, com os próprios surfistas parecendo desinteressados num desempenho digno do WT.
Não ajudou ver quase todo mundo perder, Jadson, Heitor, Alejo, Pupo, Medina e Raoni, normalmente favoritos em rampinhas como Trestles.
Salvo Mineiro que deu uma aula ao novato Medina e Julian Wilson, nem Slater, Parko, Taj ou Fanning se salvaram no primeiro dia. Nessa segunda metade do ano é como o segundo tempo duma partida de futebol, alguns mantém a mesma estratégia, outros alteram completamente a tática para atacar, ou defender, o jogo.
Passado o susto do corte, a turma de baixo precisa reagir e respirar enquanto a tropa de elite ajusta detalhes para disputar o título.

Nova Iorque, meu Havaí
Quando achamos que nada podia ser ainda mais desanimador do que o primeiro dia, bum! Ondas medíocres e mexidas, algo que faria as ondas de Nova Iorque durante o Quik Pro parecer um certo arquipélago famoso pelos gentis locais. Mesmo assim o surfe se apresenta como um esporte fascinante pelo fator humano na disputas.
Vejam por exemplo Alejo x John John Florence. Alejo era a grande sensação do circuito até dois meses atrás, quinto na primeira etapa, quinto em J. Bay e uma grande atuação no campeonato mais espetacular dos últimos anos.
Em apenas quatro meses, Alejo bateu Taj, Parko, Owen, Mineiro… Uma lista invejável para qualquer estreante no Tour e agora, John John, ainda mais novo e celebrado, lhe aplica uma surra humilhante.
A insuportável dor da derrota o atingiu de tal maneira que Muniz esqueceu até do que é capaz – saiu da bateria faltando quase três minutos para terminar.
Explico, Alejo é desses surfistas que pode fazer duas notas nove se motivado do jeito certo. O problema é a pressão que vem de dentro. O primeiro ano é determinante para o competidor aprender a lidar com os diversos tipos de pressão.
Temos a pressão que vem de cima, patrocinadores, pais, figuras paternas (ou maternas) e a pressão que sobe, torcida, fãs, jornalistas, baba-ovos e ainda a sempre presente cobrança que trazemos dentro do nós.
Cada um dos grandes competidores tem um alter ego, que os espeta a cada erro, cada falha, cada vacilo… Fala, é isso que você veio fazer aqui? Esse é o seu melhor?
Você não passa de um blefe! Grita a voz que nos enlouquece na cabeça, como os diabinhos que aparecem em momentos de dúvida nos desenhos animados.

Existe um limite ao escutar essas provocações e essa linha tênue pode levar a loucura, como aconteceu com Michael Peterson que virou um esquizofrênico.
Alejo está livre disso porque oriundo duma estrutura familiar sólida e com amigos de pé no chão, como seu treinador Paulo Kid e turma.
Conner Coffin venceu sua bateria contra Ace Buchan, mas penalizado pelo fato de ser um mero convidado sem grandes interesses no circuito como um todo – por enquanto. A ASP tem como hábito descartar jovens talentos diante de surfistas mais bem estabelecidos.
Eventualmente temos a exceção para justificar a regra.
Nada de consciente, acreditem, apenas praxe do Tour.
Medina apenas treinou contra Travis Logie e Raoni ainda precisa achar seu melhor surfe – e sorte – em ondas ordinárias.
Esse evento parece na medida certa para Heitor e Jadson.
Heitor conseguiu vencer Miguel Pupo por muito pouco, talvez por um erro de avaliação na comparação das duas ondas de backside dos dois. Miguel era um dos meus favoritos num mar daqueles e só o fato do Heitor ter o superado já basta para construir ainda mais sua confiança daqui pra frente.
O caso do Jadson foi outro. Jadson moeu o queridinho Dusty Payne.
Lost Atlas foi pra cucuia.
A previsão é de ondas ligeiramente melhores nos próximos dias e fim de evento.
Espero que o Virtua não me deixe na mão…

Confira as baterias do round 3 ao vivo: http://www.hurley.com/hurleypro/live.cfm

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