Por Eduardo Stryjer Madrugada. Início de dezembro. North Shore às escuras, horas antes das disputas do primeiro round do Pipeline Masters. No carro, em frente a Rockpiles, eu, o fotógrafo Rafael Calsinski, o videomaker Pablo Aguiar, os atletas Ian Gouveia, Sidney Guimarães e Jessé Mendes. Combinamos no dia anterior de pular da cama o mais cedo possível para tentar produzir um material antes que os Tops da elite entrassem na água com suas lycras de competição. O circo ainda não estava lá, mas com muito esforço conseguimos avistar umas 12 cabeças que já faziam o crowd nas almejadas direitas de Backdoor e Off The Wall. A previsão era animadora depois de uma semana força barra – sim, acredite, no Hawaii também tem marola. Porém, tudo indicava que o dia seria clássico, swell com tamanho, pitada de oeste e período espaçado. Ao descer do carro, no apertado estacionamento de Rockpiles, demos de cara com o baixinho atarracado e bicampeão mundial, Tom Carroll. O aussie estava com sua câmera 7D pendurada no peito, à espera de um raio de luz para fazer seu primeiro registro do dia. Logo atrás, na Kamehameha Highway, Rob Machado passava com sua magrela, tentando equilibrar-se com uma caixa considerável de papelão no colo. Depois fiquei matutando que diabos o californiano carregava. Pelo cuidado, o objeto deveria ser valioso. O bicho nem checou as condições do mar. Seguiu batido tamanha a concentração no pedal. Neste momento, Carroll não estava mais. Jessé olhou para a ainda calma Rockpiles e disse: esse tubo é ilusão, parece que roda, mas a onda é difícil, te esmaga feio. Os ponteiros andavam e as ondas cresciam como um bolo fermentado em forno quente. A ondulação esperada veio mais de norte e isso deu uma baita moral para a vizinha de Pipeline. Enquanto as baterias da etapa de encerramento do World Tour rolavam em tubos de até 5 pés, Rockpiles beirava os 10, com esquerdas que surgiam sem parar. A onda ali é intensa, imprevisível, como os dedilhados do sensei da guitarra elétrica, Jimi Hendrix. As lavas vulcânicas expostas na beira dágua intimidam, e a famosa corrente costuma ser um baita vilão para os mais atirados. Na areia, o lema era fritar o peixe (Pipeline) e olhar o gato (Rockpiles). A visão na diagonal de quem estava próximo às casas da Volcom era surreal. Neste dia, a rainha do North Shore ficou em segundo plano. Munido de uma gunzeira amarelada, Carroll dava aula de linha clássica. Cavadas na medida, seguidas de curvas fortes e precisas. Nos anos 90, era ali que ele se preparava para os duelos do Pipeline Masters venceu três vezes, as duas últimas em 90 e 91. Dos brasileiros, minha memória sinaliza o tubo do sempre tomado Stephan Fun Figueiredo e as patadas de frontside do empenhado Ricardinho dos Santos. Caras como Mick Fanning, Reef McIntosh, Lucas Silveira, Danilo Couto, Marco Giorgi e Garrett McNamara (de SUP) também tiveram seus momentos na bancada com mais feeling havaiano até a virada de 2010. Se me perguntarem qual o hit desta temporada, digo sem pestanejar que foi Rockpiles, uma onda brutal e sensual como uma tal de Foxy Lady.
Rockpiles, temporada 2010/11. http://www.youtube.com/watch?v=HIUraWlrqfo