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sexta-feira, 19 abril, 2024
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inverno do shrimp

Por Steven Allain Ele virou-se e viu uma figura sentada nas pedras, quase escondida. Era Tom Curren. “Que onda você pegou em Pipe, hein?” “Thanks Tom!” respondeu o paulista sem esconder o sorriso. Eu havia tirado o dia para acompanha-lo pelo North Shore e fazer a entrevista que você está prestes a ler. Desde minha chegada nas ilhas, alguns dias antes, só ouvia falar da tal onda que ele dropara em Pipe. E o elogio do eterno Mestre do Estilo, Curren, só confirmava que a bomba tinha sido realmente das boas. E não era só Curren – durante o dia, perdi a conta de quantas vezes fomos parados por brasileiros e estrangeiros que faziam questão de elogiar a onda de Camarão – que até o fechamento desta edição concorria a um prêmio de 25 mil dólares, oferecido pelo site americano Surfline à melhor onda do inverno havaiano. Mas há muito mais em Camarão do que uma onda cavernosa em Pipe. Thiago Henrique Pickler nasceu no Paraná. Mudou-se com os tios e a mãe para Juquehy, no litoral norte paulista, aos 3 anos de idade – onde a família montou uma padaria e, mais tarde, um mercado. Thiago teve uma infância simples, mas próxima do mar. O sorriso sempre estampado no rosto e o jeito descontraído escondem o dificil caminho que percorreu no surf, até remar naquela série imponente num fim de tarde em Pipeline. Camarão nunca conheceu o pai e teve de surfar escondido por anos até que a família aceitasse sua escolha de tornar-se surfista profissional. Apesar de não ter recursos, persistiu e atualmente tornou-se um dos brasileiros mais reconhecidos e adorados no mundo do surf. Quando foi a onda em Pipe? No dia do velório do Andy, 14 de novembro. Como foi esse dia? Foi inacreditável. Quando acordei, estava flat. Por isso fui até a “town” pra fazer umas compras com um amigo. Na volta, quando cheguei na casa da Reef onde eu estava hospedado, todas as Miss Reefs estavam fotografando, se trocando, ficando peladas ali na minha frente. Eu falei “meu Deus!” Ninguém tava acreditando naquela cena e pelo jeito não ia sair dali tão cedo. Mas eu já tinha visto que o mar havia subido durante o dia. Aí liguei para o Alejo (Muniz), que estava ficando em Pipe e ele disse que tinha onda. Foi louco porque dias antes eu fiz uma pintura em homenagem ao Andy Irons na minha 7’0’’, que eu usei naquele dia. E foi exatamente o dia da cerimônia de sua morte no Kauai. Aí fui para o surf e logo de cara peguei duas fechadeiras – foi horrível. Eu pensei “agora vou esperar a da série”. Botei na minha cabeça que ia pegar a boa e fiquei esperando uma onda entre o primeiro e o segundo reef. Na hora que apontou a série, parecia que ela ia quebrar lá fora – daquelas que vêm do segundo reef já espumando. Todos os caras remaram para o fundo e eu fiquei paradinho, pensei “ou eu vou tomar na cabeça, ou vou pegar a onda da vida embaixo do pico”. Para minha sorte ela não quebrou lá fora e começou a levantar no primeiro reef mesmo, bem na minha direção. O Wakita e o Tamayo Perry remaram na onda, mas não entraram. Foi quando todo mundo no canal gritou para mim “go, go, go!” Na hora que eu comecei a descer a onda, ela não parecia tão grande. Foi um drop fácil. Quando eu fiz o bottom turn que eu olhei e vi que tinha uma onda de verdade ali na minha frente. E todo mundo no canal começou a gritar. De repente eu só ouvi uma vozinha de fundo, “woohoooooooo”, aí eu coloquei para o tubo e ficou um silêncio total. Só tomei conta do que tinha feito na hora que saí do tubo. Porque estava a Volcom House e a praia inteira batendo palma e gritando. E você ouviu isso da água? Ouvi. Todo mundo gritou pra caralho. Você saiu do mar depois dessa? Não, voltei para o fundo. Cheguei no fundo e todo mundo estava falando da onda. Todos os caras, “caralho, que onda, que onda”, todo mundo comentando. Dava para ver que a galera não tava acreditando, mesmo o pessoal que me conhecia. Cheguei em casa, já tinha o email do Bruno Lemos. “Cara, filmei sua onda.” Mostrei pra galera na casa da Reef e todo mundo pirou. Acho que eu não vou esquecer esse dia nunca. Vi as mulheres mais lindas do mundo, peguei a minha melhor onda em Pipe e ainda depois os caras fizeram uma festa para comemorar a onda. Já falavam que podia ser a onda da temporada? Foi o que eu ouvi dizer, né (risos). Não sabemos ainda porque a temporada não acabou. Mas já começaram a falar isso na hora? Não, na hora ninguém falou. Falaram que foi uma puta onda. Passou uma semana e falaram para eu mandar a filmagem para o Surfline. Até então eu nem sabia que tinha prêmio de 25 mil dólares pela melhor onda do inverno. E pelas ondas que você viu, pelos outros candidatos, você acha que tem uma boa chance de levar a bolada? Se for a onda do inverno, acho que existe uma chance de ganhar. Agora, se eles forem pegar o melhor tubo…se você for ver, o meu tubo não é deep. Não é um tubo longo. Tem vários tubos bem melhores, mais longos, mas se você pegar no contexto, é uma onda grande, dá uma puta explosão, a maior baforada que tem ali de todas. Mas não quero ficar pensando muito nisso, não sei direito qual é o critério, qual é o julgamento. Há quantos anos você surfa Pipe? Surfo Pipe há uns cinco anos. E essa foi sua melhor onda lá? Foi a minha melhor onda, sem dúvida. No ano passado peguei uma boa, mas ninguém viu, ninguém fotografou (risos). A entrevista completa você confere na edição de janeiro que está nas bancas. Na capa, Thiago Camarão domando sua onda da temporada, em Pipeline, Hawaii. Pipeline, temporada 2010/11.

http://www.youtube.com/watch?v=JdR4AYEdyFQ

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