Por Fernando Maluf
[dropcap size=small]O quarto dia de janela do Quiksilver Pro Gold Coast avançou até as quartas de final nesta quarta-feira, com a realização de todas as baterias dos rounds 3 e 4. Em boas ondas de 4 a 5 pés em Snapper Rocks, Filipe Toledo e Owen Wright foram os grandes destaques do dia: o brasileiro com a melhor nota individual, o australiano com a melhor média.
Tomas Hermes e Michael Rodrigues também se garantiram nas quartas de final. Entre os brasileiros, foram eliminados Willian Cardoso, Ítalo Ferreira e Gabriel Medina, no round 3, e Adriano de Souza, no round 4 – pela primeira vez, em formato eliminatório.
Nas quartas de final, Filipe e Tomas fazem duelo caseiro na segunda bateria. Quem passar enfrenta o vencedor do confronto de goofies entre Owen Wright e Adrian Buchan. Michael Rodrigues, na terceira bateria, mede forças com Julian Wilson. Michel Boulez e Griffin Colapinto decidem a última vaga nas semis.
Filipe, Owen e Julian puxam a fila
Quase discretamente, Filipe Toledo vem cumprindo, aos poucos, tudo que se esperava dele neste início de ano competitivo. Nesta quarta, ele demonstrou uma habilidade que costuma ser decisiva para vencer campeonatos. Está soltando o surf aos poucos. É muito difícil atingir o pico de seu surf no momento certo do campeonato e são muitos os nomes que sofrem com isso.
Filipe parece seguir uma cartilha, soltando, de maneira calculada, algumas pílulas de seu talento conforme os rounds avançam. Na quarta rodada, quando pela primeira vez arriscou sair um pouco de seu feijão com arroz que, ele já sabia, os juízes vinham premiando, arrancou a melhor nota do campeonato.
O layback absurdamente controlado já seria suficiente para um high score. Filipe ainda emendou algumas manobras “comuns” antes de emendar a junção com um club sandwich (alguém sugere um nome em português?), um 360 no lip, de mão na borda, apontando a rabeta para a areia. O 9.67 não foi dez por pouco, mas já é a nota mais alta do campeonato com folga.
Vale destacar o esforço de Ítalo Ferreira. O potiguar tinha tudo para ir muito mais longe em Snapper, e foi bem em sua bateria contra Filipe. Pode-se dizer que o confronto precoce, um desperdício para o campeonato, foi azar. Mas há o fator seeding. Último classificado pela lista do WT em 2017, Ítalo ainda vai ter que derrubar alguns gigantes em fases iniciais neste começo de ano – como fez com Medina no round 1 – se quiser terminar o circuito em uma posição melhor.
Filipe só não foi o maior destaque isolado porque Owen Wright fez, uma bateria antes, a melhor média do dia. Sem a exuberância do brasileiro, Owen é outro forte candidato ao título da etapa e – por que não? – do circuito. Se vencerem, os dois se enfrentam na semifinal, desde já a bateria mais aguardada do campeonato.
O último “medalhão” vivo no campeonato é Julian Wilson. Julian começou o ano com aquela lesão no ombro após tomar um tombo de mountain bike mas já está soltinho, soltinho. Assim como Owen e Filipe, deve uma caixa de cerveja a Mikey Wright por tirar Medina e John John da briga antes mesmo do round 4.
Rookies crescem, caem os campeões
No começo do dia, quatro campeões mundiais estavam no campeonato. Ao final, nenhum. Os rookies tiveram média melhor: dos cinco que surfaram no round 3 (tecnicamente, Michael February ainda é um wildcard), três chegaram às quartas.
Gabriel Medina foi o primeiro campeão mundial a cair, e o segundo derrubado por Mikey Wright. O convidado já havia tirado John John do páreo no dia anterior e voltou a arrebentar contra o brasileiro (mais sobre isso abaixo).
No primeiro confronto direto de rooky versus campeão, Joel Parkinson perdeu para Griffin Colapinto. O garoto da Califórnia estava em sintonia fina com as ondas de Snapper. A soma do faro incomum para os maiores tubos a uma atitude desprendida (um air-drop atrás do outro) e um bom repertório de manobras foi demais para Joel.
Adriano de Souza, campeão mundial de 2015, venceu o segundo confronto do tipo. As patadas de Wade Carmichael tinham a simpatia dos juízes, que lhe davam pequena margem sobre o brasileiro até o minuto final da bateria. Mineiro foi para o tudo ou nada, saiu de um bom tubo e se jogou em um ataque suicida ao lip. Desapareceu na espuma, reergueu-se, nota 8.20, vitória e vaga no round 4.
Adriano seria eliminado algumas horas depois, com uma diferença de menos de meio ponto entre ele, terceiro colocado da bateria, Michael Rodrigues, o segundo, e Michel Bourez, o líder.
Pouco antes disso, Mick Fanning, que havia vencido no round 3 uma bateria estranha – mas sem sustos – contra Conner Coffin, era eliminado por Tomas e Owen. Foi a última bateria do legendário tricampeão mundial em Snapper Rocks.
Assim, pela primeira vez desde o Oi Rio Pro de 2015, desenharam-se umas quartas de final sem nenhum campeão mundial. Quem foi o campeão daquele evento mesmo? Sim, sim, Filipe Toledo. Quem mais estava nas duas ocasiões? Owen Wright.
Tomas e Michel, as gratas surpresas
Não pelo talento demonstrado, é claro. Mas o jogo no WT é diferente, todos sabem. Muitos surfistas cheios de potencial sofrem na elite. Não é o caso da dupla de rookies brasileiros, ao menos na estreia.
Tomas despachou Kolohe Andino no round 3, sem cerimônias, e ainda foi responsável por encerrar a participação competitiva de Mick Fanning nas ondas de Snapper Rocks. Não precisa dizer mais que isso. O catarinense vai enfrentar Filipe Toledo nas quartas de final, sem nada a perder e com um surf muito encaixado nas condições do mar.
Michael Rodrigues segue impressionando. Seja pelos tubos que encontra, pela agressividade das manobras ou pela capacidade de conectá-las sem perder velocidade – preste atenção no 6.50, a segunda onda na bateria contra Jordy Smith -, o único representante do Nordeste vivo no Quik Pro é, sem dúvidas, um dos surfistas mais perigosos do campeonato. Julian que se cuide.
A queda de Medina
Às vezes parece que Martin Potter não assiste as baterias que está comentando. O pior é que ele assiste mesmo. Ainda assim, o campeão mundial de 1989 conseguiu dizer que a vitória de Mikey Wright sobre Gabriel Medina foi igual à do round 2 contra John John.
Diferente da performance apática do havaiano, Medina fez o que pode contra Wright. Errou em uma onda ou outra, mas teria vencido a maioria das outras baterias da rodada. Wright também se esforçou mais do que na rodada anterior: pegou mais ondas, arriscou mais, tentou, caiu, acertou.
O que iguala Medina e Florence, na Gold Coast, é que, se querem pensar em título mundial, ambos precisam tratar a etapa de abertura como um de seus descartes.
Um recadinho em japonês, por favor?
Kainoa Igarashi fez uma boa apresentação no round 3, quando passou pelo português Frederico Morais. O surf do nipo-californiano está afiado, mas o ponto alto mesmo foi a entrevista após a bateria. Depois de uma conversa morna, Rosie Hodge já tirava o microfone do garoto quando ele emendou: “posso deixar um recadinho em japonês, por favor?”
Cadê os tradutores, @WSL? Alguém se candidata?
Quiksilver Pro Gold Coast – resultados do round 3:
1: Owen Wright (AUS) 14.50 x Willian Cardoso (BRA) 9.04
2: Mick Fanning (AUS) 11.67 x Conner Coffin (USA) 7.37
3: Tomas Hermes (BRA) 12.40 x Kolohe Andino (USA) 9.60.
4: Filipe Toledo (BRA) 14.60 x Italo Ferreira (BRA) 13.70
5: Adrian Buchan (AUS) 13.36 x Jeremy Flores (FRA) 13.10
6: Mikey Wright (AUS) 16.07 x Gabriel Medina (BRA) 14.90
7: Julian Wilson (AUS) 7.30 x Michael February (ZAF) 7.10
8: Kanoa Igarashi (JPN) 15.26 x Frederico Morais (PRT) 11.10
9: Griffin Colapinto (USA) 13.50 x Joel Parkinson (AUS) 12.94
10: Adriano de Souza (BRA) 15.07 x Wade Carmichael (AUS) 13.60
11: Michel Bourez (PYF) 12.50 x Connor O’Leary (AUS) 6.43
12: Michael Rodrigues (BRA) 15.00 x Jordy Smith (ZAF) 14.40
Quiksilver Pro Gold Coast – resultados do round 4:
1: Owen Wright (AUS) 17.00, Tomas Hermes (BRA) 11.20, Mick Fanning (AUS) 10.43
2: Filipe Toledo (BRA) 15.70, Adrian Buchan (AUS) 14.60, Mikey Wright (AUS) 11.20
3: Julian Wilson (AUS) 15.97, Griffin Colapinto (USA) 13.83, Kanoa Igarashi (JPN) 11.67
4: Michel Bourez (PYF) 13.97, Michael Rodrigues (BRA) 13.83, Adriano de Souza (BRA) 13.53
Quartas de final do Quiksilver Pro Gold Coast:
1: Owen Wright (AUS) vs. Adrian Buchan (AUS)
2: Filipe Toledo (BRA) vs. Tomas Hermes (BRA)
3: Julian Wilson (AUS) vs. Michael Rodrigues (BRA)
4: Michel Bourez (PYF) vs. Griffin Colapinto (USA)
Semifinais do Roxy Pro Gold Coast:
1: Lakey Peterson (USA) vs. Malia Manuel (HAW)
2: Sally Fitzgibbons (AUS) vs. Keely Andrew (AUS)