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sábado, 16 março, 2024
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Tu gosta de bells? Gosto. Eu sou velho, né!?

Foto de abre: People On Tour

SEGUNDA FEIRA, 15.58, MENSAGEM DO FACEBOOK

Gustavo Migliora: Tu gosta de Bells?

Julio Adler: Gosto. Eu sou velho, né!?

Acho a onda difícil, às vezes chata, mas fundamental pra exibir certas qualidades e deficiências dos surfistas. Sem contar com a carga histórica do lugar…

Gustavo Migliora: Ah sim! Quanto a história, tem muitaaa. Mas é bem chatinha a onda…

Matt Wilkinson, o campeão do Rip Curl Pro Bells Beach. Foto: WSL
Matt Wilkinson, o campeão do Rip Curl Pro Bells Beach. Foto: WSL

Vocês conhecem o Gustavo como Cako, do #ComentaCako, companheiro aqui do sítio da HARDCORE.

Que diferença faz essa conversa absolutamente insignificante?

Nos últimos 5 anos a etapa de Bells tem sido severamente atacada por ser aborrecida, ter longas esperas, pouco tubo e pouca rampa pra decolagem.

Quando penso em Bells, penso no Curren em 1984 e1990, lembro do Occy, qualquer ano, recordo dos filmes do MP (Michael Peterson) ziguezagueando pra cima e pra baixo e me vem logo na cabeça a primeira vitória do Slater em 1994, a milagrosa virada do Careca contra Bede em 2008 e aquele full rotation ridículo contra o Mick em 2012.

Percebem a importância?

Raramente essa etapa nos oferece um cardápio reduzido.

Quase sempre temos da marola cheia com moral ao metro e meio massudo torto, do terral perfeito em Rincon até o beach break de Johanna.

Vejam só esse ano como foi…

Courtney Conlogue. Foto: WSL
Courtney Conlogue. Foto: WSL

As moças tiveram seu dia final num mar com ondas clássicas, muito melhores que na primeira etapa, por exemplo.

Kieren Perrow mostra bem o tipo de onda que ele prefere ver os homens surfando quando toma decisões como essa.

Foi no mínimo bizarro ver um dia de competições como aquele primeiro de abril, todo repartido entre quarta fase dos homens, semifinal feminina, meia rodada da quinta fase masculina e final feminina.

Se serviu para alguma coisa, foi pra mostrar o quanto o surfe das mulheres é relevante mesmo quando medido com os homens.

A bateria do dia não foi do Fanning, do Jordy, ou do Italo.

Não senhor, a bateria do dia foi Carissa x Steph, uma das grandes rivalidades do surfe em 2016.

O que a Carissa surfou nessa disputa era capaz de levá-la adiante num combate direto contra meia dúzia dos machos que estavam ali – e isso, pode ter certeza, não seria vergonha nenhuma.

No melhor dia de ondas do Rip Curl Pro Bells, a melhor bateria foi feminina e a manobra do dia foi um pé na porta da Carissa Moore que deixou o Conner Coffin na lanterna…

Wiggolly Dantas apresentou backside afiado - e foi barrado pelo campeão nas quartas de final. Foto: WSL
Wiggolly Dantas apresentou backside afiado – e foi barrado pelo campeão nas quartas de final. Foto: WSL

O LABIRINTO DAS NOTAS

Minha grande dúvida hoje é se alguém pode dizer que entendeu exatamente como funciona a construção de uma nota.

Eu desisti.

Vi e revi uma onda que Wilko faz uma manobra simples, trivial, rasga sem dificuldade nenhuma (para um surfista daquele nível), acerta uma na veia na terceira ou quarta e finaliza para um 9,2…

Precisamos reconhecer que o ângulo em Bells não favorece o webcast, filmado muito de cima, achatando a onda e roubando quase um terço do tamanho real.

Os próprios locutores, Blakey, Ross, Pottz e Turpel também não estão familiarizados com os critérios.

Volta e meia, imagino, eles se olham e perguntam com os olhos arregalados, jogando as mãos pra cima, sem dizer uma só palavra – O que foi que houve?

Essa etapa, em especial, teve um exagero de decisões nas últimas ondas desde as primeiras fases e os brasileiros não tiveram uma colher de chá.

Guigui surfava com tanta confiança e precisão que eu era capaz de jurar que ninguém segurava aquele backside talhado em Itamambuca por nada desse mundo…

Eis que surge Wilko novamente, sempre ele, o homem marcado para vencer.

Não vou descrever nem debater a onda da virada.

Quando o camarada atinge aquele estado de graça competitivo, tudo conspira a favor.

Aconteceu com Medina e Mineiro, já aconteceu com Fanning e Parko, agora chegou a vez do Wilko.

Wilko e seu técnico, Glen Hall
Wilko e seu técnico, Glen Hall, antes de mais uma bateria – e rumo à vitória em Bells. Foto: WSL

O LEPRECHAUN DA SORTE

Lembra que na primeira etapa falamos na importância dos técnicos?

Glen Hall não largou o tour pra tomar conta de criança e lavar a louça em casa.

Não senhor.

Sua conta no Instagram (aqui) já diz tudo – Micro (apelido por motivos óbvios) Surf Academy.

Diz uma dessas frases de traseira de caminhão:

Aquilo que você mais sabe ensinar, é o que você mais precisa aprender

Na verdade a frase é do Richard Bach, aquele do Fernão Capelo Gaivota, e faz todo sentido no caso do nosso leprechaun da sorte.

Era como se Glen Hall estivesse usando o corpo e talento do Wilko para realizar seus sonhos de competidor – e está dando certo!

Italo Ferreira durante a semifinal - barrado pelo campeão Wilko. Foto: WSL
Italo Ferreira durante a semifinal – barrado pelo campeão Wilko. Foto: WSL

A VOLTA DOS GOOFIES

Desde as quartas de final já sabíamos que o evento seria decidido entre um Goofy e um Regular.

De um lado da chave, Wilko, Guigui, Nat e Ítalo.

Do outro, Bourez, Fanning, Jordy e Conner.

Medina devolveu a dignidade aos surfistas com o pé direito na frente e o movimento pela conquista da parte de cima do ranking aumenta com força.

É possível que Ítalo seja o mais perigoso de todos eles, além do Wilko.

Ninguém parece aprender mais rápido do que o potiguar e seu início de temporada é ainda melhor do que no ano passado – um 13º e um 3º comparado ao 9º e 25º de 2015.

Vou me abster de comentar sobre o Nat Young para não aborrecer o leitor.

Caio Ibelli. Foto: WSL
Caio Ibelli. Foto: WSL

CANÁRIO BELGA

Querem saber quem mais me empolgou nesse evento?

Respondo sem piscar, Caio Ibelli.

Não botou o galho dentro contra Jordy numa condição que favorecia 80% ao grandalhão.

Foi uma bateria de prender a respiração, tipo Corinthians x Palmeiras de domingo.

Fanning surfou com aquela perfeição de sempre, é o que se espera dele e quando, em Bells, o Macaco Albino não ganha ou fica em segundo, já bate uma baita decepção e também algum alivio.

Seria leviano afirmar que Jordy também foi uma decepção, ou melhor dizendo, seria redundante.

É menos doloroso admitir que Wilko afinal encontrou uma fórmula de bolo que não erra.

Se as coisas estão dando certo, é porque ele tem dado menos chance ao azar e feito o combinado com Micro.

Até nas entrevistas Wilko já não parece aquele bobo alegre dos anos anteriores.

Ele está seguro e confiante.

Wilko sobra num ano que começa completamente atrapalhado para todos potenciais candidatos ao título, como Slater bem apontou na sua conversa com Peter Mel depois da derrota.

Quase todo mundo já tem os dois descartes, Medina, Mineiro, Parko, Julian, Fanning, Slater, Taj e JJFlorence – não dá pra contar um 5º como descarte, né?

A distância do primeiro pro resto é tão grande que é impossível Wilko não chegar no Rio sem a camisa amarela e muito difícil alguém tirá-la depois do Rio.

Alguém precisa acordar antes que seja tarde demais pra reagir contra a sensacional arrancada do Wilkinson.

Galera de Copa tá em festa!

Duas etapas, dois títulos - desse jeito e pelo visto se deixarem, Wilko vai longe. Foto: People On Tour
Duas etapas, dois títulos – desse jeito e pelo visto se deixarem, Wilko vai longe. Foto: People On Tour

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