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quinta-feira, 21 março, 2024
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R.I.P. Jay Adams

 


Jay Adams e uma das fotos mais emblemáticas da história do skate. Na edição de 25 anos, escolhemos o californiano como um dos surfistas que melhor representam o espírito HC. Foto: Arquivo Pessoal
 

Por Kevin Assunção

Jay Adams, um dos skatistas mais influentes de todos os tempos, faleceu na noite desta quinta-feira (14), vítima de ataque cardíaco, aos 53 anos. Além de escrever o nome na história do skate, Jay era um dos surfistas mais hardcore – até por isso integrou a lista dos 25 gringos que melhor representam o espírito HC.

Ao lado de Tony Alva e Stacy Peralta, Jay liderou a geração dos Z-Boys, como era conhecida a equipe de skatistas da loja Zephyr. Eles viravam a Califórnia de cabeça para baixo, com o estilo de vida intenso. Quando não tinha onda, estavam em cima do carrinho, imitando movimentos que faziam na prancha.


Independente de idade, estado físico ou mental, Jay Adams sempre impressionava em cima prancha, seja de surf ou skate. Foto: BIll Hopkins

A cena que os Z-Boys formavam ganhou ainda mais peso em meados dos anos 1970. Nessa época, eles descobriram o skate vertical. Os Estados Unidos passavam por um longo período de seca, então as piscinas das casas tinham sido esvaziadas por conta do racionamento de água. Dias de flat, piscinas vazias: cenário perfeito para dropar no concreto com o skate, e desenhar linhas com fluidez semelhantes ao surf. E foi assim que o skate em bowl surgiu.

Desde pequeno, Jay contava com o incentivo do padrasto para mergulhar cada dia mais no universo do surf e do skate. “Quando você tem 6, 7 anos, não pensa tanto no surf como profissão. Apenas em ser surfista, ser criança. Você não pensa muito no futuro”, disse o californiano de Santa Monica, no documentário Dogtown and Z-Boys. “Tudo simplesmente aconteceu, entende? Então, quando tinha 12, 13 anos, já estava praticamente definido o que eu faria. Seria skatista e surfista.”

O skate tornava-se mais comercial conforme o movimento dos Z-Boys se popularizava. Competições, contratos, salários, viagens, responsabilidades. De certa forma, isso não atraiu Jay. “Era apenas diversão, antes de ficar sério demais”, observou. “Parecia que os caras não se divertiam tanto como antes. Virou mais um trabalho… Muita tensão.”

Mesmo com esse pensamento, Jay já demonstrou arrependimento em não ter andado de skate ainda mais naqueles tempos – dividia o tempo no carrinho e no surf com as abundantes festas, álcool e drogas.

Depois de viver intensamente a era Z-Boys e revelar e acompanhar de perto o lendário Tony Hawk, Stacy Peralta escreveu um texto em que considera Jay Adams o mais influente do skate moderno. Confira:

Aqui vai algo sobre Jay Adams: Jay não era o melhor skatista em piscinas, nem o melhor skatista em banks, ou o melhor em slalom, ou o melhor no freestyle. O fato é que a contribuição de Jay Adams para o skate descarta descrições ou categorias. Jay Adams provavelmente não é o melhor skatista de todos os tempos, mas posso dizer sem medo de errar que ele é evidentemente o arquétipo do skate moderno atual. A definição de arquétipo significa um exemplo ou modelo original, um protótipo. A definição de protótipo significa a primeira coisa ou o primeiro de sua geração. Até hoje não presenciei skatista mais vital, mais dinâmico, mais divertido de assistir, mais imprevisível e mais espontâneo em abordagem do que Jay. Não há adjetivos suficientes para descrevê-lo.

Em campeonatos, Jay era simplesmente o skatista mais empolgante para assistir. Ele nunca fazia a mesma volta do mesmo jeito duas vezes.suas voltas eram impiedosamente aleatórias, ao mesmo tempo que extremamente firmes e bonitas de ver: ele inventava manobras durante as voltas. Nunca vi um skatista destruir mais padrões e expectativas. Assistir ele andando de skate era algo novo a cada segundo: ele é a personificação do “skate and destroy”.


Foto: Craig R. Stecyk III

Acredito que essa foto de Jay seja a mais impressionante e visivelmente clara representação, de todas as fotos já tiradas, do skate moderno. Contém todos os elementos que constituem o que virou o skate atual: fantástica atitude e estilo, poder e fúria, abandono selvagem, destruição dos medos, individualismo indomável e a libertária determinação de romper, picar e quebrar incansavelmente.

Jay Adams pode não ser o melhor skatista do mundo, mas ele é o cara, o verdadeiro, o original, o primeiro. Ele é o arquétipo da nossa herança partilhada. 

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