Por Julio Adler
Go ahead, make my day
Harry Callahan é o policial mais carismático da história do cinema, Clint Eastwood deu vida ao personagem que conhecemos apenas pela alcunha de Dirty Harry.
O filme é de 1971 e foi todo filmado em San Francisco.
Harry deixou algumas frases que até hoje são aproveitadas nas mais diversas ocasiões, na cena final do primeiro filme (são 5 ao todo) depois de perseguir o assassino incansavelmente, Harry encurrala o tresloucado serial killer que tem a arma próxima suficiente para reagir e tentar acabar com o detetive.
Harry tem sua fiel Magnum 44 apontada pra cabeça do facínora e pergunta,
Você deve estar se perguntando, ele atirou 5 ou 6 vezes? Para ser sincero, no meio de toda essa excitação já não lembro mais. Sendo isso um Magnum 44, uma das armas mais poderosas do mundo e que pode arrancar sua cabeça, você deve apenas fazer uma pergunta, Estou com sorte?
Do you feel lucky, Punk?
Slater está mais uma vez na situação que lhe é tão peculiar, Dan Ross começou a bateria com uma onda boa e conseguiu pegar outra antes de qualquer reação do Careca.
Todos no circuito sabem que Slater gosta de ditar o ritmo e não fica nada confortável quando alguém inverte os papéis na disputa.
O peso da decisão é publico e notório, Slater não consegue completar nenhuma onda e parece um pouco disperso. Sua cabeça pode estar em muitos lugares, hoje (ontem) é dia do aniversário da morte do seu maior rival e essas coincidências mórbidas assombram seu sono.
Ninguém tem dúvida que, em algum momento, Slater irá fazer o que faz desde sempre, ninguém se surpreende mais, apenas admiramos a arte do sujeito se repetir sem nunca ser igual.
Em cinco minutos tudo muda, começa a festa anunciada, apenas a ASP não tinha reparado na possibilidade.
A trapalhada é completa.
Owen Wright surfa a melhor onda do evento pra ninguém ver, todos estão de costas pro mar, público na praia, público na grande rede, companheiros e curiosos.
Slater é conduzido para uma espécie de podio improvisado onde Renato Hickel, Tour Manager, o espera com o troféu de campeão mundial.
Nada podia ser mais amador e anti-clímax para o extraordinário feito de 11 títulos.
O microfone não funciona, a entrevista do locutor/jornalista Reggae Ellis indaga do tempo em São Francisco… Slater pede por silêncio em homenagem ao Andy Irons – e provavelmente para seus ouvidos cansados da mesma pergunta.
A ASP, tão formosa e faceira nos seus press releases, é incapaz de criar alguma solenidade decente para saudar seu maior campeão, como se a própria instituição estivesse farta do Careca.
Nem Brodie Carr se presta a representar a entidade numa premiação como esta, não prepararam nada, absolutamente nada, para coroar o maior símbolo do nosso esporte.
Fosse um esporte minimamente organizado, teríamos um ícone como Curren, ou mesmo de outro esporte, como Tiger Woods, Agassi (não é o tênis uma referência?) para entregar o troféu. São onze títulos mundiais, por Netuno!
Aparentemente, é essa capacidade de pensar pequeno que condena a ASP – e o surfe como esporte – para a total irrelevância. Vamos em frente.
Valha-me São Chico
Verdade que há ainda um campeonato em andamento e determinados surfistas tem mais interesse do que outros.
A degola se aproxima e poucos sentem-se à vontade para garantir a vaga no Havaí.
Outros, mais descansados, querem aproveitar a oportunidade para superar as expectativas.
Caso do Medina e Alejo.
O grande surfista do evento até agora, na minha opinião, foi Medina.
Sua leitura e velocidade na onda são um caso a parte.
Impressionante como, a cada etapa, Medina absorve tudo que se passa em sua volta e evolui a olhos vistos – proximo da explosão brasileira no Tour com Teco e Fabinho em 1989.
Se a maioria dos seus companheiros (Slater incluso) tem encontrado enorme dificuldade para achar a linha certa na onda Ocean Beach, Medina improvisa momentos na onda que remetem a Curren ou Occy com a mesma idade.
De repente, o menino que parecia imaturo diante dos adversários vai amadurecendo ao vivo para felicidade dos entusiastas.
Outro surfista que cresce quando mantém a cabeça fria é Alejo.
Numa bateria que parecia perdida, Alejo respirou fundo e tirou um dos meus surfistas favoritos naquela condição, Raoni.
Antes de perder, Raoni teve fôlego para abater um Dusty Payne nervoso numa disputa palmo-a-palmo pelo liderança e se fazer notado.
Alejo tinha, e tem ainda, tudo para ser o rookie of the year do circuito em 2011, mas Julian Wilson despertou do coma induzido pela fama e dinheiro rápidos demais e deve abiscoitar o título (sim, tambem é um título!) com sua final na França e semi em Trestles.
Alejo pode ainda fazer barulho em São Chico e Pipe.
Um que vinha embalado de uma vitória é Miguel Pupo, precisando se afirmar nos Top 32 com um resultado sólido fora do circuito de Primes e 6 estrelas.
Miguelito moeu Otton e fez uma grande bateria contra Ace Buchan, um dos competidores mais inteligentes do Tour.
Quem não teve muita sorte, ou nenhuma, foram Jadson e Mineiro.
Ninguém esperava que nessas condições Mineiro perderia justo para Kieren Perrow e Jadson cairia diante do Taylor Knox.
Num campeonato que Wilko vence Taj e Simpo bate J. Dub, tudo pode acontecer.
Fico só imaginando o que se passa na cabeça do Careca ao saber que terá Medina e Pupo na quarta fase…
A Kombi da França deve estar estacionada em lugar sombrio dentro daquela diabólica cachola.
Como diria o Coisa do quarteto fantastico, Hora do pau!
A bateria do título:
Melhores momentos do primeiro dia: