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10 Perguntas: Mateus Herdy

Consistente no primeiro ano no QS, vice-campeão do Hawaiian Pro, em Haleiwa, e, principalmente, o melhor do mundo no Pro Junior. Conversamos com o catarinense Mateus Herdy, que já definiu seu objetivo para 2019: a vaga para a elite.

 

Por Kevin Damasio

Aos 17 anos, Mateus Herdy teve uma temporada de afirmação em 2018. O catarinense comprovou que já atingiu um patamar profissional em seu surf, uma vez que seu ano de estreia no QS foi marcado por muita constância. No fim, terminou na 18º colocação do ranking, a poucos pontos de uma vaga para a elite mundial.

Em março, Herdy se destacou no meio da multidão de atletas talentosos com a semifinal no Rip Curl Pro Argentina. Semanas depois, conseguiu um 9º lugar na etapa japonesa de Chiba, na qual derrotou surfistas como o aussie Ryan Callinan, o italiano da elite Leonardo Fioravanti e o havaiano-brasileiro Kiron Jabour. Repetiu a colocação no Pantin Pro, em Galícia, Espanha. Já no Red Nose Pro, em Maresias, chegou às quartas, perdendo apenas para um conterrâneo da elite mundial, Jessé Mendes.

Foram bons resultados para uma estreia, porém a pontuação baixa conferida a cada etapa mantinha o catarinense apenas na 61º colocação. Mesmo assim, Herdy chegou tranquilo para a temporada havaiana, sem se colocar tanta pressão – e de cara conseguiu seu melhor resultado profissional, o vice-campeonato do Hawaiian Pro.

Em Haleiwa, depois de apenas uma hora de ambientação à onda, Herdy avançou em segundo para a segunda fase da primeira etapa da Tríplice Coroa Havaiana. No decorrer do campeonato, impressionou a todos com uma performance solta, precisa e de gente grande. Venceu sua bateria no round 2, que teve como eliminados o ex-top Matt Banting e o paulista Thiago Camarão. Na sequência, ganhou de novo, à frente dos surfistas da elite Jessé Mendes e o português Frederico Morais. Na quarta fase, deixou para trás Ethan Ewing e Michel Bourez. Nas quartas, foi o melhor contra Ricardo Christie, o então candidato ao título mundial Filipe Toledo e o expoente do surf nipônico, Kanoa Igarashi. Na semi, repetiu a liderança, contra Christie, Jessé e o local havaiano Seth Moniz. Apenas Joel Parkinson parou Herdy, na final que também teve Christie e o brasileiro Deivid Silva.

O tempo de Herdy estava apertado, com o Mundial Pro Junior em Taiwan batendo à porta. Mesmo assim, ele decidiu correr a segunda etapa da Triple Crown, a World Cup of Surfing em Sunset Beach. Afinal, o segundo lugar em Haleiwa o alçou à 12ª posição do QS, portanto com chances claras de se classificar para o World Tour. Mas ele perdeu com uma virada no fim da primeira fase e pegou o primeiro voo para a Ásia.

A confiança, adquirida com as ótimas performances em meio a profissionais tarimbados, teve reflexo no Mundial Pro Junior. Nem o jet lag, nem o cansaço de fim da temporada, muito menos as grandes promessas do surf no planeta foram capazes de parar Herdy. Invicto e adaptado ao julgamento mais exigente do QS, Mateus Herdy tornou-se o oitavo brasileiro a conquistar o título mundial júnior – o desfecho de uma carreira de base vitoriosa, o combustível para se firmar entre os profissionais e alcançar rapidamente seu lugar na elite.

Mateus Herdy é carregado até o pódio pelos amigos Samuel Pupo e Eduardo Motta

HARDCORE: Como foi sua preparação para Haleiwa?

Mateus Herdy: Depois do QS em Maresias, em que fiquei em quinto lugar, tive que voltar para Floripa para me mudar de casa. Então acabei chegando no Hawaii um dia antes de competir em Haleiwa. Só deu tempo de fazer um freesurf de uma horinha antes de começar o round 1 do Hawaiian Pro. Mas deu certo, passei minha primeira bateria. Foi um campeonato bem longo, que durou vários dias por tantos days off. Isso até criou uma rotina. Acordava de manhã bem cedo, porque minhas baterias sempre estavam entre as primeiras do dia. Depois ficava tranquilo. Fui ganhando um ritmo bom.

A rotina te ajudou a ficar mais tranquilo e sentir menos pressão?

Eu já tinha ido bem amarradão para Haleiwa. Fim do ano, último campeonato. Estava bem feliz. Não tinha feito nenhum resultado para me classificar para o CT, mas vários bons para me garantir nos primes de 2019. Cheguei lá e fiquei com o Marcelo Treko e com o Thiago Camarão. Não estávamos hospedados no mesmo lugar, mas mesmo assim ficávamos o tempo todo juntos. De manhã eu competia, depois íamos comer, jogar altinha, surfar, conversar só coisas boas, pensando positivo. Acho que isso me ajudou bastante.

Você já se sentia preparado para fazer uma final num campeonato profissional tão tradicional, no Hawaii? 

O Hawaiian Pro, em Haleiwa, é praticamente uma etapa do Tour. Competi quase todas as baterias contra surfistas do CT ou que já foram da elite. Sei que tenho surf para isso, mas é algo que eu não esperava. Pensava que já seria legal fazer as quartas e sempre tenho na minha cabeça que qualquer um pode ganhar. Só que, como é uma parada tão grande, acaba virando um sonho. Ficar em segundo foi irado. E a energia, a vibe estava boa durante o campeonato inteiro.

[column size=one_half position=first ]“Pensava que já seria legal fazer as quartas e sempre tenho na minha cabeça que qualquer um pode ganhar. Só que, como é uma parada tão grande, acaba virando um sonho.”[/column]

O que mais ficou na sua memória dessa sua primeira final profissional?

O Camarão estava como meu coach. Passei a semifinal. Aí comemoramos com os brasileiros. Ele veio para mim e falou: “Cara, o seguinte: todo mundo que passou para a final já está muito feliz, mas a gente quer ganhar”. Já entrei na água confiante. Estava acostumado, sem tanta pressão como normalmente ocorre na primeira bateria de um campeonato. Fiz tudo o que poderia ter feito nas ondas que vieram para mim. Tanto que meu 7, em que dei um aéreo, consegui fabricar a nota em uma onda que era bem ruim. Então estava surfando solto, mas o Joel pegou as melhores ondas da bateria e levou.

Ter a presença do Parko no outside na final joga uma pressão?

Pô, é irado. O Ricardo Christie era o cara mais tenso na água, mais concentrado. O DVD [Deivid Silva] já tinha se classificado para o CT. Não sei como o Joel era antigamente, porque nunca tinha competido com ele. Mas estava um clima bom dentro d’água. Lógico que ele queria ganhar. Mas, no seu último ano de competição, ele estava conversando, tranquilo. Fez a onda e comemorou com a gente quando ouviu a nota: “Yeah, boys!”. Estava em uma vibe boa. Lógico que queria ganhar, mas achei muito bom dividir o outside com o Joel e ficava olhando para ele, até que caiu a ficha: “Cara, estou em uma bateria com o Joel Parkinson!”.

Imagino que o vice tenha dado uma confiança a mais para Taiwan. Como esse resultado alterou seu approach no Mundial Pro Junior? 

Eu não iria nem competir em Sunset por causa de Taiwan. Como fiquei em segundo em Haleiwa, a WSL me deu uma vaga para competir na World Cup. Pensei: “Estou próximo de me classificar para o CT”. Conversei com a galera, perguntei aos meus patrocinadores o que eles achavam e fui amarradão competir. Queria muito me classificar e fiquei muito próximo disso, mas viraram para cima de mim no fim da bateria. Fiquei meio triste na hora. Ao mesmo tempo, estava feliz por chegar perto, pensando: “Vou com tudo no ano que vem”. Peguei o primeiro voo para Taiwan com uma vibe boa e feliz com o resultado em Haleiwa, bem mais tranquilo. Foi fruto da felicidade do ritmo em que estava, de pensamento positivo. Quando se está mais confiante, o surf fica mais leve, sem medo de cair, de errar. Perder não é o fim do mundo.

 

[column size=one_half position=first ]“Quando se está no QS, a gente vai aprendendo muito. Percebe e surfa do jeito que o juiz quer. É necessário, senão, não passa bateria”[/column]

Como foi esse campeonato em Taiwan?

Nos últimos anos, os mundiais foram em Kiama [Bombo Beach, na Austrália], onde as ondas não eram tão boas e sempre rolava em condições difíceis. Já Taiwan é uma vala animal, surfável para todo mundo. Qualquer um pode fazer nota e é um lugar legal, bonito para competir. Essa foi a diferença para os outros mundiais. As ondas eram bem mais favoráveis não só para mim, mas para todos os atletas, porque quebravam para os dois lados. Todo dia o vento de lá é bom para dar aéreo para a direita. E numa manhã, enquanto rolava o Mundial das meninas, deu um ventinho bom para a esquerda, mas bem rápido.

Você teve uma temporada bem consistente no QS. Sentiu diferença no seu surf? Isso teve reflexo no seu título mundial júnior?

Quando se está no QS, a gente vai aprendendo muito. Percebe e surfa do jeito que o juiz quer. É necessário, senão, não passa bateria. Você tem que treinar para isso. Com certeza os juízes do Pro Junior amam quando aplico em uma onda o que seria necessário para ganhar nota excelente em um Prime. Eu e o Samuel Pupo estamos no QS, então isso acaba ajudando. O que não quer dizer que o Pro Junior seja mais fácil. É uma arma que temos a mais. É gratificante estarmos no QS e já podermos aprender várias coisas do tipo.

Você mudou sua preparação, sua rotina?

Continuo treinando a parte física com o Alisson Becker, da Aktion Paz, quando estou em Floripa. Neste ano, quero ficar mais tempo em casa para treinar mais meu físico, ficar mais forte e também fazer algumas surf trips. Quero ir para os eventos maiores do QS para me classificar para a elite. Não sou a mesma pessoa do início do ano passado, sem dúvida. Já mudei muita coisa em relação ao surf e à cabeça, então eu acho que isso influencia os resultados.

Acredito que sempre fui focado, sempre busquei muito meus objetivos. Mas os resultados não vinham tanto na época em que eu treinava mais, quando estava todos os dias na pegada, filmando, surfando, fazendo preparo físico. Antes de eu ir para Maresias, dei um tempinho em casa para descansar. Fiquei com meus amigos, mais tranquilo, não treinei tanto, e os resultados apareceram. Não quero dizer que não treinar seja melhor, mas que, se ficar o tempo inteiro treinando e não estiver com a cabeça certa, feliz, com uma positividade, não adianta, não tem como.

Às vezes é difícil. Lembro de 2017. Treinei todos os dias anteriores ao campeonato, porque não tinha pontos para estar nas etapas melhores, e consegui a vaga para os 6.000. Fui para o Japão. Fiquei na pilha de ter que ir bem no campeonato, treinei um mês para isso. Botei a lycra. Estava com tanta pressão e tão nervoso que perdi de cara. Por isso acho que, se estiver com a cabeça boa, posso lidar muito melhor com cada situação.

Esse controle mental também ajuda a melhorar sua parte técnica?

Com certeza. Tenho uma teoria que sempre falo para meus amigos que estão surfando, treinando. Quanto mais tempo na água você passar, mais técnica vai ter. Consegui atingir um nível em que tenho muita noção do que estou fazendo na prancha. Sei o que meu braço está fazendo, minha perna, o que preciso fazer quando estou no momento do aéreo para poder voltar. E no ano passado peguei essa técnica, essa noção do meu corpo. Da metade de 2018 para cá, eu caí da prancha muito pouco. O tempo inteiro conseguia voltar das manobras. Completei meu primeiro backflip um dia antes da minha final do Pro Junior. E não só no aéreo como também em rasgada e batida. Estou bem feliz com isso e só quero melhorar.

 

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