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PASA Games: Aline Adisaka representa o Brasil em duas modalidades

Mariana Broggi*
Direto do Panamá

Entre os dias 7 e 13 de agosto, a Playa Venao, no Panamá, está recebendo a décima quinta edição dos Jogos Pan-americanos de Surf da Associação Pan-americana de surf (PASA). Com as modalidades Open, Longboard, SUP Wave e SUP Race, o evento reúne atletas de 17 nacionalidades da América.

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Habituada a enfrentar os mais diversos desafios, a brasileira Aline Adisaka, de 31 anos, é a única atleta a integrar a competição em duas modalidades: o SUP Wave e o SUP Race.

Por incrível que pareça, Aline, que é natural de Ubatuba, começou a surfar de pranchinha com 15 anos e só anos depois foi descobrir sua verdadeira paixão.

“Teve um momento no Brasil que o surf de pranchinha não tinha competição feminina e o SUP tava começando a crescer”, conta ela. “E de repente um amigo me chamou para participar de uma prova de Race em grupo e eu, sem ter ideia de como pegar num remo ou de como subir numa prancha, fui mesmo assim”.

A nova experiência foi desafiadora, mas Aline se identificou e, pouco tempo depois, ela também foi convidada para participar de uma competição de SUP Wave.

“Eu achava que seria inviável competir, mas dois dias antes do campeonato, um amigo me levou para surfar na Praia Grande (em Ubatuba) e eu fui com uma prancha gigantesca e consegui ir reto numas ondas”, conta ela que na altura tinha cerca de 23 anos.

Sem ter experiência na modalidade, Aline encarou a competição que aconteceu em Itamambuca (também em Ubatuba) em um dia de ondas grandes que poucas meninas tiveram coragem de entrar.

“Match” com o SUP

“Quem surfa ou pega onda pela primeira vez na vida sabe que a sensação é indescritível e o que eu senti com o SUP conseguiu superar o que eu sentia com a pranchinha”, conta ela do momento em que, definitivamente, encontrou a sua modalidade.

A partir dali, o SUP Wave foi ganhando espaço na vida de Aline e rapidamente ela passou a se dedicar para evoluir nas competições do seu novo esporte favorito. Com apoio dos profissionais certos para produzir equipamentos melhores, ela vivenciou o sucesso e enfrentou as dificuldades.

O SUP Wave e o SUP Race são modalidades completamente diferentes e Aline se tornou a primeira e única brasileira a ter títulos nos dois esportes. Atualmente, ela é tricampeã brasileira de sprint race e quatro vezes campeã brasileira de SUP Waves, além de também ter conquistado medalha de ouro de sprint race nos Jogos Sul-Americanos.

“Tem sido uma trajetória desafiadora, porque conciliar várias modalidades é muito complexo ainda mais quando você não tem apoio financeiro”, conta ela. “O desafio de você ser um atleta de duas modalidades não é só no treinamento e na competição, mas também em como financiar isso, porque é realmente muito caro”, comenta.

Mesmo diante das adversidades, Aline se mantém focada e acredita que é mais interessante olhar pela perspectiva daquilo que se tem – e não para aquilo que falta.

“Eu tinha parado de remar de Race por não ter equipamento, mas minha amiga Fiona Wylde, que é campeã mundial da modalidade, me deu uma prancha e é, por isso, que estou conseguindo remar no momento”, conta. “Eu brinco que eu tenho co-patrocínio dos meus amigos”, diz Aline de forma espontânea e positiva.

Motivada e diante de um novo cenário com mais investimento da Confederação Brasileira de Surf (CBSurf) – que está financiando a viagem dos atletas para o PASA Games 2022 – ela abraçou a oportunidade e se aliou com uma equipe de profissionais para alcançar o melhor desempenho nas competições. Hoje, ela trabalha com nutricionista, psicóloga, fisioterapeuta para prevenir lesões, coach e também com preparador físico.

“A falta de suporte financeiro me fez conhecer pessoas e fazer conexões com culturas que eu talvez nunca tivesse tido se não fossem as adversidades”, conta ela de forma positiva. “Quanto mais você se vê numa situação de fora da sua zona de conforto, mais você consegue olhar para si mesmo e aprender”, finaliza.

Além dos desafios financeiros, a logística para transportar os equipamentos, principalmente em viagens internacionais, também é um dos grandes empecilhos. Isso porque, como sabemos, muitas vezes, a prancha pode ser danificada no transporte – por conta dos maus tratos das companhias aéreas – e muitas vezes a empresa nem se quer aceita transportar uma prancha tão grande quanto a de Race.

“Os aeroportos não estão preparados para receber atletas dessas modalidades e a dificuldade de transporte é enorme”, conta Aline. “Já aconteceu de eu embarcar normalmente na ida, mas na volta a empresa não deixar eu voltar”, explica Aline que na infeliz situação teve que comprar outra passagem.

Os preços para transportar equipamentos considerados ‘oversize’ (tamanho grande) variam de companhia para companhia. Em raros os casos, a empresa aérea pode não cobrar excesso de bagagem, mas na maioria das vezes, o valor de uma prancha grande é no mínimo entre 100 e 150 dólares (o que seria na cotação atual, cerca de R$512 a R$768).

No caso da Aline, além da mala despachada, ela veio ao PASA Games 2022 com uma prancha de SUP Wave e uma de SUP Race, que são os dois maiores – e mais pesados – equipamentos das modalidades do evento. Por sorte, as pranchas chegaram inteiras e ela está preparada para dar o seu melhor na competição.

“É uma honra representar meu país em duas modalidades completamente distintas uma da outra e ver que eu consegui chegar aqui graças às pessoas certas, ao meu esforço e também aos perrengues”, comemora ela.

PASA Games 2022

Nos dois primeiros dias do PASA Games, apenas os atletas de SUP Wave e longboard foram para água. Aline Adisaka confirmou que todo o esforço está dando resultado e já está na grande final, assim como a também representante brasileira Gabriela Sztamfater. A disputa do SUP Race acontece amanhã, dia 10.

Os Jogos PASA Panamá 2022 podem ser vistos ao vivo em www.pasasurf.org e no Pan Am Sports Channel.

*A repórter viajou a convite dos organizadores do evento.

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