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quinta-feira, 25 abril, 2024
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Tempo para respirar

A arte do movimento. É nisto que me baseio no dia a dia, sempre buscando algo a fazer, a descobrir, a melhorar. Às vezes me encontro em situaçōes com mil assuntos à volta, sem ao menos saber se é possível dar conta de tudo… Correr campeonatos, continuar treinando para os próximos, fotos para patrocinadores, gravaçōes do Canal OFF, manter a matéria em dia e estudar para as provas da faculdade, fazer pilates, cuidar do meu corpo, resolver questōes no banco, eventos aqui e ali, pegar pranchas novas, férias com a família, competir novamente, e mais viagem.

Chloé, no Arco do Triunfo, em Paris - uma viagem sem pranchas, entre família.
Chloé, no Arco do Triunfo, em Paris – uma viagem sem pranchas, entre família.

Esse foi mais ou menos o resumo do meus últimos 30 dias. Recém chegada da Austrália, onde comecei o ano de 2016 com vitória, tive três dias em casa para matar a saudade do meu pai e minha irmã, sessão de autógrafos e coquetel de comemoração dos meus patrocinadores, surfar, matar a saudade de açaí e pão de queijo. Desarrumar a mala para arrumar a próxima… Fui a Paris em uma viagem em família, sem pranchas. Foi ótimo para relaxar a mente, passear bastante e aproveitar o frio. Minha irmã, como estudante de desenho industrial, nos levou para um tour incrível por museus e pontos interessantes de lá para observar a arte e comportamento da cidade. De volta ao Rio, dois dias foram suficientes para cair na água, testar pranchas novas, e preparar o carro para pegar a estrada rumo a Santos, para competir no Festival Santos de Longboard, no Quebra-Mar.

Fomos presenteados com um swell incrível no feriado de Tiradentes, e o campeonato rolou com altas ondas. Há 3 anos que eu não competia no Brasil pela falta de eventos, então foi uma sensação maravilhosa competir “em casa”, com meus amigos e minha família por perto – tive a presença ilustre da minha avó de 80 anos, que nunca havia me visto surfar. Reencontrei toda a galera do longboard, e tive ótimas lembranças do início da minha carreira, quando comecei a competir no circuito brasileiro com 13 anos. Todo o acolhimento e a energia positiva que recebi das pessoas que encontrei, além da alegria de surfar altas com mais 3 meninas na água, me ajudaram a conquistar o título do evento.

Chloé vencendo o Festival Santos Long, no Quebra-Mar. Foto: Ivan Sartoti
Chloé vencendo o Festival Santos Long, no Quebra-Mar. Foto: Ivan Sartoti

Finalmente, estou de volta ao Rio de Janeiro, por um tempo… tempo indeterminado. Embora possa parecer difícil, tenho uma rotina em casa, que me deixa preparada para os próximos desafios. Para conquistar todos os meus objetivos, preciso de resultados. E para conquistar os resultados, preciso trabalhar. Agora já é uma época boa, com constantes ondulaçōes, temperatura mais amena. Aproveito para experimentar modelos novos e me manter no ritmo dos treinos. Surfo duas vezes ao dia – manhã e tarde – e levo para a praia de duas a três pranchas para surfar na mesma condição. Meus pais são meus treinadores, e minha mãe filma meus treinos para avaliarmos depois. Fora d’água, faço Pilates no Studio PilatesUP onde busco melhorar minha flexibilidade, resistência e força, além de inserir bastante alongamento ao longo do meu dia. Em paralelo aos treinos, faço uma visita semanal ao centro de quiropraxia Dr. Coluna, para cuidar da minha coluna e evitar lesōes, devido ao grande impacto dos movimentos do surf.

Voltando à falar em movimento, poucos dias em casa são o suficiente para eu já pensar sobre a próxima viagem e o que vem pela frente. Pretendo participar do máximo de campeonatos, visando me preparar técnica e psicologicamente para o Mundial de Longboard da China. O mundial é como uma “Copa do Mundo”, e quem fatura a etapa também leva para casa o título mundial, então é difícil de controlar a ansiedade e – de certa forma – a pressão. Percebi que no meu treinamento havia um “vazio” quanto ao psicológico, algo importantíssimo na composição de um atleta, já que não adianta ser o melhor surfista se não estiver com a mente tranquila e confiante. Para evitar o famoso “frio na barriga” na hora de vestir a camisa de competição, é preciso tornar o ato de competir corriqueiro, como um ritual… Assim explico a necessidade de correr o máximo de baterias esse ano, para chegar mais preparada no campeonato mundial. E, em meio à todos os treinos e viagens, estou cursando Administração na faculdade Estácio de Sá. O único jeito é à distância, onde assisto as aulas pela internet e faço as provas online ou no meu campus. Sei da importância dos estudos para a minha formação, então, na medida do possível, concilio meu tempo para estudar também. Já tentei iniciar alguns cursos presenciais, mas com o ritmo de viagem é algo impossível para mim nesse momento. E mesmo parecendo uma solução simples, não é tão fácil assim… No ano passado perdi a primeira chamada das provas quando eu estava no México e ficamos sem luz por conta do Furacão Patricia. E a segunda chamada foi na semana em que eu estava competindo no mundial na China.

Chloé em session de treinos. A longboarder surfa duas vezes por dia, de manhã e de tarde. Foto:
Chloé em session de treinos. A longboarder surfa duas vezes por dia, de manhã e de tarde. Foto: Fellipe Ditadi

Ufa!

Por mais que eu sinta falta da minha casa, e de uma certa “tranquilidade”, a cada dia que passa aprendo algo novo, e evoluo como atleta e pessoa. Prefiro atividades que me desafiem a atividades que me deixem estacionar. Isso serve para todos, sempre buscar algo que te impulsione para frente, te movimente. Como o constante movimento do mar. As ondas são as vozes das marés, que representam a vida: trazem alimento ás  criaturas que vivem na costa, e levam os navios ao mar. E o jeito é nos adaptarmos ao ritmo das ondas.

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