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Dorian Doc Paskowitz: 1921-2014

 


Durante oito décadas, Doc Paskowitz viveu a felicidade de surfar. Foto: Art Brewer

Por Kevin Damasio

“Durante minha vida toda tive medo de morrer”, contou, dois meses atrás, Dorian “Doc” Paskowitz. “Certa vez fui a uma festa e uma vidente disse: ‘Você viverá uma vida ótima, mas morrerá muito cedo’. Naquela época, eu tinha 16 anos, então pensei: ‘Bem, quando tiver 18, vou morrer’. Quando não morri aos 18, pensei que seria aos 28. Quando não morri aos 28, pensei que seria aos 38. Agora, desde que passei dos 88 – haha dá para acreditar? – não estou nem aí. Estou pronto para morrer”, completou Doc, abrindo os braços enquanto distribuía gargalhadas.

Foi com esse espírito que Doc viveu até a noite desta segunda-feira (10), quando faleceu aos 93, na companhia de amigos e familiares em um hospital de Newport Beach. O surfista e médico californiano deixa mulher, nove filhos e um legado de valor inestimável que envolve surf, saúde, felicidade e paz. Nas palavras de Kelly Slater, Doc era um exemplo de "verdade, luz, conhecimento e determinação”.

"É mais fácil morrer quando você viveu do que quando se morre sem ter vivivo", filosofava Doc. "Por isso eu digo para todos os jovens: ‘Vão fazer memórias – belas memórias. Porque, quando chegar a hora de partir, você não irá sozinho."

Paskowitz nasceu no Texas em 1921 e começou a surfar aos 12 anos, época em que a família mudara para San Diego. Lá, em meados dos anos 1930, ele trabalhava como salva-vidas em Mission Beach e ajudou criar uma cena de surf.

Em 1939, Doc fez a primeira trip para o Hawaii, onde conheceu seu ídolo Duke Kahanamoku. Depois, formou-se em Medicina na Universidade de Stanford e, em seguida, prestou serviço militar.


Irreverente e sábio, o médico e surfista é uma das figuras mais importantes da história do surf.  Foto: Reprodução

Um médico diferente, que percebeu que, como ele mesmo dizia, as grandes realizações que teve quando se trata de saúde não tiveram origem na medicina, mas sim do surf. Mesmo na casa dos 90 anos, Doc ainda tirava onda em cima da prancha.

“Ele era apaixonado por dieta e exercício”, escreveu Slater no Instagram, “mas seu maior desejo era ver paz em Gaza entre Israel e Palestina, e sempre acreditou que aqueles que surfam juntos podem viver juntos pacificamente”.

Judeu devoto, Paskowitz mudou-se para Israel em 1956, com sua pintail shapeada por Hobie Alter, na esperança de que árabes e judeus surfassem juntos.

“Depois de encontrar uma pequena comunidade de surfistas em Tel Aviv”, escreveu Matt Warshaw  na Encyclopedia of Surfing, “ele remou para um pico aparente bom próximo à Faixa de Gaza no momento em que a crise do Canal de Suez trouxe o fogo cruzado para a região; um soldado israelense ordenou que ele saísse da água e confiscou sua prancha, pensando que era um míssil inteligentemente disfarçado”.

Paskowitz acreditava que o surf poderia trazer a paz entre judeus israelenses e árabes palestinos. Em 2005, um momento quente no conflito secular entre Israel e Palestina, Doc criou a ONG Surfing for Peace, com o surfista israelense Arthur Rashkovan.

Dois anos depois, Arthur, Doc e o filho do americano, David Paskowitz, romperam a enorme burocracia na fronteira entre Israel e Gaza, para entregar 14 pranchas aos palestinos.

No ano seguinte surgiu o Gaza Surf Club, criado pela ONG Explore Corps, de Matthew Olsen. Para fomentar o surf  na Palestina, Doc continuava doando pranchas aos surfistas de Gaza, em uma árdua missão de convencer extremistas palestinos e judeus sionistas de que a finalidade das pranchas era nada mais do que se divertir.

O surf perde uma lenda. O que fica é o legado de que o surfar é primordial para a saúde, que, por sua vez, nas palavras de Dorian “Doc” Paskowitz, “é um estado de corpo, mente e espírito que, quando postos juntos, lhe guiam para a estrada certa”.

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