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Uluwatu, final: o Panda é um monstro!

Willian Cardoso é um monstro. Na manhã deste sábado (9), o rookie de 32 anos sagrou-se campeão do Uluwatu CT, sequência ao Margaret River Pro e oficialmente a quinta etapa do circuito mundial de 2018. Na final, Panda venceu Julian Wilson, vice-campeão e novo dono da camisa amarela. Antes da decisão masculina, Johanne Defay venceu Tatiana Weston-Webb e garantiu o troféu entre as mulheres.

A maior vitória na carreira de Panda vem carregada de significados. Talvez pela maturidade, conquistada durante os anos de esforço até chegar à elite de sua profissão, talvez por ser sua personalidade mesmo, Willian é um surfista diferente da maioria de seus colegas de circuito.

Após vencer a bateria da semi-final, contra Mickey Wright, concedeu entrevista a Kaipo Guerrero com os olhos cheios d’água. Os sentimentos de uma carreira de luta estavam todos ali, e Willian não tinha razão nenhuma para escondê-los – nem tentou fazer isso. Ao contrário, os sentimentos transbordaram em cada manobra, ajudando a empurrar baldes e mais baldes d’água a cada ataque ao lip. Pode parecer piegas, mas é a verdade: Willian surfa com o coração e isso é claro como a água de Uluwatu em um dia de sol e flat.

VEJA TAMBÉM: Uluwatu, dia 1 – A montanha-russa de Ítalo Ferreira

Além do volume monumental de água levantada a cada manobra, o ritmo e a fluidez com que Panda as encaixava, uma atrás da outra, foi o seu diferencial sobre todos os surfistas que enfrentou. A leitura de onda estava perfeita, nenhuma finalização foi atrasada, antecipada ou desperdiçada, nenhuma sessão foi passada por baixo, nenhum movimento foi feito à toa. Julian, Filipe e Mickey, os três enfileirados pelo Panda, ou encaixavam uma manobra forte e radical e não achavam o resto da onda, ou emparelhavam duas ou três patadas mais fracas, menos precisas, muito suaves se comparadas às de Willian.

Vale mencionar que Willian teve o benefício da dúvida no round 4. Precisava de uma nota boa para ultrapassar Connor O’Leary e pegou uma onda no finzinho. O que ele recebeu dos juízes foi suficiente para terminar o duelo 0,03 pontos à frente do australiano, na segunda posição. Não quer dizer que ele não tenha merecido a nota, e sim um sinal de como às vezes é difícil o trabalho dos juízes.

Quinto no ranking e indo para uma de suas ondas preferidas, J-Bay: até onde Willian pode chegar?

Para quem acompanha pelas bandeirinhas (nós, sim), o troféu assinala uma sequência esmagadora quatro vitórias brasileiras em cinco etapas disputadas no ano. Willian pula para a quinta colocação do ranking. Gabriel Medina, em quarto, Ítalo Ferreira, terceiro, e Filipe Toledo, segundo, logo atrás de Julian, completam um top 5 quase todo verde e amarelo – a exceção é a posição mais importante…

Filipe, Julian e Gabriel eram os surfistas que poderiam assumir a ponta depois da eliminação de Ítalo. Vamos por partes.

Medina faz um começo de ano enigmático. Alterna momentos em que parece imbatível, um nível acima de qualquer um, com outros de derrotas pelas mais variadas razões.

Em Bells perdeu para um surfista melhor; no Rio, para uma estratégia e escolha de ondas equivocada; em Keramas, ao que parece, pela emoção concentrada em disputas de remada; e em Uluwatu, finalmente, por um erro em uma manobra mas principalmente por 20 minutos em que o mar pareceu uma piscina.

No round 4, não conseguia arrancar notas boas manobrando de frontside e parecia encurralado por Willian e Connor O’Leary, que fez ótima apresentação. Até que descobriu os tubos. Nesse momento, ninguém no circuito entuba mais que Gabriel. Fez a primeira nota nove e a melhor média de todo o campeonato.

Caiu na finalização de sua primeira onda contra Mickey Wright e só foi pegar outra onda decente a menos de dez minutos do fim. O australiano se deu melhor em uma troca de notas apertada, entre tubos espremidos que os dois pegaram nos minutos finais. A vitória podia ter ido pra qualquer um, e a finalização errada, quando Gabriel ainda devia achar que pegaria dez ondas no duelo, fez muita falta.

Melhor do circuito nos tubos, Medina ainda não virou totalmente a chave para o seu melhor surf

Filipe comentou depois de sua bateria de quartas de final, quando perdeu para Willian, que não entendeu muito bem o julgamento em algumas ondas. Ele teve um pouco mais de oportunidades que Gabriel, mas quebrou a prancha no coral, ficou nervoso com as notas recebidas pelo amigo e acabou se complicando.

Antes disso, passou em primeiro no round 4 enquanto Mickey e Joan Duru sofriam para chegar aos dois dígitos na soma.

Enquanto Gabriel alcança um nível superior de surf em uma bateria ou outra, Filipe conseguiu fazê-lo em um campeonato e meio até agora – Saquarema e Snapper pré-Kirra. Ambos estão vendo que não é preciso reinar soberano em absolutamente todas as etapas para brigar pelo título. E a maior prova disso é o líder.

Uluwatu foi o evento em que Julian Wilson surfou melhor até agora. Ainda assim, avançou na semi em um resultado duvidoso contra Kolohe Andino, que vinha surfando melhor na bateria e no campeonato. Virou no finalzinho contra o americano e também contra Jordy Smith, nas quartas, mas este um resultado mais difícil de contestar. 

Ficou atrás de Willian durante toda a decisão, conseguiu um high score nos minutos finais e parecia que ia armar mais uma daquelas que deixam Medina traumatizado. Contra o Panda, nem teve a chance, pois a onda não veio.

Kolohe Andino mostrou um backside afiadíssimo e poderia ter feito a final contra Willian Cardoso

O circuito precisa sim de mais esquerdas manobráveis. Não é para gerar um suposto equilíbrio entre goofies e regulares, ideia já destruída pelas vitórias de Ítalo em Bells e Keramas. Mas sim para testar os tops em situações mais diversas, e assim fazer análise e seleção mais completas dos melhores do mundo.

Quem diria que Willian e Kolohe, por exemplo, teriam dois dos melhores backsides do circuito entre os regulares? Ou que Ítalo Ferreira não conseguiria transpor, tão imediatamente, o seu freesurf tipo pista de skate para a competição em uma esquerda rápida?

Uluwatu foi uma novidade sensacional. Fica a esperança de que a WSL a mantenha no circuito, seja lá qual for o plano que pretendem apresentar para 2019.

Resultados do Uluwatu CT

FINAL
Willian Cardoso 15.57 x 14.43 Julian Wilson

Semi-final
1. Julian Wilson 15.83 x 14.53 Kolohe Andino
2. Willian Cardoso 13.77 x 13.16 Mickey Wright

Quartas de final
1. Kolohe Andino 14.33 x 11.83 Conner Coffin
2. Julian Wilson 16.20 x 15.50 Jordy Smith
3. Mickey Wright 11.13 x 10.90 Gabriel Medina
4. Willian Cardoso 14.24 x 11.67 Filipe Toledo

Round 4
1.
Kolohe Andino 9.34, Jordy Smith 9.10, Owen Wright 8.47

2. Julian Wilson 14.13, Conner Coffin 13.04, Michael Rodrigues 11.50
3. Gabriel Medina 17.07, Willian Cardoso 14.66, Connor O’Leary 14.63
4. Filipe Toledo 10.50, Mickey Wright 8.83, Joan Duru 7.44

Fotos: WSL/Cestari/Sloane

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