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sábado, 16 março, 2024
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Sweet and Sour: Nada de ficar falando mal do verão

Por Janaína Pedroso

O tempo vai passando…

Faltam menos de 24 horas para entregar a coluna deste mês e nada, absolutamente nada, me vem à cabeça.

Uns vão dizer: “Nossa, mas essa não é sua profissão?!”; “Escreve aí alguma coisa interessante, senhora colunista-jornalista”. Outros podem indagar: “Caramba, mas já sem inspiração?”

Também me incomoda a falta de tema e assunto, que possa vir a se transformar numa coluna. Por onde andam os pensamentos na minha mente, hoje tão vazia? Algo precisa urgente se tornar, no mínimo interessante, e justificável de ser escrito e lido.

Que tal falarmos do vilão da vez? O tal micro plástico. Como se não bastasse termos que lidar com um volume insano de plástico nos oceanos e praias, agora temos que lidar com seu primo anão.

O planeta está pedindo socorro e dói saber que nós, seres humanos, somos os únicos culpados por essa decadência degradante.

Uma dúvida: o infeliz desse tal microplástico sempre existiu, e nós é que não o conhecíamos?! Ou é mais um incrível avanço recente da tecnologia maravilhosa do homem? (#sqn). Desculpem minha ignorância. Então, melhor não falar sobre isso. Senão daqui a pouco minha caixa de e-mail vai começar a pipocar: “Que merda você disse?”; “Não é bem assim, Janaína”; “Minha querida, não escreva sobre algo que você não entende”. Ok, ok. Lets change the subjetc, please!

Que tal então falarmos sobre o caótico verão? Ah o verão…

Eu costumava adorar o verão quando criança. Viajava com a família para o Guarujá para passar trinta dias na praia com meus avós, minha querida tia Ana Thereza (uma espécie de segunda mãe) e suas filhas (espécies de irmãs que nunca tive como filha única que sou), Dani e Gabi.

Meu sonho de criança sempre foi conseguir me teletransportar. Isso porque eu morava em Garça, uma cidadezinha de pouco mais de 40 mil habitantes, a muitos e muitos quilômetros distantes do mar.

Como o ser humano é um bicho insistente, eu e minha família enchíamos o carro e encarávamos horas e horas de estrada até o Guarujá, no melhor estilo Família Buscapé.

Toda vez que o dia de viajar chegava, rolava uma mistura de alegria e desespero. Lembro de não conseguir dormir, sofria por antecipação.

A viagem era um suplício, mas ao final viria a redenção e com ela o mar, aquele maravilhoso e misterioso espaço aquático com seu sabor salgado, seus cheiros particulares, suas cores mutantes.

Ah o mar que eu tanto admirava e me entregava por horas a fio…

Durante as quase dez horas de viagem dava tempo de recordar sobre os amigos do prédio. Será que estariam todos lá? O paquera da vez, quem seria? Os infinitos picolés e seus palitos premiados, o milho verde, a feirinha hippie. Dessa vez, voltaria para Garça de tererê no cabelo (aquela trancinha colorida que os hippies faziam nos turistas pra ganhar um troco).

Podia sentir o cheiro da maresia, do mofo do apartamento que passava o ano inteiro fechado à espera da família. O cheiro do esgoto a céu aberto, do soro caseiro (era batata todo ano rolava uma infecção intestinal), as conchas e suas lesmas, que pegávamos durante o dia e morriam durante a noite inundando a área de serviço com um cheiro fétido de marisco podre temperado com sal.

Durante as horas no carro, amaçada entre travesseiros, compras de supermercados e fraldas descartáveis, imaginava como seria incrível fechar os olhos e simplesmente acordar na Praia da Enseada.

Quando, naquela época, sonhava com o teletransporte, não imaginava que ainda hoje isso seria um desejo vivo. Algo muito, muito valioso e imprescindível para a minha plena felicidade.

“Viveria a base de água e biscoito só para escapar da multidão, do flat, do crowd, dos sem-noção que insistem em aparecer só no verão”

Para minha sorte, deixei o interior. Hoje vivo em Ubatuba e bem pertinho do mar, mas quando o verão se aproxima o desejo de simplesmente sumir reaparece.

Já imaginou piscar e estar num paraíso deserto? Numa Ilha perdida no Pacífico, com altas ondas? Só eu e Deus e minha prancha, claro, uma garrafa de água e um pacote de bolacha maisena. Juro que não precisava de mais nada.

Viveria a base de água e biscoito só para escapar da multidão, do flat, do crowd, dos sem-noção que insistem em aparecer só no verão.

Mas, que injusta eu. Um dia todos nós também fomos aqueles “sem-noção”. O prego que rema embaixo, que rabeia, que não sabe nem remar direito, mas tá lá todo pakitão com a GoPro no bico.

Tirando o lance da câmera, o avanço recente da incrível modernidade (neste caso não estou sendo sarcástica), todo surfista experiente já foi um prego, no bom sentindo. Então, por que estaria eu aqui apontando meu dedo para os que estão aprendendo e se divertindo nas marolas do verão?

Arrisco dizer, que apenas cerca de 20% desse crowd de verão vai realmente levar o surf pra vida. Vai acordar zero hora no inverno, quando o mar estiver storm. Vai planejar o ano inteiro a surf trip, muitas vezes para o mesmo destino e nunca, nunca vai se cansar de ir para o mesmo lugar. Vai se casar com alguém que entenda sua “outra” paixão, vai rezar pra que seu filho se torne um surfista.

Nada de ficar falando mal então do verão…

Que tal falarmos sobre as mudanças no Tour para 2019? Distante, batido. O incrível número de novos competidores brasileiros no tour? O ano novo do Medina na Bahia? A possível ausência histórica de Pipe no calendário do CT? Ou ainda lançar os dados e tentar a sorte e apostar no campeão de 2018?

Se você chegou até aqui, parabéns leitor, eu te enrolei direitinho. E me desculpe por essa coluna blasé. Realmente, não estou nem doce, nem azeda. Diria que estou sem sal. Até agora já se foi uma página e mais de mil palavras. Você é um vencedor!

Sem saber como, nem porquê. Boom!! Vem algo finalmente à cabeça. Ah Janaína, sabia que você não ia me decepcionar…

Ixi, mas agora não dá mais tempo.

Fica para o mês que vem então, combinado?

Um beijo grande e boas ondas!

 

Nota da colunista: quando penso que estou salva… Vem uma mensagem: “Jana, e a nota da colunista?! Manda uma mensagem relâmpago!” É meu editor. Verdade seja dita: meu chefe é um fofo (#prontofalei). Então, como ignorar um pedido do seu editor-chefe, ainda mais quando ele é gentleman? Vamos lá, então, para essa notinha que também é toda fofa, e que eu acho um charme na coluna. Opa, já foi? Já foi!
PS.: prometo que no mês que vem vou pegar pesado por aqui. Chega de fofurice! Vai ser chuva de tapa pra tudo que é lado!

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