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Surf Talks #3: a corrida ao título mundial começa a tomar corpo

Com três etapas e praticamente um terço do circuito já completos, Dadá Souza analisa no Surf Talks #3 a disputa pelo caneco que começa a se desenhar

Por Dadá Souza

Não dá para dizer que as ondas de Keramas decepcionaram. Todos os rounds rodaram com ondas e condições muito boas, mas com tantas esquerdas icônicas na ilha de Bali, a escolha pela direita de Keramas é sempre bastante discutida. Esse ano colocar a elite mundial para surfar ali soou como largar leões em um parquinho de crianças. Ondas pequenas, divertidas, perfeitinhas e tudo tão bonitinho que teria sido a trip perfeita para a maioria de nós, mas fala sério, os caras da elite mereciam uma onda mais desafiadora. Sem falar que ficar esperando por 14 dias para ver a final da etapa tornou o evento longo demais, quase tedioso. Claro que foi legal ver os surfistas do CT moendo as merrecas perfeitas, mas para uma etapa na Indonésia foi pouco. Keramas ficou com gosto de Keromais e tanto os competidores quanto o público mereciam um evento menos soft.

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O último dia foi o melhor dia da competição. As ondas estavam um pouco mais consistentes e diversas baterias pegaram fogo. Kanoa Igarashi venceu Jeremy Flores na final e conquistou sua primeira etapa no tour, a primeira vitória japonesa no circuito mundial e assumiu a vice-liderança do ranking, que deu uma mexida considerável.
Se o campeonato foi cheio de zebras, uma coisa não mudou: a lycra amarela continua nas mãos do havaiano John John Florence. Mesmo perdendo cedo o havaiano continuou na liderança do circuito.

Se no surf houvesse alguma lógica, John John Florence, Gabriel Medina, Italo Ferreira e Filipe Toledo são os caras que estão surfando um nível acima e que devem brigar mais a sério pelo título, mas isso não é novidade para ninguém e o surf não tem lá muita lógica.

O que foi quase uma novidade, foi uma final sem brasileiros. Keramas foi a primeira etapa do ano que não teve um brasileiro na final. Aliás, se a gente voltar nas últimas 14 etapas, o Brasil só esteve fora de três finais (Quik Pro Gold Coast de 2018, Quik Pro France 2018 e Keramas 2019).

Entre as meninas, a 7 vezes campeã do mundo Stephanie Gilmore venceu sua compatriota Sally Fitzgibbons e assumiu a liderança do ranking com direito a uma nota 10 na final. Caroline Marks, Courtney Conlogue e Carissa Moore estão logo atrás. A brasileira Silvana Lima esteve lesionada, voltou ao tour agora na etapa de Keramas e garantiu uma ótima 5ª colocação. Com apenas uma etapa surfada, Silvana é a 15ª do ranking.

Me parece muito nítido que o campeonato está mais disputado e mais acirrado que nos anos anteriores e que cada vacilo está custando bem caro aos competidores. A mudança nos rounds e nos pontos mexeu substancialmente no circuito.

A escala de pontos também mudou bastante. Esse ano o head judge Pritamo Ahrendt jogou a escala de pontos lá para baixo e os scores estão nitidamente mais baixos. Finalizadas as três primeiras etapas (Gold Coast, Bells e Keramas), apenas 12 somatórias superaram a casa dos 16 pontos. Gabriel Medina (19.13, 17.27 e 16.03), John John Florence (18.16, 17.67 e 16.80), Owen Wright (16.97 e 16.10), Italo Ferreira (16.53), Jeremy Flores (16.43), Filipe Toledo (16.17) e Reef Heazlewood (16.07). Tem sido duro para os surfistas verem suas ondas bem surfadas ganhando notas na casa dos 4 ou 5 pontos.

E em Keramas, quem diria, o surfe tradicional foi quase tão vencedor quanto o surfe progressivo. Kelly, Ace Buchan, Jeremy Flores e Wade Carmichael no mínimo equilibraram as disputas e chegaram às quartas surfando de borda. Numa ondinha que era para ser de alta performance acrobática os tiozinhos mandaram ver nos tubos e nas curvas.

Uma nota vergonhosa: Durante toda a competição a campanha contra os plásticos nos oceanos foi passada repetidamente. Deu uma certa vergonha ver os balineses lutando contra o plástico enquanto o Brasil se nega a participar do acordo para a redução do plástico…

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OS 11 BRASILEIROS NO TOUR

A saga dos 12 brasileiros continua firme, aguerrida, emocionante e promissora, só que depois de três etapas o grupo se dividiu em dois pelotões: o que está briga pelo título e o que está na briga pela classificação. Ambas as batalhas duríssimas nesse circuito que paga míseros pontos para quem perde cedo.

CAIO IBELLI – 31º

A vida do Caio Ibelli não anda nada fácil no circuito. Começou mal na Gold Coast e terminou na 33ª colocação. Reagiu em Bells e ficou em 17º , resultado que repetiu agora em Keramas. Caiu de 30º do ranking para 31º do ranking e vem fazendo um início de ano complicado. Sem resultados, sem patrocínio e tendo de bancar os altos custos do circuito mundial. Ao mesmo tempo me parece que ele anda aproveitando a vida e as ondas do tour com uma ótima energia. As poucas vezes que vi imagens dele em Bali me pareceu feliz, surfou bem no freesurf e não muito bem na competição. Caio errou bastante em suas baterias, não mostrou manobras tão fortes, mas foi legal vê-lo arriscando nas manobras aéreas em Keramas. Acabou derrotado pelo Filipe Toledo no Round of 32. Caio Ibelli vai para Margaret River precisando fazer um bom resultado. É preciso aproveitar melhor essa vaga do Mineiro, que daqui a pouco está de volta. No QS os pontos são ainda mais difíceis de serem conquistados.

 

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Que sonho! Um dia eu sonhei e hoje estou aqui, de pé vendo tudo passar. Coração cheio de alegria. Obrigado senhor! ? @charliecullenphoto | @aurasurfresort

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DEIVID SILVA – 19º

Deivid Silva vem fazendo um bom ano de estreia no tour. Ficou em 17º na Gold Coast, ficou em 9ª em Bells e em Keramas finalizou com a 17º colocação. Chegou na terceira etapa do ano como top 16 do ranking e com ondas pequenas e para direita, o que é a sua especialidade, mas a verdade é que seu surfe não se encaixou tão bem Keramas. Começou mal no Seeding Round, conseguiu passar pela repescagem, mas acabou eliminado no Round of 32 pelo australiano Wade Carmichael. Talvez tenha faltado um pouco de sorte em suas ondas, talvez tenha faltado um pouco de brilho no seu surfe, mas finalizar 3 etapas na 19ª colocação não é nada mal para um estreante. No CT suas manobras e sua ousadia terão de crescer, mas já foi um ótimo início de ano. Vamos ver como ele encara as ondas grandes, a água gelada e os tubarões brancos de Margaret River.

FILIPE TOLEDO – 4º

Filipe Toledo vem sendo um dos principais nomes do ano. Não começou tão bem na Gold Coast e terminou em 9º. Em Bells Filipe surfou muito bem e foi o vice-campeão da etapa. E agora em Keramas finalizou na 5ª colocação. Acabou derrotado nas quartas de final pelo norte-americano Ke11y Slater. Kelly e Filipe fizeram uma das melhores baterias do evento, com toques de genialidade de ambos os lados. O confronto foi para os tubos e havia uma certa tensão no ar. Kelly competiu com maestria e imprimiu um ritmo forte na bateria. Filipe bem que poderia ter virado, passou 7 minutos com a prioridade nas mãos e não conseguiu achar nenhuma onda. Precisava só de 5.98. De um jeito ou de outro o mind game de Slater funcionou, o Filipe desacelerou e o tio Kelly levou a vaga na semi. Não achei que o 7.33 do Kelly valesse essa nota, principalmente com esse novo critério de julgamento. Teve também aquela história que o Strider comentou. Uma onda entrou, Filipe foi nela e o Ricardinho Toledo assoviou da areia para ele não ir. Filipe desistiu e ela acabou sendo boa — e isso o teria desconcentrado.

Ainda não vi no surfe do Filipe o mesmo punch e a mesma velocidade que vi em 2018. De alguma forma ele parece mais relaxado e mais tranquilo esse ano, inclusive quando perde. A gente sabe que quando o Filipe liga aquele modo turbo-nitro-explosive não tem para ninguém, mas em 2019 ele parece estar surfando sem usar seus superpoderes. Está surfando muito e com certeza é um dos melhores surfistas do ano, mas aquele “sangue nos olhos” faz falta. Em Margaret River, Filipe tem um bom histórico, já fez semifinal por lá em 2017 e já tem alguma experiência nas ondas da West Australia.

GABRIEL MEDINA – 10º

Gabriel Medina foi 5º na Gold Coast quebrando, repetiu a 5ª colocação em Bells, mais uma vez quebrando, mas em Keramas não conseguiu nem um bom resultado, nem mostrar seu surfe. Ficou atrás do local Rio Waida no Seeding Round somando 3.77 e 5.77 e acabou derrotado pelo italiano Leonardo Fioravanti no Round of 32. Sua maior nota na competição foi um 5.83. Faltou sorte? Faltou onda? Faltou foco? Não deve ter sido agradável chegar em Keramas como Top 5 do ranking e sair de lá como Top 10. Cair 5 posições quando você está tão perto do topo é sempre frustrante. Se esse 17º for um de seus descartes em 2019 está tudo certo. Medina está com um ritmo impressionante e tende a crescer muito do meio para o final do ano, mas se tem um ponto que o nosso bicampeão mundial pode melhorar é na escolha de suas ondas. Ninguém mais duvida da sua capacidade de transformar ondas pequenas ou fechadeiras em notas altas, mas escolher melhor suas ondas pode facilitar bastante o seu trabalho. Fora isso não vejo um único ponto fraco em seu surfe.

ITALO FERREIRA – 3º

Italo vem fazendo uma grande temporada em 2019. Venceu a primeira etapa na Gold Coast, em Bells ficou em 5ª e agora em Keramas ficou com a 17ª colocação, surfando suas baterias com uma lesão no tornozelo. Provavelmente por isso, acabou eliminado pelo australiano Jack Freestone no Round of 32. Italo chegou em Keramas como defensor do título da etapa e sua saída precoce surpreendeu. Deu sorte porque sua vantagem era muito boa e só caiu uma posição no ranking. De Top 2 para Top 3. São duas as metas do Italo: melhorar sua regularidade e ficar longe das lesões. O que podemos esperar dele em Margaret River? Ele já fez semifinal por lá em 2014, é um excelente competidor em ondas desafiadoras, mas a lesão continua ali, incomodando.

JADSON ANDRÉ – 31º

Definitivamente não podemos dizer que o Jadson começou o ano mal. Antes mesmo do CT começar Jadson já chegou na Austrália como líder do QS e praticamente classificado para o CT 2020 com 3 finais consecutivas, mas a verdade é que no CT sua vida não está nada fácil. Ficou em 33º na Gold Coast, em 17º em Bells e novamente em 17º agora em Keramas. Os resultados não estão acontecendo, mas a verdade é que o Jadson vem surfando muito bem e vai atrás das notas com afinco. Seu surfe não tem o mesmo nível acrobático da nova geração, mas sua determinação é incrivelmente forte. Não sei se acredito em um bom resultado dele em Margaret River, mas o Jadson é aquele cara que surfa com o coração na ponta dos pés e que detona de backside e ele sabe que um bom resultado no CT não cairia nada mal.

JESSE MENDES – 26º

Com um 17º na Gold Coast e um 33º em Bells, Jesse chegou em Keramas como 30º colocado no ranking. Esse é o segundo ano de Jessé no tour e mais uma vez ele começa na parte de baixo do ranking. Quando Keramas começou e Jesse ficou em 3º em sua bateria de estreia no seeding round, em vez de sufocar com a pressão, Jessé passou pelo Elimination Round derrotando Sebastian Zietz, fez uma ótima bateria no Round of 32 quando eliminou o sul-africano Jordy Smith da competição e só foi derrotado por Kanoa Igarashi, o campeão do evento, no Round of 16. A 9ª colocação em Keramas o fez subir 4 posições no ranking e certamente deu uma confiança a mais, que será necessária e muito bem-vinda em Margaret River.

MICHAEL RODRIGUES – 14º

Michael Rodrigues começou o ano com uma 17ª colocação na Gold Coast, em Bells foi terminou novamente na 17ª colocação e chegou em Bali como o 23º do ranking. Só que em Keramas Michael Rodrigues encontrou ondas que favoreciam o seu surfe, estava bem orientado e surfou com muita confiança. Passou em 2º no Seeding Round, atrás de John John Florence, eliminou o brasileiro Yago Dora no Round of 32, eliminou Julian Wilson no Round of 16, derrotou Wade Carmichael nas quartas de final e foi até a semifinal da competição, quando foi derrotado por Jeremy Flores. Michael Rodrigues fez ótimo evento em Bali, fez seu melhor resultado na elite, e subiu 9 posições no ranking. Foi legal ver o Michael surfando com confiança e ousadia. A parceria com o Pinga já está rendendo frutos. Dependendo da condição pode surpreender em Margaret River.

PETERSON CRISANTO – 19º

Peterson Crisanto não começou muito bem na Gold Coast e finalizou o evento na 17ª colocação. Eem Bells surfou bem melhor e terminou na 9ª colocação. Chegou a Keramas como Top 16 do ranking e com um certo alívio. Começou o campeonato ficando em 2º no Seeding Round atrás de Filipe Toledo, mas no Round of 32 acabou derrotado pelo campeão do evento Kanoa Igarashi. O “Urso” surfou bem, entubou, voou alto, mas acabou errando bastante também. Peterson Crisanto foi um dos poucos a arriscar em grandes manobras aéreas e foi legal ele mostrar um pouco do seu repertório de manobras. Creio que no CT será preciso um pouco mais de consistência e um pouco mais de regularidade, mas 19º em 3 etapas já é um bom começo. Em Margaret River Peterson terá mais uma chance de mostrar que tem surfe para permanecer na elite.

WILLIAN CARDOSO – 15º

Willian fez um bom evento na Gold Coast e acabou na 9ª colocação. Em Bells repetiu um 9º e foi para Bali como Top 9 do ranking. No Seeding Round Willian não conseguiu surfar bem e acabou na 3ª colocação. Passou pelo Elimination Round eliminando Ezekiel Lau e passou de fase, mas acabou derrotado por Jeremy Flores no Round of 32. Willian surfou forte, inverteu sua prancha sempre que pôde, jogou bastante água pra cima e teria avançado para o Round of 16 não fosse uma virada de Jeremy Flores nos últimos 10 segundos de bateria. Com a derrota no R32, Willian caiu 6 posições no ranking Em Margaret River seu peso e sua experiência devem ajudar e como a fase é boa existe uma boa oportunidade de recuperar esse terreno perdido. Que o Panda amasse seus adversários.

YAGO DORA – 19º

Yago Dora começou o ano com uma 9ª colocação, finalizou como 17º em Bells e chegou na Gold Coast como Top 16 do circuito. Nada mal para um estreante. Em Keramas estreou com vitória no Seeding Round, mas acabou derrotado pelo brasileiro Michael Rodrigues no Round of 32. Felizmente sua derrota precoce no R32 o fez perder somente 3 posições no ranking. Poderia ter saído mais caro. O talento de Yago continua admirável de se assistir, mas acho que precisa errar menos e precisa ter mais sangue nos olhos. Tenho a impressão que ele conseguiria surfar mais rápido se quisesse.

Que venha Margaret River!

A propósito, Snapper Rocks, Bells Beach e Margaret River são picos clássicos e icônicos para os australianos, todos com ondas sensacionais, mas será que o circuito da WSL algum dia conseguirá se desvincular do circuito da ASP? Três etapas no quintal dos australianos não parece demais? Ninguém na WSL pensa em fazer um circuito com novas ondas?

O texto é de livre autoria do colunista e não reflete necessariamente a opinião da HARDCORE.

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