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Quik Pro dia 3: no quem é quem do CT 2019, Medina é o líder

Gabriel Medina ultrapassa os 19 pontos na melhor apresentação do ano até agora; Yago, Filipe, Italo e Willian também avançam às oitavas do Quiksilver Pro

Por Fernando Guimarães

Quem é quem no CT em 2019? Essa pergunta começou a ser respondida na noite desta quinta (4/4), manhã da sexta-feira na Austrália. A terceira rodada do Quiksilver Pro Gold Coast foi o primeiro dia real de competição na elite mundial neste ano.

O que a experiência do novo formato nos ensinou? Que as primeiras rodadas são um aquecimento. Quatro surfistas são eliminados, os quatro que ficaram em último duas vezes seguidas. Você segue vivo com um 3º e um 2º. São duas rodadas em que erros, quedas da prancha e falta de intensidade são perdoados. As primeiras 16 baterias servem mesmo para definir o pareamento de cada etapa a partir do round três, quando a competição começa para valer.

A primeira rodada de duelos homem-a-homem apresentou as credenciais verdadeiras de cada um. Sem margem para erro, sem tempo para respiro. Surf no limite. Intensidade total.

Quem se sobressaiu? Gabriel Medina acima de todos. Italo Ferreira. Filipe Toledo. John John Florence. Sim, ele voltou. Yago Dora. Mikey Wright.

Veja também: “Voltei para ser campeão mundial”, diz John John Florence

O circuito vai mudar de ares e expor os surfistas a condições muito diferentes, em que outras habilidades serão testadas, possivelmente os pontos fortes de alguns surfistas que não estão nessa lista. Mas quem quer brigar pelo título mundial tem que estar nessa lista, mesmo que a etapa esteja rolando em um beach break, e não em Snapper. Tem que estar na lista de Bells. De Saquarema. Keramas. Teahupoo. Pipeline. Em todas.

Gabriel Medina tirou a primeira nota dez do ano. A nota foi achatada para 9,80, como a direita de Filipinho no Surf Ranch, mas todo mundo que viu sabe que aquilo foi um dez. Ele já tinha um nove. Aéreos: um alley oop (na onda que virou descarte), um aéreo reto muito alto, um aéreo full rotation, um aéreo reverse — estes três últimos na onda nota 10 9,80. E talvez não tenho sido o mais impressionante de sua apresentação.

Aéreos são quase certeza de notas altas. Mas Medina arrancou o primeiro nove do ano na parede da onda, de backside. Foram quatro marretadas sem uma tremida de prancha entre elas — base, porrada, base, porrada, e assim vai. Como pode a manobra mais repetida de todo o surf parecer inédita? Medina está nesse nível. Existem batidas de backside e existe aquilo. Italo provavelmente consegue equipará-las. Mais alguém?

Filipe Toledo abriu o dia. Dá pra dizer que passou sufoco? Ficou atrás do minuto zero ao minuto 35. Demorou mais de 10 minutos para pegar uma onda e viu o rookie Soli Bailey soltar-se no pico, testar uma bancada aqui, outra ali, variar seus ataques às ondas… ficar à vontade. A cinco minutos do fim, Filipe casualmente arrancou uma nota oito e virou. Sem arriscar, apenas agredindo uma direita com sua velocidade sem par no circuito. Sufoco? Não. Ele ainda aumentou a diferença algo como 30 segundos depois, só para garantir.

John John entrou na água no meio da bateria de Filipe — as tais baterias simultâneas. Já escrevemos aqui mas não custa repetir. John consegue surfar tão bem quanto antes? Sim. John quer vencer competições tanto quanto antes? Sim. Isso é tudo. Ele e Filipe se enfrentam na primeira bateria da rodada seguinte, a primeira deste ano com ares de briga pelo título mundial.

Filipe Toledo no Quiksilver Pro Gold Coast 2019
Filipe até achou um tubo, mas foi cravando a borda que ganhou a bateria já no final. Foto: Dunbar /WSL

Yago Dora tem algo que 99,99% dos surfistas invejam sincera e profundamente: estilo. Faz o difícil parecer fácil, faz o absurdo parecer natural. Infelizmente, isso parece jogar contra ele no CT. Para ele, suas notas não foram maiores porque os aéreos não foram tão altos, “as rampas não estavam boas”. É verdade que Joan Duru exigiu o seu melhor, massacrando direitas com um backside quase no nível de Medina. Mas Yago precisará lidar com isso. Se dar um aéreo, para ele, é fácil, vai ter que fazer como Gabriel. Mandar dois. Ou três.

Os dois se enfrentam na rodada seguinte. Segunda bateria com cheiro de briga pelo mundial? Yago terá esse duelo, esse evento e o restante do ano para responder.

Yago Dora no Quiksilver Pro Gold Coast 2019
Yago fazendo o absurdo parecer natural (em vídeo fica mais claro). Foto: Cestari / WSL

Italo Ferreira contra Ricardo Christie, nessas condições — o vento de sul levantando o fundo da prancha e então a segurando no ar nos aéreos para a esquerda, e apenas um dia depois de Italo vencer alguns dos maiores aerialistas do mundo em condições idênticas naquela mesma praia — era uma covardia. Italo venceu a bateria em cinco minutos. Mas a história não é essa. A atuação espetacular do potiguar — um aéreo atrás do outro, variando giro, grab, altura, direção, distância percorrida, local de aterrissagem — forçou o surf de seu rival para cima.

Ricardo tentou coisas novas — rabetada embaixo do lip, rabetada em cima do lip, rasgada de layback, club sandwich… Foi obrigado a buscar soluções, mesmo que o problema fosse aparentemente impossível de se resolver. Kiwis são diferentes de australianos. São mais aguerridos, assim como os brasileiros. Christie não é o surfista mais exuberante, mas não tem medo nem orgulho que o impeça de tentar melhorar. Não foi o caso com Italo em D’bah, mas ele vai engrossar o caldo pra muita gente.

Falando em aguerrido, Willian Cardoso começou o ano bem. Despachou Michael Rodrigues, que era o favorito de muita gente naquelas condições (pra mim, inclusive — Michael estava no meu Fantasy e agora eu rodei legal). Panda tem uma arma poderosa. Três ou quatro caras brigam pelo título mundial e tem o surf completo. Mas o CT não é feito exclusivamente de aerialistas. Michel Bourez, Conner Coffin, Wade Carmichael… São caras que frequentam o top 10 sem o apelo do surf progressivo. Ele pode chegar lá. Mas sua arma não pode falhar. Nunca.

Na próxima rodada, enfrenta Italo Ferreira.

Italo Ferreira no Quiksilver Pro Gold Coast
Imbatível? Italo já venceu um campeonato nesta semana em D’bah. Foto: Dunbar / WSL

Mikey Wright surfou bem contra Jack Freestone, um rival difícil: local da Gold Coast, aerialista etc etc. Estará no nível dos melhores? Vai entrar no clube de Medina, Filipe, Italo? A ver…

Jesse Mendes foi apático contra Kanoa Igarashi. Peterson Crisanto surfou bem contra Kolohe e esteve a uma manobra de vencer o californiano, o club sandwich que já havia acertado no R2. A manobra não saiu, mas todo mundo viu seu potencial no nível mais alto que há. E não está devendo.

Quem também esteve a uma manobra da classificação foi Deivid Silva, que apostou em um aéreo girando na regressiva contra Michel Bourez após uma bateria de poucas ondas. Difícil avaliar algo deste duelo porque o mar piorou mesmo.

O sistema que joga água do Rio Tweed para a bancada atrás de Snapper está funcionando a todo vapor. Jordy Smith disse que viu Joel Parkinson pegar um tubaço atrás das pedras na quarta. Se o palco mudar, temos novas cartas em jogo. Mas seja Snapper, seja D’bah: temos um começo de ano. Um senhor começo de ano.

Quik Pro Gold Coast – Resultados do Round 3

1: Filipe Toledo 13,93 x 11,50 Soli Bailey
2: John John Florence 14,83 x 11,20 Adrian Buchan
3: Kanoa Igarashi 13,14 x 8,50 Jesse Mendes
4: Conner Coffin 11,00 x 8,70 Jeremy Flores
5: Reef Heazlewood 16,07 x 13,40 Julian Wilson
6: Seth Moniz 12,60 x 12,57 Griffin Colapinto
7: Kolohe Andino 14,10 x 11,90 Peterson Crisanto
8: Owen Wright 10,14 x 5,00 Ezekiel Lau
9: Gabriel Medina 19,13 x 12,23 Mateus Herdy
10: Yago Dora  15,64 x 14,57 Joan Duru
11: Jordy Smith 11,27 x 10,53 Ryan Callinan
12: Mikey Wright 14,26 x 10,40 Jack Freestone
13: Italo Ferreira 16,53 x 13,10 Ricardo Christie
14: Willian Cardoso 13,47 x 12,13 Michael Rodrigues
15: Wade Carmichael 15,50 x 8,80 Sebastian Zietz
16: Michel Bourez 10,96 x 9,70 Deivid Silva

Oitavas de final:

1: Filipe Toledo x John John Florence
2: Kanoa Igarashi x Conner Coffin
3: Reef Heazlewood x Seth Moniz
4: Kolohe Andino x Owen Wright
5: Gabriel Medina x Yago Dora
6: Jordy Smith x Mikey Wright
7: Italo Ferreira x Willian Cardoso
8: Wade Carmichael x Michel Bourez

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