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quinta-feira, 14 março, 2024
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Polaroids, Noseriding e Outras Viagens, com Chloé Calmon

Ao final de uma viagem, sempre dá aquela saudade de casa, da própria cama, da comida feita com carinho. Mas há também aqueles lugares em que você se sente tão bem, que não dá vontade de voltar para a rotina. Esses picos, eu chamo de lugares mágicos.

Portugal, para mim, é um deles. Voltei recentemente do que chamo agora de “Terrinha Privilegiada”, onde competi no Longboard Pro Gaia, etapa da WSL. Eu já havia estado lá em 2016, onde conquistei a vitória, então desembarquei desta vez somente com sentimentos bons no ar. A proximidade com a cultura do Brasil, e o fato de falarmos a mesma língua, são fatores muito positivos e me deixam muito mais tranquila para viabilizar situações.

Portugal é conhecido pelas ondas fortes e geladas para os surfistas de pranchinha, mas há vários picos com ótimas ondas para o Longboard. A modalidade está em constante ascensão por lá e, cada vez mais, são vistos pranchões no outside.

O cenário de competições é bom, contando com um vasto circuito nacional e mais duas etapas da LQS da World Surf League. Vários nomes portugueses permeiam a faixa dos vinte anos de idade. E penso ser questão de tempo para Portugal ter representantes no circuito mundial.

A viagem começou em Vila Nova de Gaia, cidade vizinha ao Porto, onde aconteceria a etapa do Mundial. No início demorei um pouco para me acostumar com a água gelada e a surfar com wetsuit de 4/3. E por esses e outros motivos, vale avisar que o ideal é sempre chegar uns dias antes da competição começar.

Com tempo a favor, aproveitei para me familiarizar novamente com a onda de Canide Norte, e encontrei condições bem diferentes em relação ao ano passado. Nos primeiros dias tivemos ondas de 2 metros e fechando bastante. O mar perdeu força durante as finais, e com isso era mais fácil de encontrar esquerdas e direitas com boas paredes para manobrar e pontuar. O nível entre as atletas estava bem alto, com várias integrantes do Tour dentro d’água. Da minha bateria das quartas de final em diante, era só WLT.

Ao viajar constantemente, é essencial para o atleta entrar em sintonia com o lugar para tudo fluir de uma maneira melhor. E posso dizer que a minha ligação com Portugal é de outro mundo. Tenho vários amigos por lá, todos os portugueses que cruzaram meu caminho estavam sempre com um sorriso no rosto ao me ver.

Eu também me sentia mais feliz na água, mais confiante com o meu surf e, consequentemente, mais tranquila. Essa energia boa potencializava para melhor todo o meu trabalho.

Eram longos dias, com o sol desaparecendo por volta das, acredite, 21h30, sempre se despedindo em grande estilo com lindos finais de tarde.

Na final surfei com a Rachael Tilly, campeã mundial de 2015, e consegui me manter calma e escolher as melhores ondas, conquistando o bicampeonato em Portugal. Ao sair da água, fui recebida pela minha mãe, Ana. Minha companheira para todas as horas.

O evento foi uma bonita celebração ao Longboard. E após a competição, tirei uns dias para explorar um pouco mais do norte de Portugal. Também aproveitei para passear pelo país. Nada mais justo, aproveitar alguns dias de “menina”.

Degustei prazerosamente a cozinha portuguesa: pasteis de nata e a francesinha são meus pratos favoritos. Passamos uma tarde incrível à beira do rio d’Ouro no Porto, passando pelas incontáveis caves de vinhos do Porto.

Chloé conquistou o bicampeonato em Portugal. Foto: Divulgação

Depois, paramos em Viana do Castelo, onde fui conhecer o Surf Clube e o Centro de Alto Rendimento de Surf; estrutura com academia, alojamento e escola. Na cidade, atividades ligadas ao mar fazem parte da grade curricular dos jovens. Há também um belo trabalho voltado para o surf adaptado, e um dos momentos mais marcantes da viagem pra mim foi surfar com a Marta, uma menina de 11 anos que surfa há poucos meses, o detalhe, é que ela nasceu cega. Ver como ela superava sua limitação e ficava de pé na hora certa, e sentir a sua felicidade ao final de cada onda foi uma sensação indescritível.

Chegou a hora de pegar estrada para o sul, em busca de uma verdadeira reserva mundial de surf. Ericeira é uma verdadeira “surf city”, com o ar de cidade pequena. Me hospedei na casa de um amigo do meu pai, grande surfista local e treinador de vários atletas portugueses, conhecido como Pyrrait, junto com sua esposa Carlota. Como num verdadeiro surf tour, conheci as praias dos Coxos, Pedra Branca, e a famosa Ribeira D’Ilhas.

Foi muito legal aproveitar o início do verão europeu com seus longos dias de sol. Até chegar a Lisboa, atualmente a cidade mais badalada da Europa, passamos alguns dias em frente à praia de São Pedro do Estoril, que parece ser desenhada de tão linda. O recorte das pedras se juntando com o mar, formando pequenos cliffs nos oferece uma vista incrível.

Chloé, fora d’água, aproveita encantos lusitanos além das ondas. Foto: Divulgação

Pegamos o “comboio”, o trem de Portugal e depois de 30 minutos chegamos à Baixa de Lisboa, um dos lugares mais visitados na capital. Andamos por ruas movimentadas e ruas estreitas, visitamos igrejas e confeitarias tradicionais, e ao final do dia que marcava 40 graus, molhamos os pés na beira do Rio Tejo.

Para fechar com chave de ouro, meus amigos portugueses me levaram para surfar na Costa da Caparica, e lá encontramos ondas pequenas e perfeitas para o Longboard. Fiquei surpresa com água quente, e pude dispensar o uso do “fato comprido” (como eles chamam o long John), e as marolas ficaram ainda mais divertidas.

É, não deu mesmo vontade de ir embora… Quanta qualidade de vida. Acho que já posso dizer que encontrei minha segunda casa. Foi fixe! 

Matéria publicada na HARDCORE #330

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