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O que pensam os gringos sobre os surfistas brasileiros – Parte III

Você já parou pra pensar no que pensam os gringos sobre os surfistas brasileiros?

As respostas podem ser inúmeras e as mais variadas possíveis, porque, afinal, a percepção de cada ser humano é única.

Mas em uma das edições da REVISTA HARDCORE, fizemos essas perguntas a quatro personalidades da comunidade – Sean Doherty, Chris Binns, Ryan Miller e Jamie Brisick – e as respostas são variadas e interessantes.

Confira AQUI a primeira parte da matéria. E AQUI a segunda.

A seguir, você lê a terceira e última parte da matéria “O que pensam os gringos sobre os Brazzos”, publicada na HARDCORE 323


Publicado na HARDCORE de novembro (#323)

Texto: Steven Allain
Foto de abre: Filipe Toledo, durante o France Pro. Crédito: Trevor Moran

O que te intriga nos surfistas brasileiros?


DOHERTY:

O que mais me intriga no momento é por que não há surfistas mulheres brasileiras no Tour.

Uma geração atrás, havia um grupo de mulheres brasileiras, mas desde a Silvana não temos visto mais nenhuma brazuca. Onde estão elas, e porque não estão no Tour? Razões econômicas? Razões sociais? Eu adoraria saber, porque o surf feminino não para de crescer em todo o mundo.

BRISICK:

Eu tenho enorme respeito pelos surfistas brasileiros no Tour. Passei tempo suficiente em São Paulo e no Rio para ter uma boa compreensão da cultura e história brasileiras. Eu amo o Brasil profundamente. Um pedaço do meu coração vive lá.

Fico mais intrigado/perplexo não com os surfistas brasileiros, mas pela maneira com a qual os surfistas de outros países não conseguem entendê-los. Não procuram saber mais profundamente o que significa vir do Brasil, ou pelo o que o país passou em sua história. É uma pena que a cultura do surf seja tão homogeneizada. Surfistas profissionais brasileiros são julgados através de uma lente estritamente atlética. Não há curiosidade suficiente da galera de fora. A maioria dos surfistas acha que o Brasil se resume a “Garota de Ipanema, açaí e caipirinha”. Eles não olham para além da praia.

BINNS:

Quando vocês escrevem “BRASIL!!!” por toda a internet, a qualquer esboço de um sinal de um momento glorioso de algum brazuca, sem brincadeira, já sabemos de onde vem Gabriel e a Brazilian Storm, estamos amarradões por vocês. Mas você está se passando por um tolo e isso só leva a mais discussões online. Depois, há a questão de Deus. Obviamente o Deus do surf brasileiro é muito melhor do que o Deus do surf americano, já que os seus devotos dominam os devotos deles no Tour (CJ Hobgood e Brett Simpson). Mas tudo parece ser jogado fora quando o cara com um crucifixo tatuado nas costas é o mais chato no lineup. Será que ele realmente gostaria que os outros fizessem o mesmo com ele? O número de citações bíblicas e terços tatuados no corpo parece ter correlação direta com a probabilidade de começar a apavorar os outros ao menor sinal de uma rabeada ou qualquer outra transgressão. E isso é desconcertante. O que Jesus faria? Provavelmente não iria me dar a volta e começar a berrar comigo, imagino.

MILLER:

A língua. Eu estaria fodido se tentasse falar qualquer coisa que não fosse inglês, e ver esses caras mudando do inglês para o português e vice-versa como se fosse a coisa mais fácil do mundo, me deixa um pouco deprimido, para falar a real – pois demonstra o quão ignorantes nós, americanos, somos.

Caio Ibelli, Portugal.

O que mais te encanta no Brasil e nos brasileiros?

DOHERTY:

A comida e a alegria contagiante dos brasileiros.

BRISICK:

Amo a paixão, o espírito, o calor e a exuberância do povo brasileiro. Eu sempre digo que me livrei de muitas das minhas características de “garoto branco americano de classe média” no tempo que passei no Brasil, e na época que fui casado com uma brasileira. Aprendi a relaxar, a me soltar, a me entregar mais na vida. Tive experiências maravilhosas que nunca vou esquecer. O Brasil realmente se abriu e revelou-se para mim quando me afastei da parte do surf. Através da minha falecida esposa, formada na FAAP, documentarista, conheci caras gentis e sensíveis, que estavam longe do estereótipo “machão, agressivo e fominha”. Talvez seja um certo tipo de brasileiro que segue esse caminho, na busca por ondas na Indonésia e no Hawaii. É triste que este seja o estereótipo que os surfistas tenham dos brasileiros.

BINNS:

Eu adoro quando um “brazzo” (como os “aussies” chamam os brazucas) entende o senso de humor australiano. Ele não se ofende tão facilmente, entra na zoação e de repente estamos todos na mesma sintonia e o lineup fica mais leve. Você também tem de respeitar qualquer um que realmente ame o surf, e os brazzos trabalham mais que qualquer um para torná-lo parte de sua vida. Eles encaram qualquer perrengue, viajam o mundo num esquema favela, vivendo à base de arroz e água se necessário, só para surfar ondas perfeitas – algo que poucos de nós, gringos, estamos dispostos a fazer.

MILLER:

Sentado aqui, olhando para o meu teclado por 15 minutos, eu honestamente não consegui agrupar tudo em uma resposta simples. Eles são todos indivíduos tão diferentes que, seriamente, a única coisa que tem em comum são seus passaportes e sua língua. Eu adoro todos eles, por razões completamente diferentes.

 

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