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ENTREVISTA: JAMES B

Por Steven Allain | HC308 – Julho/15

 

Se você acompanha os fóruns de discussão nos principais sites de surf do Brasil e do mundo, provavelmente já leu algum comentário feito por “JAMES B”. O codinome foi criado por um brasileiro para participar, anonimamente, das principais discussões que rolam no universo online – e é hoje um dos mais reconhecidos, celebrados e criticados “comentaristas” da internet. Uma das condições para essa entrevista era a de que não revelaríamos a identidade de JAMES B. Mas seu nome verdadeiro pouco importa. Pois esse nordestino de 41 anos, pai de família e fissurado em surf – acorda todos os dias às 5h30 da matina para pegar onda – tem travado uma guerra de um homem só em nome do surf brasileiro. Ele rebate, quase diariamente, aqueles que atacam o Brasil, nossa cultura e nossos surfistas nos fóruns de discussão, principalmente os mais ofensivos – porém sempre com bom humor, perspicácia e educação. JAMES B. é tão incansável e onipresente, que virou uma lenda entre a galera que comenta regularmente na internet. Tanto que a revista australiana STAB – que o elegeu como um dos melhores comentaristas do ano em seu site – tentou descobrir sua identidade rastreando seu IP (obs: falharam). Depois de algumas semanas navegando pelos labirintos da internet, a HARDCORE conseguiu encontrar e conversar com JAMES B. por skype – e descobrimos que além de veloz no teclado, o cara sabe muito de surf.

 

Quando começou a participar dos fóruns com frequência?

Cara, eu pego onda há muito tempo, há mais de 30 anos. Sou um surfista fissurado, acompanho muito o Circuito Mundial. Assisto a todos os eventos. Acompanho muita discussão. Acompanho todos os portais grandes. E eu trabalho com surf. Tenho uma empresa de tecnologia e trabalho para algumas marcas de surfwear grandes aqui no Brasil. Comecei a ver que havia esses fóruns e eu não via muito brasileiro participando, fazendo a defesa do Brasil. Tu acompanha bem de perto, né? Em todos esses fóruns o brasileiro é tachado de mal-educado, de “racinha” inferior, disso e daquilo. No Surfline, por exemplo, no ano passado ou retrasado teve aquela matéria de cobertura de uma etapa do Mundial que foi super preconceituosa, até tiraram do ar logo depois. Quer dizer, os caras dão espaço para esse tipo de coisa e publicam na capa de um Surfline. Aí eu digo: ‘Não! Vou começar a fazer um contraponto a esses caras. Estou aqui, estou online, estou lendo. Vou começar a escrever um pouquinho sobre o outro lado, fazer o contraponto contra esses gringos’. Aí criei o perfil e comecei a escrever, foi muito rápido. Comecei a escrever e os caras completamente se identificaram – negativamente (risos).

 

Você virou “o” inimigo dos caras que odeiam brasileiros.

É, cara. O pior é que é isso mesmo. É incrível. Os caras me citam do nada. Semana passada estava lendo o BeachGrit, do Chad Smith, e do nada vi uma galera falando do James B Eu nem participei da conversa e os caras já estavam falando de mim.

 

Eu li isso, um maluco criticou o Medina e na sequência alguém comentou “mal posso esperar pela resposta do James B” A galera já espera seu contraponto.

É isso, cara. No final do ano passado, a Stab fez um ranking dos comentaristas mais tops do seu site. E eu fiquei entre os quatro melhores. E teve uma matéria na Stab muito legal. Os caras me rastrearam para saber se eu era do Brasil! Acho que foram pelo IP. Tu acredita? A galera me esculhamba mesmo, pois eu sempre estou defendendo os brasileiros, e eles queriam saber se eu era mesmo brasileiro. Nem sabia que a Stab tinha esse negócio do ranking. Esse lance do ranking dos comentaristas vive atualizando. Estou em número 2 nesse momento.

 

Você já saiu quantas vezes no “Comments of the Week”?

Ah, várias vezes, mas nem sempre saio nos Comments, porque eles consideram mais o que é engraçado e tal. Mas vou te falar, já fiz muito comentário lá que teve repercussão fodida. Teve um comentário que fiz quando o Julian Wilson ganhou do Medina em Portugal, que foi o comentário com maior repercussão do ano na Stab.

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Você planeja seus posts, começa a pensar em sacadas legais ou sai tudo na hora?

Na hora, cara. Eu criei um blog, mas parei de atuali

zar porque me encheu o saco um pouco. Tinha muito trabalho na época. Mas o blog foi um negócio legal. Eu já estava com uma repercussão legal na Stab, na Surfing Life, na Tracks, e pensei em criar um blog para ter mais espaço, para escrever umas coisas autorais. Quando criei o blog, logo no segundo post teve cinco mil acessos. Avisei em um comentário na Stab, ‘Moçada, estou com um blog agora e coloquei um link’. Na segunda matéria teve logo quatro mil acessos. Eu falei, ‘Caralho, mermão, um post meu teve quatro mil acessos? Então estou fazendo barulho com esses caras.’ Mas é tudo na hora. Eu entro em algum site e vejo o que me interessa. Se acho que dá para escrever alguma coisa relevante, ou seja o que for, eu escrevo.

 

Mas porque você preferiu manter o anonimato?

Cara, vou ser sincero contigo. Não sei bem por que criei o James B (risos). Não faço ideia. Botei James. Fui criar um e-mail, botei James B, “B” de Brasil, entendeu? Meu sobrenome também tem B. Eu criei e usei uma caveirinha. Tem um pirata James alguma coisa. Coloquei no Google e achei uma imagem de caveira com as espadas e falei ‘vai ser esse pirata aqui’. Aí pegou. Um negócio meio pirata, meio underground. Aí pronto. Estou com esse avatar faz um ano e pouco. Só quem sabe que eu sou o James B é uma galera que foi comigo para Indonésia no ano passado. Eu estava no barco Star Koat e a gente estava conversando sobre surf competitivo. Um deles já sabia, tomou uma cerveja e falou na frente dos outros. Era só um amigo que sabia. Agora são seis. E com você, sete. Mas na verdade são todos amigos e eles realmente não falam para ninguém. Eles sabem que é uma história minha, que não quero que ninguém divulgue. E eles não comentam com ninguém, mas às vezes tem aquela coisa de ego, né? Às vezes eu adoraria contar pra galera… Muita gente sabe que existe o tal do James B, mas eu seguro o ego para tentar preservar essa história.

 

O que te dá mais prazer em comentar? Por que você continua escrevendo nos fóruns?

Eu realmente quero fazer o contraponto. O Brasil é o patinho feio lá fora. Tu vê o Medina, campeão mundial, na minha opinião absolutamente indiscutível, ganhando tudo, ganhando até o Pipe Masters (porque o Julian não ganhou aquele Pipe Masters…) e na mídia estrangeira foi praticamente ignorado – isso quando os caras não falam mal, criticam, ou colocam pra baixo. Então se deixar é aquela história: uma mentira contada centenas de vezes vira verdade, porque não tem ninguém para fazer esse contraponto. Podia haver mais brasileiros frequentemente fazendo esse tipo de coisa. Até que tem alguns, mas acho que não conseguiram criar uma credibilidade como eu criei para efetivamente ter repercussão.

 

O que você escreve é sempre a sua opinião, ou às vezes você afirma alguma coisa só para dar uma causada, porque sabe que vai gerar uma reação?

Escrevo minha opinião. Claro que, às vezes, ponho um pouco de malícia só para fazer raiva. Mas eu só escrevo minha opinião. Às vezes vejo uma matéria e comento alguma coisa e já tem nego respondendo na hora.

 

Como você lida com a galera que é agressiva com você?

Os caras me atacam, né? É internet, mermão, você tem que levar numa boa. Agora, não sei se você notou, mas eles me esculhambam pesado nesses fóruns. E eu não esculhambo ninguém de volta. Sou super educado. Jamais mando o cara se foder, não uso nenhum termo de baixo calão. Nada, nada. Eu jamais baixo o nível como os caras baixam. Desde que comecei, se você pegar todos os meus comentários até hoje, vai ver isso.

 

Acredita que isso aumentou a sua credibilidade?

Com certeza. Incluindo até os próprios sites. Na Stab, na Surfer, no Surfline, os caras sabem que eu critico, sou do contra, mas que faço de uma forma positiva. O cara pode até discordar, mas ninguém é ofendido. Porque é muito fácil baixar o nível sendo anônimo, é muito molejo, né? Difícil é você conseguir certa credibilidade sem ofender ninguém. E esse é o ponto: o cara tem que saber do que está falando. O cara tem que ter conhecimento, embasamento do que está escrevendo. É o que te falei: eu acompanho todos os portais grandes, leio bastante. Então, é saber do que está falando e escrever com propriedade. O cara não pode sair falando besteira. E tem que ter uma linha. Nesse universo online especializado em surf, eu consegui essa credibilidade. Tem uns caras que são relevantes também e no começo eram os que me ofendiam, me esculhambavam. E hoje em dia tem vários desses aí que falam bem, curtem. Até com alguns dos ‘haters’ eu ganhei essa moral, muito pelo fato de eu não ofender ninguém e manter minha linha. ‘O James B é um babaca, a gente discorda dele, mas é coerente também em sua história’, dizem. Tem que ter uma consistência. Você não pode ficar muito tempo sem participar. Eu parei com o blog e vários vieram me perguntar ‘cadê o blog?’. Então, o fato de eu frequentar constantemente os sites e comentar faz uma diferença, porque os caras acabam vendo. É como no Circuito Mundial. Conforme os caras vão vendo, vão se acostumando. Mas ainda me atacam direto (risos).

*Esta reportagem foi publicada na íntegra na HC 308, edição especial de viagem / julho de 2015! – confira os destaques da edição.

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