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quarta-feira, 24 abril, 2024
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Entrevista: Axel Lorentz (Pukas)

* Fotos: Ezequiel Gringo

O shaper da Pukas Surfboards, o francês Axel Lorentz, chegou pela primeira vez ao Brasil para shapear uma série de 60 pranchas na fábrica da SRS Surfboards de Florianópolis (SC).

Lá conversou sobre sua história na fabricação de pranchas, o trabalho com a marca no Brasil e as novas tecnologias que estão por vir. Confira na íntegra.

Como deu seus primeiros passos no surfe?

Eu cresci nos alpes da França. Durante a primeira parte da minha vida pratiquei ski e snowboard. Voltava todas as temporadas para esquiar, porém quando voltávamos para Costa Azul, no verão, eu não gostava de nada, sentia tudo muito triste e parado. No esporte a gente acabou fazendo amizade com uma galera que além de snowboard, gostava de surfar.

Nesse entorno de revistas de surfe, decidimos com meu amigo da infância, Jerome, em vez de ficar no Sudeste do país, carregar uma barraca na moto, pegar umas pranchas e ir surfar no país basco. Tinha uns 20 anos, nunca tinha visto o mar e terminamos no país basco. Gostei tanto de lá que hoje é onde considero meu lugar.

Como começou a fazer pranchas?

Para aproveitar o dia fazendo snowboard, trabalhava de noite fazendo pequenas esculturas de tablas de surf e snowboard. Pensei que podia ir no País Basco para produzir essas esculturas utilizando a sobras dos materiais usados na fabricação de pranchas.

Fiz minhas primeiras mini-pranchas numa oficina, comprava resina e aproveitava o refugo de materiais e recortes de blocos. Assim pensei em montar uma empresa. O governo me ofereceu um subsídio para capacitação durante seis meses e tinha 200 horas para aprender a fabricar e organizar minha empresa. Por contrato tinha um ano para abrir a empresa ou caso contrário deveria devolver para o Estado o dinheiro investido na minha formação.

O shaper na fábrica em Florianópolis. Foto: Ezequiel Gringo
O shaper na fábrica da SRS Surfboards, em Florianópolis. Foto: Ezequiel Gringo

Como foi se aproximando do cenário do surfe?

O País Basco é muito independente da própria França ou Espanha e quando cheguei era visto como alguém de fora. No começo o mercado era muito fechado. Tive que fazer várias provas para demonstrar meu trabalho. No início fazia pranchas, fazia concertos e fazia também shapes de skate. Assim abri minha oficina em 1997 e no 2001 tudo começou a decolar.

Numa exposição em Paris conheci o shaper australiano Chris Garrett, com quem formamos uma parceria de trabalho, shapeando para a mesma marca.

Ele me ensinou muitos dos segredos e, principalmente, me ensinou a encontrar a alma de cada prancha. Eu fui ganhando renome, na época em que os shapers de fora vinham para shapear na Europa, eu ficava três meses na Austrália shapeando. Foi assim durante três anos.

Com Garrett mudou todo meu conceito de como fazer a prancha funcionar. Ele falava que o mais importante da prancha eram as curvas e não os números.

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Foto: Ezequiel Gringo


Como você entrou na Pukas?

Tive minha fábrica até 2009, mas decidi que era melhor ter mais tempo para fabricar e entrar em contato com os clientes. Através de um amigo que vendia materiais para a Pukas da França recebi um convite. O Peter Daniels precisava de um back-shaper e me convidaram para trabalhar lá. Recusei duas vezes, mas depois decidi aceitar com a condição de manter meu nome como shaper nos modelos da marca.

O quiver da Pukas foi preparado exclusivamente para Pukas. Me formei durante três anos na programação dos shapes em modelos de usinagem 3D.

Meu modelo mais famoso é o Sixtyniner. Uma retro com um toque performance. Parece uma single dos ´70. Na Europa é a prancha que mais se vende. Ela tem um estilo visual e se adapta a todos os tipos de ondas e de níveis de surf. Minha ideia é que os modelos sejam bons e continuem no tempo. Somente ano passado fabricamos mais de 500 pranchas Sixtyniner.

Como surgiu a ideia de trabalhar no Brasil?

Temos uma excelente relação com os atletas de performance e surfistas brasileiros. Com a Pukas o Brasil conquistou o primeiro título mundial de surf com Gabriel Medina, entanto Adriano de Souza também já competiu com nossas pranchas.

Comecei a trabalhar em nível mais internacional. Houve uma proposta de fazer Pukas na Indonésia para atender a demanda de europeus em trips. A recepção foi muito boa. Agora também recebemos o convite para shapear no Japão.

Assim também surgiu a proposta de vir shapear no Brasil. Primeiro é uma experiência. Já que no Brasil não tem como exportar as pranchas por uma questão de custos, a única maneira é fabricar as pranchas aqui. Começaremos com uma pequena produção para ver a resposta.

Qual é a primeira impressão sobre os modelos que podem funcionar bem nas ondas brasileiras?

Para mim o meu trabalho é ajudar as pessoas a surfar melhor. Quero oferecer soluções. Temos pranchas para diversos tipos de ondas e certos tipos de condições. Modelos como a Tasty são pranchas muito versáteis que trabalham muito bem em beach breaks.

Que atletas fazem parte do team Pukas – Axel Lorentz?

Faço as pranchas dos atletas bascos Aritz Aramburu (QS) e Natxo Gonzalez (QS e Big Wave Tour), o grom Luis Diaz, além do free surfer profissional Kepa Acero, e o big rider “Twig” Baker, entre outros. No Brasil, a Pukas está representada pelo atleta catarinense pro junior Mateus Herdy.

Kepa é um dos atletas que mais gosto de trabalhar porque entende muito de pranchas e faz coisas diferentes, não somente pranchas performance.

Qual é sua opinião referente ao desempenho e desenvolvimento de pranchas de EPOXI?

O EPOXI é muito complicado de trabalhar porque é sujeito a diversas condições. Até agora todos os atletas preferem o poliuretano normal. Somente em pranchas muito grosas em tamanhos grandes, onde PU acaba pesando muito, prefiro o uso de EPOXI.

Não acho lógico que uma tecnologia que já tem 60 anos não tenha encontrado algo que a possa superar. Acho que tem algo a encontrar e descobrir porque pouco tem sido estudado com o flex. Há alguns anos trabalhamos com uma escola de engenheiros que testaram a flexibilidade de vários blocos de pranchas de diversas marcas para saber o grau de resposta de cada uma. Estudamos e temos os dados para projetar pranchas com tranças de carbono para reproduzir o flex do PU. O interessante é começar a saber o que é possível fazer e aprofundar na capacidade de torção do material. O interessante é ter o estudo com dados e não somente o marketing de dizer que algo é melhor.

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