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“Barba, Careca e Bigode” – ComentaCako no #HCOLLAB

1. É O MELHOR!

Kelly Slater não vencia um campeonato da elite desde dezembro de 2013, quando faturou o Pipe Masters naquela tão esperada final contra seu pupilo John John Florence. Na ocasião, ele também deu show durante todo o campeonato, inclusive tirando nota 10 nas semis e um 9.87 na final.

Kelly Slater é assim: ele fica um tempo meio apagado, resmungando de uma coisa e outra, lançando um livro, um filme, uma piscina de ondas. E, quando as pessoas já dão sua carreira competitiva por encerrada, ele volta e ganha de maneira incontestável.

Em Teahupoo, ele não apenas alcançou seu 55º título nessas ondas, no auge de seus 44 anos. Ele tirou quatro notas 10, sendo duas numa bateria perfeita (a 3ª de sua carreira); anotou mais de nove notas acima de 9; deixou o mesmo João João em combinação na decisão e ainda foi condecorado com o prêmio Andy Irons de Surfista Mais Comprometido.

As performances de Kelly, que só foi batido pelo gigante Bruno Santos no Round 4, foram incontestáveis. Há quem diga que houve alguns exageros, inclusive ele mesmo achou seu segundo 10 na Bateria Perfeita um pouco overscored, mas nada capaz de tirar o brilho dessa vitória e a inspiração de ver um jovem de mais de 40 anos destruindo em ondas perfeitas, frente a caras com menos da metade de sua idade e que nasceram assistindo ele ser campeão!

2. JJF X GM E A MELHOR BATERIA DA WSL

A bateria das semifinais entre os dois melhores surfistas da atualidade (nenhuma discussão acerca disso, certo?), o brasileiro Gabriel Medina e o havaiano John John Florence foi talvez a melhor desde que a ASP foi comprada e virou WSL, oficialmente em janeiro de 2015. Alguns vão dizer que Taj Burrow x John John, em Fiji, foi melhor, mas a mesma não teve tantas notas altas e viradas, muito menos o comprometimento de ambos com a vitória, o que foi o combustível para o resultado final: 19.66 x 19.23.

Resultados à parte, o fato é que a decisão final dos juízes foi bastante polêmica. Já vi e revi algumas vezes as duas melhores ondas de cada um e continuo achando que a vitória foi do Gabriel. E com vantagem de pelo menos 0.5 ponto. É foda, mas tinha muita coisa em jogo ali, além de uma simples virada no final.

Os caras não iriam deixar o primeiro brasileiro campeão do mundo levar o maior duelo da história da WSL até agora. Não poderiam permitir outra final entre Gabriel e Kelly em Teahupoo, com João terminando em terceiro. Muito menos, dar mais pontos para Gabriel, deixando menos margem para a subjetividade e menos vantagem para Florence na briga pelo caneco da temporada. E digo mais, Medina era o único que talvez fosse capaz de parar Slater. Ou melhor, Gabriel é o único capaz de derrotar o Careca em condições como aquela. John Jonh não fez nem cosquinhas (ele entrou na água, na final?).

A WSL não iria deixar nada disso! Não dessa vez! Não mais uma vez!

Gabriel Medina perdeu para John John em uma bateria cujo resultado muitos acharam duvidoso. E você, leitor, que achou? Foto: WSL
Gabriel Medina perdeu para John John em uma bateria cujo resultado muitos acharam duvidoso. E você, leitor, que achou? Foto: WSL

3. WSL X UFC

Eu já escrevi a respeito disso e pode ser paranoia minha, mas nos dias de hoje, onde “Money Talks” e “There is no Business like Show Business”, ligas como o UFC e a WSL precisam “criar” ídolos. Ter apenas um cara/nação ganhando tudo não é bom para ninguém. Fica chato.

Não tem nada melhor que criar uma historinha, com personagens como o “Melhor do Mundo”, o “Careca que Sempre Volta e Ganha de Todo Mundo”, o “Havaiano Aloha que Surfa Melhor que Geral” ou o “Batalhador que Tanto Espera que Alcança”.

Se Gabriel Medina levar mais uma vez esse ano, o tempo de John John vai passar e é bem capaz que ele desista de ser campeão mundial. Se isso acontece, quem seria o próximo “personagem” havaiano? Na Austrália, são poucos os candidatos. Julian Wilson já tem 28 anos e vem bem mal, apesar do 3º lugar no Taiti (com direito a nota 10 na bateria em que foi eliminado). Matt Wilkinson perdeu sua lycra amarela (ufa! ficou muito tempo com ela!!) e, apesar da vice-liderança no ranking, dificilmente consegue manter o drive e brigar até o fim.

Não tem mais ninguém para brigar e criar essa rivalidade que já vimos entre Mark Richards e Cheyne Horan, Occy e Curren, Kelly e Andy… Isso é imprescindível em um esporte e mais ainda em uma Liga que precisa conquistar novos fâs. O campeonato inteiro foi assim, com grandes nomes ganhando mais notas que os “pequenos”. Virou UFC… Agora, quem ganha (ou quem deve ganhar), os que vendem mais.

Enfim, é preciso criar um “conto de fadas” e essa história não é feita apenas com um herói ou um vilão.

John John Florence winning Heat 1 of Round Four at the Billabong Pro Tahiti.
Há quem diga que John tenha “ganhado mais pontos” pelo backside. Talento, todo mundo aqui sabe que transborda do havaiano – a ver na foto, John é cirúrgico e plástico como poucos. Foto: WSL

4. Frontside x Backside E OS CRITÉRIOS DE JULGAMENTO

Muitas dessas polêmicas de notas, citadas no tópico 2, aconteceram devido a pequenos detalhes, com base na qualidade e dificuldade de cada tubo. Um 10, um 9.73, um 9.5 ou um 9.23 em uma onda como a de Teahupoo são notas muito parecidas e que dificilmente podem ser friamente explicadas. Aonde você tira 0.5 e não 0.8? Por quê?

Teve gente falando que o tubo, pequeno e raso, do John Jonh, que lhe rendeu 9.73 na bateria contra o Medina foi muito melhor porque ele dropou de cabeça para baixo, já lá dentro. Ora, qualquer top-34 sabe entubar com a mão na borda e atrasado. Aliás, se ele não fizer isso, ele não fica deep e não ganha a nota. Reveja essa onda e repare como ela foi muito menor que o 10 do Gabriel. Como o Gabriel entra bem antes e passeia muito mais tempo lá dentro. Como é a baforada (na do João, nem tem).

Não existe dizer que dropar de backside é mais difícil ou que de frontside é mais fácil. Difícil é andar lá dentro, é encontrar a linha certa, é aproveitar o máximo do tubo. Se não usar as mãos, como alguns já são capazes, melhor ainda. Mas se precisar, tudo bem, desde que consiga apresentar os três critérios acima.

Bruninho, nosso tuberider, campeão do evento em 2008, foi o único a fazer frente para Slater. Foto: WSL
Bruninho, nosso tuberider, campeão do evento em 2008, foi o único a fazer frente para Slater. Foto: WSL

5. BRUNO SANTOS É SINISTRO

Para encerrar esse post, não poderia deixar de falar do ídolo Bruno Santos, vencedor dessa etapa em 2008, e que, mesmo sem fazer parte da elite, mostrou mais uma vez que Teahupoo é sua casa e que ali, poucos sabem mais que ele.

Começou vencendo a triagem e foi até as quartas de final, perdendo apenas para o campeão, em uma bateria bastante disputada. Vale lembrar que antes ele venceu o Careca no Round 4 de maneira arrasadora (foi o único capaz da façanha) e pegando ondas que só não lhe valeram 10, porque ele não se chama Kelly, John, Medina ou Julian. Só para se ter uma ideia da diferença de nível, o outro wildcard, o local Hira Teriinatoofa, não passou do Round 2.

Bônus 1: Esqueci de comentar mais uma façanha do Bruninho. Ele eliminou o então líder do ranking Matt Wilkinson no Round 3 e, finalmente, tirou aquela camisa amarela do australiano. Já estava me dando nervoso! Tchau, Wilko! Top 10 está de ótimo tamanho para o seu surfe.

Bônus 2: Para não dizer que só falei de nomes de peso e me colocar no mesmo degrau da WSL, contemplando apenas eles, esse bônus é dedicado ao Jadson Andre. A bateria dele no Round 5, contra o Josh Kerr e o John Florence (que diga-se de passagem marcou 2.96 em 20 possíveis) foi outro absurdo. O brasileiro pegou duas ondas melhores que as de Kerzy, inclusive na 1ª acertou um lindo aéreo rodando na parte mais rasa da bancada, e foi extremamente mal julgado. Até os comentaristas gringos ficaram constrangidos ao anunciar as notas. Jadson é um que parece não interessar mesmo à WSL, mesmo estando na elite há 7 temporadas.

Bônus 3: João assumiu a ponta, com 39.900. Wilko vem atrás com 36.000 e Gabriel no cangote com 35.700. Faltam quatro etapas e a briga entre o brasileiro e o havaiano vai pegar fogo! A ver!

Mais uma vez, agradeço a galera que me apoia e que me segue lá no Facebook. Para quem ainda não segue, clica aí em vai lá! Obrigado, Brownie do Luiz, Cerveja Praya e Respeite um Carro a Menos. Estamos e continuamos juntos!
comentacako

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