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Uma vida dos sonhos

 

Por Steven Allain

Aos 30 anos de idade, o economista Bruno Pesca tem a vida que muita gente sonhou: largou a rotina de terno e gravata trabalhando em grandes bancos para viajar o mundo atrás de ondas. E o melhor de tudo é que ele ganha pra isso. Conheça a trajetória do surfista que estrela duas séries na TV a cabo: "A vida que eu queria", no Canal Off, e "Não conta lá em casa", no Multishow.

Como surgiu a ideia do programa “A Vida Que Eu Queria”?
O programa é sobre um cara que chuta o balde, que está cansado daquela vida de escritório, daquela vida de bater ponto. Um cara que era surfista desde garoto e resolve ir atrás dos grandes amigos, que, por acaso, viraram grandes astros do surf nacional. A ideia é cutucar a galera que está meio em cima do muro, que acha que deu um rumo errado pra vida, mas ao mesmo tempo eu não gosto de ser dogmático e nem de fazer aquele discurso que neguinho da indústria do surf adora fazer, de que ser corajoso é você largar o emprego e viver na praia. Eu não acho isso legal. Tem muito surfista bom no mercado financeiro, no mercado publicitário… caras que se amarram no desafio e que gostam de trabalhar. Então não tem essa de falar que maneiro é chutar o balde e ficar o dia inteiro na praia. No programa a gente toma bastante cuidado para não passar isso, porque é exatamente o contrário. Acho que a ideia é mostrar que, como surfista, você tem habilidades que podem te levar a vida profissional e, depois, para algumas pessoas, como foi o meu caso, você acaba retomando às origens. O programa tem convidados, como o Trekinho, que é meu amigo desde os 14 anos. Fui com ele pra Índia, ficou bom e a gente o chamou para a segunda temporada.

Como foi esse reencontro com Treko?
Eu tinha perdido o contato com ele. Perdido não, mas eu o acompanhava pela HARDCORE, e, às vezes, o encontrava na rua: “E aí, como é que você tá?”. E ele mandava: “Ah, acabei de voltar da perna europeia, e você?”. E eu: “Acabei de voltar de uma reunião em São Paulo…”. A gente caía em todos os Pontões [do Leblon], mas ele parou de competir, estava buscando outra coisa pra fazer, tomar um rumo, e aí coincidiu.

Como era sua rotina antes de tomar esse novo rumo na vida?
Eu sou economista formado pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), já fui analista macroeconômico, especialista em China, escrevia boletins macroeconômicos da economia chinesa, fui broker durante três anos de ações, mercado de futuros da BMF. Também trabalhei em um banco de investimentos, fiquei quatro ou cinco anos no mercado financeiro… Resumindo, sou economista. Mas era um esquema muito ingrato. Às cinco horas da manhã eu acordava e ia pro banco, ia aos domingos às vezes.

E o que fez você largar tudo isso para viajar e fazer um programa de TV?
Um dia um cara chegou pra mim e falou: “Mermão, fica tranquilo que tu vai piscar o olho e vai ter 10 anos de banco”. Eu falei: “O quê? Acha que eu quero piscar o olho e estar com 35 anos? Não quero piscar o olho e ter passado 10 anos da minha vida!”. Quando o cara falou isso, bateu de um jeito. Eu sempre ficava vendo o site Surfline, três telas abertas e sempre uma lá no surf pra ver o que estava acontecendo, pensando: “Porra, a essa hora o Trekinho tá lá no Tahiti; a essa hora o Trekinho tá na África; a essa hora não sei quem está em Bali”.

Como aconteceu a ponte entre ser economista e migrar pra TV?
Eu nunca pensei em trabalhar na TV, nunca foi minha ambição. Não estudei Economia pra trabalhar na TV. Em 2005 teve aquele tsunami na Ásia e eu estava com uma viagem de férias já marcada com uns amigos. A gente ia pra Bali e teve o tsunami. Então a gente pensou em fazer um documentário, que foi o “Indo.Doc”, que passou no Canal Brasil, SporTV e GNT. Ficamos lá dois meses filmando e mais um ano editando. Isso foi durante as minhas férias. Saí, voltei pra corretora e, em 2008, fui demitido. Aí peguei meu bonde e falei: “Vou ficar 10 anos em Bali”. Depois de seis meses eu já não aguentava mais ficar lá. Retomei o contato com meus amigos que tinham feito o documentário e entramos numa de que tinha de ser uma série de TV. Foi quando surgiu a ideia. Depois de tomar muitas portas na cara, recebi uma ligação do Multishow dizendo que queriam o projeto. Aí começamos a série “Não Conta Lá Em Casa”, que já está no ar há três anos e continua neste ano. A gente basicamente vai a países em conflito ou que sofreram desastres naturais muito grandes, como o Haiti depois do terremoto e o Japão depois do tsunami. Quando me vi viajando para todos esses lugares, com as passagens pagas pelo canal, vi que podia esticar para pegar onda. “Ah, estou na Ásia, vou pra onde?”. E ia pra Indonésia, África do Sul. Estou há três anos nesse esquema. No ano passado eu vi que podia fazer outro programa, um programa de surf. A ideia ganhou força e fui filmar na Índia, Micronésia…

Então me conta um pouco como foi na Índia, que é um destino inusitado no surf, e dessa trip para P-Pass, na Micronésia, que publicamos na edição passada.
Pô, a Índia ficou na minha cabeça desde a primeira vez que eu vi o Castles In The Sky, aquele filme do Taylor Steele. Eu assisti no cinema e gostei da sessão do Rasta na Índia. Aquilo ficou lindo no telão, a coisa mais bonita que eu já tinha visto na vida. Fiquei com a ideia de que eu ia pegar aquela onda de qualquer jeito. Passaram-se alguns meses e a gente foi gravar o “Não Conta Lá Em Casa” no Paquistão. Pra chegar até lá eu tive que ir pra Índia. Aí deu o estalo. Liguei pro Trekinho, comecei a mandar fotos e ele se empolgou. A gente foi sem saber o que ia rolar… Acabou dando tudo certo e a gente pegou um swell animal. A onda é pesada, bem difícil. O Rasta pegou uma condição bem diferente. A gente pegou a onda mais pesada e rasa. Acabei batendo as costas na pedra no primeiro dia, e isso me debilitou bastante no surf. Mas faz parte.

A entrevista com Bruno Pesca continua na HC de março.

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