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sexta-feira, 29 março, 2024
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05. Danilo Couto, o homem XXL

Danilo Couto, o homem que elevou o big surf a um patamar inédito. Ao surfar Jaws com 50 pés de onda na remada, Danilo e seu amigo Márcio Freire abriram um precedente inédito na história do esporte. A direita surfada por Danilo no vídeo acima foi uma das ondas mais repercutidas no ano e lhe rendeu o mais prestigioso prêmio de ondas grandes do planeta, o Billabong XXL Ride Of The Year, junto com um cheque de 50 mil doletas. A HARDCORE falou com Danilo sobre a conquista, na entrevista que você confere abaixo.

Você falou que a sua mãe está se sentindo a mãe da Gisele Bündchen. Como é que tem sido a repercussão? Tá a IstoÉ, a Globo, o Fantástico te ligando. Você já tinha experimentado alguma coisa assim?
Danilo Couto: Não, com certeza não, cara. A gente está acostumado a lidar com a mídia, dar entrevista e coisa e tal, mas num padrão muito menor. Essa vitória eu acho que tem um pouco disso. A notícia hoje se espalha muito rápido, de uma maneira radical, então se espalhou e foi uma coisa enorme. Eu tô aí, trabalhando forte e sempre pensando no lado positivo da vitória, não só pra mim, mas para a divulgação do esporte em si.

Em que momento você soube que ia ganhar? Você já sabia antes ou até a hora de subir no palco não tinha 100% de certeza? Cara, depois que eu acabei a onda, quando comemorei no canal, já sabia. É lógico que a ansiedade, o suspense, ficou no ar, ficou muito no bafafá, fala de lá, fala de cá, mas ali eu saí do mar sabendo que eu tinha pegado a onda de 50 mil e foi a primeira coisa que eu ouvi. Quando acabei a onda, um amigo meu baiano, o Juan, que mora lá e dá aula de muay-thai para a galera local, veio me falar que aquela era a onda de 50 mil, que eu tinha ganhado.

Você já perdeu um XXL de forma contestada. Neste ano não tinha como escapar…
Rapaz, o Shane Dorian foi lá no swell seguinte, pegou aquela bomba, botou pra dentro e não saiu. Se ele saísse, com certeza ele ia ganhar de mim. Mas quando eu peguei a onda, saí com o feeling de que tinha ganho. Eu passei dois meses tendo flashbacks na minha cabeça do momento da entrega e eu trabalhei meu discurso na minha cabeça por dois meses sem botar no papel. Eu tava esperando onda no mar, vinha. Eu tava em casa, vinha. Eu deitava na cama, olhava pro teto, vinha de volta esse momento do discurso. Eu fui trabalhando, trabalhando, até que cheguei no que eu queria falar, não esqueci de nada e acho que isso aí já era um sinal pra mim. E todo mundo vinha me falar, galera lá fora, lá no Hawaii. O impacto da onda na comunidade do big surf no Hawaii foi muito forte, cara. Comecei a ouvir do próprio Shane Dorian, do próprio Greg Long, os caras mandavam mensagem de texto toda hora. “Mermão, não paro de olhar sua onda, bro, caralho!”. Todo mundo no Hawaii, os gringos todos. Porra, então quando você começa a ter esse feedback dos gringos, da galera toda, você via que não tinha para onde correr.

A gente até falou na HARDCORE que foi um pioneirismo histórico, foi uma barreira quebrada. Obviamente você foi o líder desse movimento de remar em Jaws, remar em um novo patamar. Aonde você acha que o surf vai agora? Seria surfar Cortes Bank grande na remada?
Surfar Cortes na remada é realmente uma das coisas que já está acontecendo. É claro que as pessoas vão em dias menores para conhecer o lugar. Já foi surfado em duas ocasiões em dias menores. Em dias gigantes, o que vai ditar é a condição do mar. Tem dias que dá para você remar em mares gigantes se o mar tiver liso e as condições estiverem boas. Com certeza ainda tem muita coisa para ser feita, muitos lugares para explorar, muitos tubos gigantes para se pegar. Se novas conquistas forem feitas, o surf de onda grande tem muito espaço na mídia aberta, o público leigo gosta de ver uma coisa grandiosa, então que a indústria veja que o retorno não é só para os atletas de onda grande nem só para as marcas, mas que isso atrai muito espaço pro esporte em geral.

Todo mundo fala da onda de 100 pés e tal. Você acha que existe um limite de surfável?
Lógico que tem um limite. Eu acho que a gente não é capacitado a conquistar tudo que a natureza tem pra nos mostrar, não. As pessoas perguntam “Você não tem medo?”. Sempre é a mesma pergunta, mas o importante não é o medo. O medo não ajuda em nada, eu acho que você tem que estar em sintonia com a natureza, sintonia com o mar, e ver até aonde você pode chegar e sentir isso, ouvir a sua voz interior. Você vai saber qual o seu limite, se existe um limite, se aquele dia é o dia ou não é. O mar se comunica com você. Você tem que estar aberto, tem que se conectar pra receber esse recado e ter essa comunicação espiritual com o mar. Você não vai ter problema nenhum em interagir com ele. Agora, pra você conseguir ter essa comunicação é uma coisa bem delicada. A onda de 100 pés com certeza vai ser de tow in. Eu posso lhe garantir. Espero que daqui algum tempo as novas gerações nos mostrem que é possível fazer diferente, mas 100 pés remando eu acho muito difícil.


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