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quinta-feira, 25 abril, 2024
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DIÁRIO HABAIANO 5

Por Julio Adler / Fotos Kirstin ASP

Os dias são curtos nessa época no North Shore.
Amanhece tarde, depois das 6, e anoitece antes das 7, já está um breu.
Chove, venta, faz sol, calor, friozinho, fica sem vento – tudo no mesmo dia.
Ficar na frente da praia tem vantagens e desvantagens… A principal vantagem você adivinhou, cair no mar quando der na telha (e Netuno permitir), a desvantagem maior é tentar trabalhar olhando pro mar com altas ondas – tarefa impossível.
Como concentrar numa idéia quando você tem ondas espetaculares esbofeteando sua cara com perfeição insinuante?
E as ondas não são a única distração no North Shore.
Cada pôr do sol é um espetáculo digno de cobrar ingresso.
Mike, dono da casa que a Hardcore alugou esse ano no Havaí, tem um hábito muito saudável. Todo final de tarde, ele senta-se com sua namorada na frente do mar, acompanhados duma garrafa de vinho branco ou champanhe e ficam os dois admirando o sol ir embora, atrás de Puena Point. Nós aqui na casa ficamos encantados com a cena que se repete todos dias pontualmente, um casal de cima dos seus 70 anos nos ensinando que as melhores coisas da vida são de graça – fora o vinho…



Carissa surfa melhor do que você – e eu

No capítulo anterior do diário prometi contar como foi a bateria da Carissa Moore e Sunny Garcia, cumpro o prometido agora.
A bateria tinha o drama duma final, eram afinal de contas o maior vencedor da história do Triple Crown contra a menina de (mais de) um milhão de dólares.
Sim, havia ainda dois camaradas na bateria, mas isso não teria a menor importância, mesmo que Carissa ganhasse.
Quem se preocupa com Alan Riou e Mitch Coleborn (um dos meus goofies prediletos atualmente)? Apenas o saite da revista Stab…
Sem brincadeira, Carissa deixa muito marmanjo pra trás em Sunset – e olha que Sunset nunca foi, digamos, uma onda muito feminina.
Sunny passou a bateria reagindo no finalzinho, adicionando certo drama à disputa, mas Carissa em duas ondas assustou os machos.
Uma das rasgadas da campeã mundial de 2011 foi mais potente do que a de muito malandro que já fez parte dos Top 44.
Dane Reynolds fez sua volta de fato às competições, declarando inclusive que gosta da pressão de ter que desempenhar diante do público.
No terceiro dia do melhor campeonato que lembro em Sunset desde 1998, quando Cristiano Spirro chegou até a final com Shane Dorian, Munga Barry e Kelly Slater, o grande destaque, e por que não, a grande surpresa?, foi o ataque selvagem do Dane Reynolds nas massarocas – e com uma prancha que nunca tinha usado antes!
Uma das questões mais misteriosas hoje que paira no ar do surfe profissional é se Dane continua ou não no circuito. A ASP precisa de gente assim, meio desinteressada, meio bomba relógio. A verdade é que pouca gente, muito pouca, empolga tanto em cima duma prancha como Dane. Estimo que ele permaneça no Tour.

João

Para nós brasileiros, esse evento era a última chance do Willian, Jesse e Camarão meter o pé na porta e entrar nos 32 e Mineiro, candidato ao título do Triple Crown.
Na terceira fase, foram caindo um a um, sem dó nem piedade.
Já nem sei se ficamos mais nervosos aqui fora torcendo ou se os camaradas que lá estavam sentiram mais.
Esse é um momento triste da temporada. Patrocinadores e admiradores não fazem idéia da dor que é perceber que o ano chegou ao fim e tudo começará novamente em janeiro.
Todos sacrifícios, alegrias e questionamentos eternizam-se.
Não é qualquer um que aguenta.
Olhando de longe e pelo lado romântico da coisa, não se nota que esses sujeitos estão ali investindo os melhores anos das suas vidas ao jogo que nunca termina.
Vejam Kelly e seus inacreditáveis 11 títulos, aquilo não tem fim, é obsessivo e viciante.
Vejam Taj, a imagem da melancolia…
E vejam John Florence, o novo rei havaiano na dinastia dos soberanos por todo North Shore.
Florence vai ganhar a Triple Crown, digo isso desde já e assumo o risco do escárnio caso esteja errado. Mas nada indica que alguém é capaz de deter esse moleque de dominar completamente o surfe na casa dele.
No último dia do Vans World Cup of surfing, John, ou João, surfou Sunset como se fosse Velzyland (nota: surfamos com J.F. em Velzy dois dias antes e 6 pés a menos, nada mudou no seu comportamento).
Em 2011, J.F. já ganhou o Volcom Pro em Pipe, o Backdoor Shootout e agora vence seu primeiro Prime em Sunset, liderando a corrida pelo Triple Crown, bastante coisa prum rapaz que mal completou 19 anos e já está competindo com os Top 32.
Como Medina, Alejo e Pupo, Florence estabelece a nova ordem do surfe.

Raoni

Ano passado Raoni foi o segundo brasileiro a vencer um evento da ASP aqui no North Shore. As ondas estavam pequenas e sem o fator medo que tanto enobrece a causa quando tratamos de Sunset, Pipe ou Haleiwa.
Aquilo é passado, estamos em 2011, Raoni foi mais uma vez o melhor brasileiro em Sunset, acostumem-se com isso porque não há surfista brasileiro que ataque essa onda como o Monstrinho de Saquarema – talvez exceto pelo Alejo, que vem construindo uma bela relação com Sunset.
Esse não é o tipo da onda para surfar verticalmente ou com manobras de fundo, Sunset é uma onda pra quem gosta, e sabe, usar a borda – e Raoni é doutor nisso.

Raoni ganhou do Freddy P., C.J., Dane Reynolds e mais meia dúzia de havaianos até perder numa semifinal fantástica. O importante no Havaí nem sempre é ganhar ou perder mas desempenhar na hora certa. Raoni fez pontos suficientes para passar pela primeira semifinal, não fosse pela melhor bateria que John F. fez em todo evento e por Hank Gaskell.
Eu dizia que o mais importante não é a vitória e já conserto, o importante é partir pra cima das muralhas d’água como se murinhos fossem e isso Raoni fez bonito.
Adam Melling merece menção por ter lutado até o final pela primeira colocação e surfado com abandono no inside de Sunset.

E o Eddie foi…

Na tarde do dia primeiro de dezembro, a Hardcore foi até a cerimônia de abertura do Eddie Aikau. Uma das grandes, senão a única, oportunidades de ver todos grandes surfistas de onda grande reunidos, sorrindo pra fotos, colar de flores e o escambau.
Há também um grande buffet de comida tradicional havaiana, cerveja Primo e um clima de festa da comunidade que sempre parece prestes a encher de porrada um branquelo curioso que se mete a besta de lá estar.
Um senhor que beira seus 65 anos, 50 deles de Havaí, diz que aguenta no máximo 10 minutos da solenidade.
Quando eles fazem a rodinha e começam a falar em havaiano você sabe que é a hora de ir embora, diz o coroa que prefere não ser identificado.
De fato fomos embora, desta vez na companhia agradável dos portugueses, para casa dum lorde inglês que vive boa parte do seu ano numa casa debruçada em Waimea.
Com um ar de profundo enfado, o nobre nos recebeu muito bem, oferecendo prontamente álcool para resistir ao monumental esforço de ficar quase duas horas em pé equilibrando-se sem uma gun 10’6’ em Waimea.

Targão

Otávio Pacheco estava na praia.
Pra quem estranhou o nome, Otavio foi junto do Bocão, Maraca, Pepe, Proença e outros um dos pioneiros do surfe brasileiro no North Shore.
Otávio não apenas conheceu Eddie Aikau como conviveu e viajou um bocado com o mito. Eddie, aliás, era muito amigo dos brasileiros, que assim como ele, tinham pele mais escura do que o resto dos branquelos do Tour da IPS.
Clyde Aikau, irmão mais novo do Eddie e campeão do evento em 1986, convidou Otávio, Targão pros íntimos, para a rodinha dos big riders.
Que moral do cara. Que moral…

Previsão, previsão, previsão…

Pipe Masters começa no dia 8 e as previsões são de mais de 10 pés de onda com a direção certa pra dar Pipe e Backdoor.
Existe a firme possibilidade do evento acontecer todo duma vez só, como em Peniche. Preparem-se, o maior espetáculo da terra (pelo menos pra nós, né?) vai começar.

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